Alvo de polêmica em Higienópolis, na região central de São Paulo, devido à localização da futura Estação Angélica, a Linha 6-Laranja do Metrô é há muito tempo esperada por moradores de outros pontos da cidade. Enquanto no bairro nobre a associação de moradores fez um abaixo-assinado para que a estação fosse retirada da Avenida Angélica, em um dos extremos da linha, na Vila Brasilândia, Zona Norte, os moradores não conseguem entender quem não quer uma estação perto de casa.
O auxiliar administrativo e estudante Clayton Jeferson, de 19 anos, mora na Brasilândia e vai para a região da Liberdade – onde haverá uma parada da linha – todos os dias. A estação de Metrô mais próxima de sua casa fica a uma hora de trajeto de ônibus. “Vai mudar muito, vai facilitar o acesso para todos. Para a Liberdade vai ser direto. Aqui já está valorizando, tendo mais lojas. Com o Metrô o bairro vai melhorar ainda mais”, afirmou ele.
Nesta quarta-feira (11), o Metrô de São Paulo informou que a Estação Angélica, que seria localizada na avenida de mesmo nome, iria mudar de local para melhorar o “equilíbrio da linha”. A companhia ressaltou a proximidade da Estação Angélica com as estações Higienópolis-Mackenzie e PUC-Cardoso de Almeida, de acordo com o projeto atual.
A proximidade da Estação Angélica com outras duas estações da Linha 6-Laranja é um dos motivos alegados pela Associação Defenda Higienópolis, formada por moradores do bairro que não concordam com a implantação da estação na Avenida Angélica, principal via do bairro. Argumento que os moradores da Brasilândia não conseguem entender. “Não faz sentido nenhum não querer ter estação por perto. Quem não quer Metrô? Facilita para todo mundo”, disse o estudante Clayton Jeferson.
No bairro, entretanto, a descrença de que o Metrô realmente será construído ainda é muito forte. “Tem 20 anos que moro aqui e falam que vai ter e, por enquanto, nada. Seria mais rápido para nós, os ônibus estão todos lotados. Mas se ele sair antes de eu morrer é milagre”, brincou a vendedora Sirlania Siqueira, de 42 anos.
O operador de máquina Márcio Aparecido Toledo, de 40 anos, mora bem perto da área onde deve ser construída a estação Brasilândia e está animado. “Minha casa não deve ser desapropriada, mas mesmo se for não tem problema. Tem indenização, e a vantagem de ter o metrô na região é bem maior. Mas acho que ainda vai demorar mais de dez anos”, afirmou. “Não entendo porque não querem Metrô perto. É útil, ter transporte na porta de casa é ótimo.”
Freguesia do Ó
Entre quem vive na Zona Norte há aqueles que conseguem entender a posição dos moradores de Higienópolis. “É um bairro de classe média alta, o pessoal não depende muito do transporte público. Aqui é periferia, é uma área que está evoluindo nos últimos anos. Mas nos horários de pico os ônibus estão todos lotados. Eu não sei se vou conseguir aproveitar, mas para os meus filhos e meus netos o Metrô vai ser muito bom”, contou o balconista Joaquim Paulino Costa, de 64 anos, que mora e trabalha na Brasilândia.
Na região da Freguesia do Ó, os moradores estão animados com as estações, mas convivem com a especulação sobre onde elas serão instaladas. “Vai ser bom, nada como andar de metrô. O ruim agora é que tem muita especulação, o pessoal que mora perto está preocupado, não sabe onde vai ser. Quando falaram que ia ter Metrô os imóveis valorizaram. As coisas ficam mais caras, mas vale a pena”, disse a dona de banca de jornal Natália Mariano, de 22 anos.
A estudante universitária Marina do Carmo Fernandes dos Santos, de 24 anos, diz entender a posição dos moradores de Higienópolis. “Lá as pessoas têm mais poder aquisitivo, e para elas talvez não seja tão necessário o transporte. Uma estação de Metrô faz mais pessoas circularem pela região. Isso vai acontecer lá e aqui também. Mas aqui compensa, porque é extremamente necessário. Vai diminuir a quantidade de pessoas nos ônibus e nas lotações, que tem hora que não dá para entrar”, afirmou ela, que mora na região da Brasilândia.
Perdizes
Outra região onde o Metrô é esperado é Perdizes – pelo menos para os estudantes que precisam ir até o bairro todos os dias. “Moro perto do Metrô Saúde, mas venho de carro todos os dias. Se tiver Metrô aqui vai ser mais fácil, eu deixaria o carro em casa. Vai ser ótimo para os estudantes”, afirmou a universitária Karina de Almeida, de 20 anos.
Quem vive no bairro acredita que a estação possa melhorar o trânsito. “Tem muito carro aqui por causa da universidade. Quem iria usar a estação seriam os estudantes mesmo, por isso acho que seria bom”, contou a dona de casa Fátima Costa, de 37 anos.
Polêmica em Higienópolis
O presidente Associação Defenda Higienópolis, Pedro Ivanow, disse que a má distribuição geográfica da linha é o principal foco das reclamações dos moradores. Ele também afirmou que o movimento no local, com a implantação da estação, traria “inconvenientes” ao bairro. “O que vimos é que nas estações novas há o aumento de ocorrências de furtos e comércio ilegal, que são aspectos negativos para um bairro que tem sua própria cultura, além das obras, que podem trazer transtornos ao trânsito do local e desapropriação de alguns comércios importantes para o local”, disse.
A nova localização da estação não foi definida, mas pode ser na região do estádio do Pacaembu. Apesar de os moradores serem contra o Metrô na Avenida Angélica, quem trabalha no bairro deixará de ser beneficiado com a mudança. É o caso da copeira Maria das Neves, de 40 anos, que trabalha a um quarteirão do antigo destino da estação. “Venho e Metrô, desço na estação Marechal Deodoro e subo de ônibus. Se tivesse uma estação aqui seria bem mais fácil. Se for no Pacaembu talvez eu continue com meu trajeto atual”, afirmou.
De acordo com o Metrô, a linha 6-Laranja vai ter 13,5 km de extensão e 15 estações. Ela vai ligar a Zona Norte ao Centro, da Estação Brasilândia até a estação São Joaquim e passar por bairros como Liberdade, Bela Vista, Higienópolis, Perdizes, Pompeia, Freguesia do Ó e Vila Brasilândia.
Autor: G1