Reduzir o impacto nas construções passa por dois fatores principais, a diminuição dos resíduos produzidos e do desperdício de materiais. As duas questões estão muito próximas e é isso que faz com que as soluções incluam, de uma forma ou de outra, o material utilizado.
Ainda assim, especialistas como o professor Jairo Andrade, engenheiro civil do curso de Engenharia Civil da PUCRS, colocam o planejamento como grande agente na redução do impacto.
– Uma obra bem planejada utiliza melhor os materiais comprados e, assim, reduz o que vai para o lixo – afirma Andrade.
O uso de materiais pré-fabricados, como paredes, lajes e vigas, é uma solução interessante para a questão do desperdício. Como funcionam a partir do processo de encaixe, esses materiais têm instalação rápida e costumam não produzir resíduos. Embora muito utilizados em prédios comerciais e industriais, os pré-moldados não foram adotados por completo quando a construção é residencial.
Para o engenheiro civil e diretor da Sudeste Pré-Fabricados, Fabio Casagrande, a resistência no uso de pré-moldados pode estar ligada a dois fatores: preço e falta de informação.
– Muitos ainda pensam que o pré-moldado é um material inferior, o que não é verdade – afirma Casagrande.
Andrade reforça que a construção civil tem um tempo próprio para evoluir e, talvez, por esse motivo os materiais pré-fabricados não sejam uma realidade em muitos canteiros de obra. Mesmo assim, o engenheiro civil e professor da Universidade Nove de Julho de São Paulo, Salomon Levy, é otimista:
– O setor evoluiu nos últimos anos, e a consciência ambiental, que cresce, também deve fazer com que novos materiais sejam assimilados pouco a pouco.
Parede feita de papelão
Pensando na redução do entulho nas obras e no reaproveitamento de materiais, um grupo de arquitetos e engenheiros da USP – São Carlos está testando uma nova matéria-prima: o papelão. Há quatro anos em estudo, o projeto do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia quer possibilitar que uma nova opção chegue ao mercado da construção civil.
Há três meses, uma construção experimental foi instalada na universidade para testar a viabilidade técnica do material. A pequena casa é feita com tubos de papelão e, até agora, tem apresentado resultados positivos. A ideia é que o material possa substituir paredes internas e externas de prédios comerciais ou residenciais. Em testes já realizados, um metro linear do material mostrou suportar até cinco toneladas.
– Os testes durarão dois anos, mas a ideia é que o papelão substitua a alvenaria tradicional, incluindo aço, madeira e vidro – esclarece a arquiteta e doutoranda da Escola de Engenharia de São Carlos, Gerusa Salado.
Para ela, um dos motivos que fazem da construção civil um setor de impacto é a extração de matéria-prima da natureza. Por isso, o fato do papelão testado na USP ser produzido com papel reciclado conta a favor. A possibilidade de montar e desmontar as paredes também faz com que o modelo viabilize, de alguma forma, reutilização.
Zero Hora
Autor: Zero Hora