Sob o peso de nevascas fora do comum, os telhados de todo o nordeste dos Estados Unidos têm cedido, provocando chuvas de destroços. Em dezembro, quase 450mm de neve derrubaram o telhado do estádio Metrodome, em Minneapolis.
E não foi apenas a infraestrutura americana que sofreu com o clima. Em Brisbane, na Austrália, as tempestades de janeiro arrancaram uma passarela que acompanhava a margem do rio. A parede de um depósito contendo lama tóxica desabou em outubro, após semanas de chuva, e o material contaminou as vilas mais próximas.
O aquecimento global é apontado como provável culpado, ao menos em parte, pela crescente frequência e severidade das condições climáticas extremas, pois a alta na temperatura da superfície tende a produzir padrões climáticos mais violentos, dizem os cientistas. E o estrago provocado por esses eventos é sinal de que os padrões de segurança e normas técnicas com os quais trabalham engenheiros, arquitetos e planejadores urbanos estão se tornando inadequados para suportar o clima.
Represas, edifícios e pontes costumam ser construídos para suportar “tempestades seculares” – algo tão épico que existe apenas 1% de chance de ocorrer por ano. Mas o que acontece quando tempestades seculares são vistas a cada dez anos e “tempestades da década” se tornam comuns? Quantas estruturas chegarão aos limites de sua engenharia? Engenheiros e seguradores já enfrentam tais questões.
A Munich Re, uma das maiores seguradoras do mundo, diz que eventos climáticos graves o bastante para danificar propriedade se tornaram significativamente mais frequentes desde 1980: a ocorrência de enchentes devastadoras triplicou, tendência quase acompanhada pelos furacões, tufões e tornados. O número de terremotos fortes – os quais se acredita que não são influenciados pela mudança climática – manteve-se estável.
Para as seguradoras, o desafio está em como assegurar as estruturas contra as vicissitudes de um clima cada vez mais extremo. Para os engenheiros, os novos padrões climáticos levam a difíceis perguntas sobre o tipo de fator de risco e segurança que deve ser calculado na elaboração dos projetos e se as antigas estruturas precisam de reforço.
“O aumento observado na frequência dos eventos extremos muda completamente nossa maneira de projetar”, disse D. Wayne Klotz, presidente da Sociedade Americana de Engenheiros Civis. “Podemos fingir que nada está acontecendo, mas a verdade é que o clima está mudando.”
Autor: O Estado de S.Paulo