Foi no Exército que o engenheiro de telecomunicações Luiz Peres, 33 anos, dedicou a maior parte de sua formação profissional. Entrou como cadete da Escola Preparatória e formou-se no Instituto Militar de Engenharia (IME). Chegou à patente de capitão, com atuação no gerenciamento de redes em projetos de telecomunicações do Exército.
Em 2008, no entanto, Peres deixou os 13 anos de farda para dedicar-se ao mundo corporativo. Mais que a proposta financeira do grupo português Metacordex – cerca de 60% maior que os soldo do Exército – , o que atraiu o engenheiro foi a possibilidade de exercer um cargo gerencial, algo que ele demoraria mais alguns anos para conquistar na carreira militar. “Na Força, eu não tinha tanto potencial de crescimento quando no mercado, aqui fora”, diz.
A escolha de Luiz Peres não é solitária. Na turma dele, que concluiu o curso em 2004, foram formados 39 engenheiros. “Mais da metade seguiu carreira militar quando completamos o curso, e o restante já saiu como civil”, afirma. “Dos militares que seguiram, cerca de um terço também já foi para a vida civil.”
Segundo o Centro de Comunicação Social do Exército, a evasão de engenheiros militares chegou a 173 oficiais nos últimos cinco anos, “um número coerente com a série histórica”, de acordo com a entidade. “Entendemos como normal esta situação, haja vista o anseio natural por melhores condições salariais”, disse o Exército, em nota ao iG.
Profissionais disciplinados
Com demanda crescente por mão de obra qualificada em engenharia, as empresas encontraram no Exército uma boa alternativa para o recrutamento de profissionais. Além de a proposta financeira geralmente ser facilmente compensadora, a iniciativa privada encontra nos militares boa formação acadêmica, além de profissionais disciplinados, o que facilita a inserção dos funcionários em posições estratégicas.
“As universidades militares estão na lista das instituições de ensino de primeira linha”, diz Carina Budin, diretora da regional São Paulo Interior da Asap, empresa de recrutamento de mão de obra especializada. “Elas ainda contam com a questão da disciplina e o trabalho comportamental bem feito.”
Carina afirma que os profissionais formados pelo Exército têm sido atraídos pelo perfil de desenvolvimento da carreira no mundo corporativo. “A carreira militar é bastante morosa, embora ofereça segurança do emprego”, afirma. “No mundo corporativo, a meritocracia é muito grande, se ele tiver bom desempenho, terá salários maiores. Além disso, estamos falando de uma geração muito imediatista.”
André Gustavo Albuquerque, 37 anos, também deixou a estabilidade da carreira militar para buscar ganhos financeiros mais atraentes no mercado corporativo. Formado pelo IME em 1995, ele viu em um concurso público a porta para deixar as Forças Armadas. “Na época em que eu me formei, quem passasse em concurso público podia sair do Exército sem ter custos”, diz. “Foi o que fiz.”
Ex-primeiro tenente do Exército, Albuquerque trabalha atualmente na Cisco, gigante multinacional em soluções para redes e comunicações. “Para alunos que estão se formando agora, há uma procura muito grande de empresas não só de engenharia como da área financeira. O curso do IME é muito bem avaliado pelo mercado”, afirma.
Segundo números da Asap, entre 2009 e 2010, a demanda por engenheiros cresceu 51% em todo o País. De todas as contratações intermediadas pela empresa na região da Grande São Paulo e interior paulista, 49% eram por engenheiros.
Demanda por engenheiros
A escassez de mão de obra especializada na Engenharia gera números preocupantes. Dados do Conselho Federal de Engenharia Arquitetura e Agronomia (Confea) mostram que o País conta com aproximadamente 712,4 mil engenheiros. Um estudo do Confederação Nacional da Indústria (CNI) diz que o Brasil deveria formar 60 mil profissionais por ano para atender toda a demanda. Hoje, são formados cerca de 32 mil engenheiros por ano.
Outro estudo, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostra que, se a economia tiver um crescimento médio de 3,5% ao ano, o estoque de profissionais não será suficiente para atender a demanda já em 2015. Vale lembrar que, no ano passado, o PIB cresceu cerca de 7%. Com a Copa do Mundo, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016, a busca por engenheiros fica ainda maior.
Carina Budin diz que a tendência é que as empresas aumentem a busca por profissionais das Forças Armadas. “O Exército é um celeiro de talentos e as companhias não vão ignorar esse fato nos próximos anos.”
Autor: IG