Cálculo errado derrubou Real Class, diz UFPA

Após 39 dias da queda do edifício Real Class, que matou três pessoas e atingiu moradores de um quarteirão, com casas, carros e nervos prejudicados, foi divulgada perícia que aponta a causa e dá respostas. O Grupo de Análise Experimental de Estruturas e Materiais (Gaema), formado por professores da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Federal do Pará, entregou o laudo pericial que aponta que o edifício caiu por erro no cálculo do projeto estrutural. O engenheiro calculista da obra é Raimundo Lobato da Silva, contratado pela Real Engenharia.

Chefiada pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-PA), a comissão que solicitou a perícia é composta por representantes do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Pará (Sinduscon), Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), Associação dos Construtores de Obras Públicas (Acoop), Faculdade de Engenharia da Universidade Federal do Pará, Faculdade Ideal (Faci), Universidade da Amazônia (Unama) e Instituto de Avaliação e Perícias de Engenharia do Pará (Iapep).

O fato de o reitor Carlos Maneschy fazer questão de frisar que a UFPA não tem nenhum envolvimento com o laudo reforça, para José Viana, presidente do Crea, que o trabalho desenvolvido pelos engenheiros do Gaema – ao custo de R$ 100 mil – é independente. “Eles têm autonomia e titulações competentes para realizar o trabalho”, esclareceu.

Em pouco mais de um mês, os sete professores do grupo, engenheiros civis com titulações em materiais, fundações e estruturas, analisaram os projetos de arquitetura, estrutura, fundações e laudos de sondagem do edifício e realizaram testes e ensaios em amostras de aço e concreto no laboratório do Instituto de Tecnologia da Faculdade.

O laudo, entregue às 9h de ontem ao Crea, foi lido à imprensa na tarde de ontem, na sede do conselho, por Denio Ramam de Oliveira, PHD em estruturas e coordenador do Gaema. A perícia aponta que o concreto e o aço empregados na estrutura apresentavam resistências compatíveis com as recomendadas pelas normas brasileiras. As fundações foram corretamente projetadas, levando em consideração as cargas informadas no projeto.

Em resumo, o que o documento informa é que o esqueleto do prédio foi mal projetado e, quando a estrutura foi submetida a uma combinação elevada de carregamentos verticais e horizontais (vigas e lajes), não conseguiu sustentar o peso. Por mais que os ‘sinais’ como estalos ou fissuras não tenham aparecido, o problema estava ali presente. “Aconteceu diferente do que ele pensava e calculou como estrutura para o prédio”, concluiu Manuel Diniz Perez, coordenador da Faculdade de Engenharia Civil da UFPA e doutor em Materiais e Processos.

Por todas essas implicações, a edificação Real Class deformou, esmagou os pilares e tombou.

BOAS FUNDAÇÕES

Constatado que nada havia de errado com as fundações, foi descartada a hipótese de que a queda teria iniciado por esgotamento da capacidade de resistência. Ou seja, apesar de o prédio ter caído verticalmente e aparentemente ter sido sugado pela terra, não houve falha geológica nem erro no estacamento da obra, pressupondo que as estacas do prédio estariam fincadas numa camada pouco resistente do solo.

Essa hipótese foi levantada pelo próprio calculista Raimundo Lobato em entrevista concedida ao DIÁRIO um dia após a queda.

“A fundação do prédio era sólida, a empresa que fez o projeto e executou levou em consideração as cargas verticais e horizontais informadas pelo calculista”, arrematou Manoel Diniz Perez.

De acordo com o laudo, o projeto estrutural não atendeu às recomendações normativas para dimensionamento de estruturas de concreto, para carregamentos verticais (pilares) e para o vento.

Denio Oliveira contou que o Gaema refez todo o projeto em computador, utilizando três softwares de análise estrutural, e que nessa simulação dos carregamentos foi constatada a falha nas estimativas calculadas. Ele acrescentou que o prédio levou oito segundos para entrar em colapso: “Os pilares eram muito estreitos e alguns até apresentaram ruptura brusca, mas sem fissuras”.

Com isso, eles atestaram que o desabamento ocorreu porque a carga não foi bem distribuída entre os pilares, o que sobrecarregou as vigas, e que o terreno, um dos esforços atuantes, por se tratar do empuxo exercido pela terra sobre a obra nela edificada, não aguentou o peso das cargas e o prédio ruiu.

Autor: Diário do Pará