Engenharia busca contornar efeitos do conflito de gerações

O mercado para engenheiros está a todo vapor. Somente no ano passado, a procura por profissionais das mais diversas áreas – civil, mecânica, química, entre outras – aumentou mais de 30% em relação a 2009, segundo consultorias de RH. Mas um hiato de pelo menos dez anos sem grandes projetos de infraestrutura no País criou uma divisão etária: na maior parte das empresas, gerentes e diretores têm mais de 50 anos, enquanto os subordinados acabaram de se formar. Nesse cenário, o desafio é evitar o antigo “conflito de gerações”.

Segundo o gerente da divisão de engenharia da consultoria Robert Half, Caio Arnaes, nos anos 80 e 90, a carreira de engenharia entrou em decadência: as perspectivas eram modestas, e quem se aventurava acabava migrando para outra área. Ainda hoje é fácil encontrar engenheiros exercitando a capacidade matemática no mercado financeiro, e não em canteiros de obra. Por isso, o setor precisou recorrer aos envolvidos nos projetos de desenvolvimento dos anos 70 para capitanear o recente “renascimento” da construção civil e da indústria do petróleo no Brasil.

A Chemtech, empresa do grupo Siemens que contabiliza mais de 1,2 mil engenheiros em seu quadro de funcionários, vive essa divisão etária no dia a dia. Os profissionais experientes se tornam consultores dentro da empresa, ficando responsáveis por determinadas áreas técnicas, e orientam diversos profissionais recém-saídos da universidade. A meta da empresa é promover a troca de experiências: os jovens têm maior familiaridade com novas tecnologias e processos, enquanto os mais velhos podem avaliar na prática se essas inovações são ou não aplicáveis em projetos específicos.

“Professor”. O consultor Mário Rêgo, de 56 anos, é líder de projetos em engenharia mecânica na Chemtech. Para viabilizar o desenvolvimento de projetos na área, ele faz reuniões para “uniformizar as informações” e tirar dúvidas dos engenheiros recém-formados, posição ocupada pelos que estão na companhia há menos de cinco anos. “Nunca houve qualquer conflito. São profissionais sedentos de conhecimento e que se dedicam a apresentar soluções inovadoras aos projetos.”

Parte da equipe comandada por Rêgo, Vivian Gonçalves, 28 anos, trabalha na Chemtech há dois anos e meio – entrou na empresa após um processo de seleção na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), na Paraíba. “A maior parte da equipe (da empresa) é formada por jovens de 22 a 28 anos. Acho que a gente vem com novas ferramentas, e pode vivenciar na prática como aplicar esse conhecimento”, explica.

A criação da relação mestre-pupilo entre os profissionais de diferentes gerações pode suavizar o choque de gerações, na avaliação de Jaqueline Weigel, profissional especializada em treinamento. “Acho que o trabalho é especialmente importante com o profissional sênior, que tem de ser o mentor nesse processo”, diz. “O jovem chega sem vícios e a integração não costuma ser difícil.” Para Jaqueline, a construção desse tipo de ambiente é positiva para todos os profissionais: “Mostra que a empresa não considera a experiência descartável e quer estar atualizada com o que há de mais novo e moderno.”



Autor: O Estado de S.Paulo