Os organizadores das Olimpíadas de 2012 em Londres querem repassar ao Rio de Janeiro o know-how de criar um evento esportivo sustentável.
O chefe de Desenvolvimento Sustentável e Regeneração do órgão responsável pelo evento, Dan Epstein, avaliou que tanto o Rio quanto Londres “enfrentam grandes problemas de urbanização” e “as Olimpíadas são uma oportunidade fantástica de mostrar como podemos começar a lidar com esses problemas”.
Em uma visita às obras do Parque Olímpico, no leste da capital londrina, Epstein – que já esteve diversas vezes no Brasil – disse a jornalistas que mesmo os estádios e outros locais de competição poderão ser reciclados.
“O ginásio de basquete é projetado para mais de 10 mil pessoas mas, após o uso, pode ser desmontado, colocado em um navio, enviado para qualquer lugar e reerguido”, disse Epstein. A arena já teria despertado o interesse da comitiva organizadora do Rio-2016.
“Construímos um centro aquático com capacidade para 17,5 mil lugares. Nas olimpíadas vamos usar toda essa capacidade e, depois disso, nunca mais. Então podemos reduzir a capacidade para 2,5 mil lugares e adaptá-lo tanto para outras competições internacionais quanto para uso comunitário.”
Com um custo estimado em 9,3 bilhões de libras (cerca de R$ 26 bilhões) em plena crise econômica, a conta das Olimpíadas londrinas não deixou de gerar críticas.
Só para reduzir a capacidade do estádio olímpico dos 80 mil lugares originais para 25 mil após os Jogos, especialistas avaliam que serão necessários 450 milhões de libras adicionais (cerca de R$ 1,2 bilhão), quase 90% do valor total da construção.
Somas bilionárias estão sendo investidas na construção de uma infra-estrutura de energia e transporte na região onde ficarão a Vila Olímpica e os locais de competição.
Os críticos já questionaram a razão de se gastar tanto dinheiro para revitalizar o leste de Londres usando os Jogos como mote, sendo que, sem eles, projetos com a mesma finalidade poderiam surtir o mesmo efeito.
“Não estamos pensando apenas no custo da infra-estrutura, mas nos valores de longo prazo e nos impactos ambiental e social”, defende Epstein. “Estamos investindo apenas em coisas que temos necessidade a longo prazo. Todo o resto é pensado para poder ser removido e reutilizado, não simplesmente descartado.”
“Se você puder usar o estádio de futebol ou o ginásio de basquete seis, sete vezes em diferentes lugares, talvez isso nos custe um pouco mais – quem sabe 20% a mais, quem sabe nem um centavo a mais que um ginásio permanente –, mas é possível utilizá-los e reutilizá-los para que outra pessoa não precise construir um novo.”
Legado
Os organizadores dos Jogos londrinos tentam convencer os contribuintes britânicos de que os projetos não apenas terão “valor de mercado” após o evento, como deixarão um “legado” na região.
O Parque Olímpico, onde também está a Vila Olímpica, se situa em uma das partes mais desassistidas de Londres, as antigas áreas industriais do leste da cidade, ao longo do vale do rio Lea.
Equipar a região com infraestrutura – de cabos elétricos a pontes e passarelas – custará quase 2 bilhões de libras, segundo cálculos citados pela revista Economist. A isso se somarão outros 800 milhões de libras em transporte.
A autoridade olímpica britânica afirma que, terminados os Jogos Olímpicos e – algumas semanas depois – os Para-Olímpicos, parte da vila dos atletas será transformada em moradias de caráter social.
Epstein disse que a área recebeu um centro de energia e 16 km de tubulação para prover calefação emitindo a metade do carbono em relação aos padrões atuais.
“A maioria dos nossos gastos – 75% – não é nas Olimpíadas, mas no legado. Nós pegamos uma área que durante 30 anos foi identificada como carente de regeneração. Ninguém nunca teve o dinheiro, os recursos ou o poder de planejamento para transformar esse local, criar uma nova infraestrutura para os negócios, para moradias”, afirmou.
“Não se trata apenas dos Jogos Olímpicos, que são apenas um evento de três semanas, mas de desenvolver uma nova parte da cidade pelos próximos cem anos.”
Rio 2016
A ideia é que o modelo de Londres-2012 também seja reaproveitado no evento do Rio, quatro anos mais tarde. O evento carioca está estimado, hoje, em cerca de R$ 30 bilhões de reais.
Durante a visita que fez à Vila Olímpica, o embaixador britânico em Brasília, Alan Charlton, afirmou que são constantes os intercâmbios entre as delegações das duas cidades olímpicas e que a sustentabilidade é parte dessa troca de informações.
“O que é muito importante é planejar a partir do primeiro minuto, não é possível adicionar sustentabilidade depois. Por isso é importante fazer isso agora no Rio de Janeiro, antes de construir mais para os Jogos de 2016”, afirmou o embaixador.
“Em Londres, nós tivemos dois anos de planejamento, quatro anos de construção e temos um ano para testar tudo. No momento, no Rio, o que é importante é o planejamento. Podemos fazer muita coisa juntos nesse momento de planejamento.”
Autor: BBC