As obras da ponte sul da ilha do Fundão, localizada na cidade do Rio de Janeiro, devem ser finalizadas em abril deste ano. A construção compreende um pilone único em concreto armado ancorando 18 estais metálicos em plano central único, dispostos em formato leque-harpa. Estais posteriores são contrabalançados por três pares de estais traseiros em dois planos.
O maior desafio da execução da ponte foi a moldagem do pilone proposto pelo arquiteto responsável pelo projeto, Alexandre Chan. De acordo com ele, a forma escultórica do elemento exigiu o uso de fôrmas trepantes. Essa foi a maneira encontrada pelo projeto de estruturas para evitar qualquer prejuízo do sistema formal-estrutural, revela Chan.
Segundo ele, a intenção do formato é buscar efeitos de reflexão do sol e da iluminação de realce e com formato descontínuo na busca de expressão. “A ponte Sul aparecerá mais pelo conjunto formado por um único grande pilone e um único plano de estais, todos em cor branca. O formato geral de obelisco do pilone foi alterado na busca da comunicação dos esforços estruturais dos estais frontais e traseiros”, explica.
Além dos aspectos arquitetônicos, fundamentos técnicos pautaram a escolha por estais para concepção da ponte que tem 170 m de vão e capacidade de carga da ordem de 45 t. “Os solos locais, oriundos da união das ilhas antes existentes e dos aterros entre elas, levou ao estaqueamento em aço. Já a escolha do concreto armado total foi uma decisão em consenso entre os envolvidos, embora eu defendesse um tabuleiro mais leve, em aço”, afirma Chan. O tabuleiro compreende duas pistas de mesmo sentido de direção separadas por plano único de estais, sem passeios para pedestres ou vias para bicicletas. As pistas têm largura livre de 4,50 m cada e são executadas em concreto armado aparente construído em aduelas modulares montadas em balanços sucessivos. Contam com perfil ascendente da ilha para o continente.
Dentre as alternativas estudadas, Chan afirma que todas apresentaram contraindicações que variaram desde dificuldades operacionais até a questões estéticas, item constantemente salientado no escopo do projeto. Exemplos de alternativas eram vãos menores com pilares mais frequentes – evitados para a não invasão do meio hídrico – e arcos para o vão total ou o sistema de suspensão – mais comumente utilizados em vãos maiores.
Chan conta que, na evolução do desenho, ele notou a semelhança com o movimento e esforços de um pássaro marinho ao emergir das águas. “Essa imagem nos remeteu à foto do biguá, que, com esforços semelhantes, tentava sair das águas oleosas no desastre ocorrido na Baía da Guanabara”, lembra ao revelar que, no escritório, o projeto ganhou o codinome de Biguá Renascido.
Resumo da obra
Execução: abril de 2010 a abril de 2011
Altura do pilone: 95,50 m a partir do bloco de fundação, incluindo mastro do pára-raios e sinalização de navegação aérea
Nível máximo atingido: 102,56 m
Área do bloco principal de fundação: 360 m²
Vão de travessia do canal sustentado por estais: 170 m
Altura livre mínima para navegação: 10,18 m
Comprimento total da obra: 933,54 m, sendo 773,54 m estruturados e 160 m sobre aterro entaludado
Área total da obra: 11.550 m², incluindo rótula de acesso
Arquiteto: Alexandre Chan
Engenheiro de estruturas: Vicente Garambone
Construção: Queiroz Galvão S.A.
ENTREVISTA
Relação estética-utilitária
Arquiteto comenta o projeto da nova ponte
Qual a função dessa nova ponte sobre o canal da ilha do Fundão?
O aumento da circulação de veículos dos usuários locais, acrescido por aqueles em trânsito, vem provocando engarrafamentos no interior da ilha. A Cidade Universitária concluiu pela necessidade de uma saída em direção ao centro do Rio. Alem dessa função utilitária, a ponte deveria incorporar-se ao Plano de Revitalização do Canal do Fundão e constituir elemento paisagístico e monumento urbano.
Quais os principais aspectos arquitetônicos da ponte?
A integração da presença da nova ponte com a intenção paisagística da orla da Ilha do Fundão é a principal na concepção. Contudo, foi pedido que a função simbólica de suas formas e soluções estruturais marcasse os espaços do entorno urbano.
Qual a inspiração das formas da obra de arte?
No caso de pontes, pesa muito a clareza estrutural, o despojamento formal, a função utilitária como um todo, a simplicidade construtiva, a máxima eloqüência com o mínimo de meios e a isenção de gratuidades decorativas. Nesse caso, a busca da emoção procurou transmitir os esforços dos estais sobre o pilone único, como a figura de um pescador puxando sua tarrafa.
Por que a opção por uma ponte estaiada?
A dificuldade de obter solo seco no lado continental, o desejável sistema construtivo de balanços sucessivos, a imponência formal das soluções estaiadas e sua popularidade, além do pedido específico dessa técnica.
No que essa ponte difere de outras pontes estaiadas?
Sua maior diferença, na subcategoria de estaiadas de pilar único, é representada pela maior eloquência dramática de seu formato ainda na tentativa da comunicação visual dos esforços dos estais, acompanhada pelo perfil em ascensão do tabuleiro na direção da Linha Vermelha.
Há algum projeto especial de iluminação para a ponte?
Não só a Ponte Sul deverá integrar o tratamento paisagístico da orla da Ilha do Fundão, parte da Revitalização Ambiental do Canal do Fundão, como qualquer equipamento urbano destacado merece a visão diurna e também a noturna. A iluminação desejada conterá elementos normais de função utilitária e elementos especiais de função de realce monumental. Projetores destacarão pilone e estais a partir de seus pontos mais baixos e do terreno, em contraste com a mais suave iluminação utilitária da posteação interna. Estais serão iluminados individualmente a partir do intervalo entre as pistas.
Autor: PiniWeb