A necessidade de investimentos em infraestrutura e a preparação para eventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 apontam para um grande problema do setor da engenharia no Brasil: a falta de profissionais qualificados no mercado. Segundo estimativas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), até 2012 haverá 150 mil vagas não preenchidas do setor no Brasil, que em 2008 formou, de acordo com o último censo escolar completo, 48 mil profissionais, apenas 5% dos formandos de cursos superiores do Brasil.
Em países como a Espanha, por exemplo, 14% dos formandos são engenheiros, enquanto em Portugal esse número sobe para 20%. Na China e na Coreia do Sul, o número varia de 25% a 30%. A relação entre o número de engenheiros formados e o número de habitantes também é baixa no País: 2 por 10 mil. Nos Estados Unidos são 4,6 por 10 mil. Na Espanha, 6,5 por 10 mil. Na China, 13,4 por 10 mil.
Nos próximos anos, a continuidade do crescimento do Brasil exigirá grandes investimentos em áreas de infraestrutura como o saneamento e o setor de transportes, para a realização dos eventos esportivos, além da exploração do pré-sal. Além disso, o atual cenário, em que o mercado imobiliário está aquecido graças a programas como o “Minha Casa, Minha Vida”, do governo federal, exige profissionais capacitados, mas o que se vê no mercado é diferente do que é necessário.
O problema no Brasil não passa apenas pelo desinteresse na área, mas também pela falta de qualificação de profissionais já formados e até concorrência de outros setores, segundo informa o vice-presidente da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi), Márcio Cancellara. “Tivemos uma grande crise na década de 1990 e muitas empresas de engenharia sumiram do mercado. Isso criou um desinteresse pela profissão, além da concorrência de outros setores, como o bancário, que emprega muitos engenheiros”, afirma.
“Também tivemos um pequeno descolamento da grade curricular das universidades, que não acompanhou a mudança nas necessidades do mercado”, explica. “Além disso, tivemos um grande avanço tecnológico. Hoje temos recém-formados, que têm técnica, junto com profissionais de 'cabelos brancos', que têm técnica e experiência. E temos também um vácuo do pessoal que não se formou nos últimos anos”, explica Cancellara, lembrando dos problemas enfrentados pelo setor nos anos 1990.
Os investimentos em infraestrutura que devem ser feitos no País nos próximos anos, visando principalmente à Copa e às Olimpíadas, além do pré-sal, exigirão profissionais mais qualificados do que os encontrados atualmente. De acordo com Lineu Rodrigues Alonso, vice-presidente de ética e proteção à consultoria do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco), o Brasil cresceu recentemente sem estar preparado para isso.
“Todos os países que deram grandes saltos de desenvolvimento investiram em capacitação, em treinamento, em educação”, conta. “Imagino que uma das bandeiras da nova presidente deveria ser esta: vamos capacitar para o País crescer. Ou vamos ficar chamando engenheiros da Espanha?” questiona.
“É necessário, por exemplo, investimento na área de saneamento. Pode-se precisar de R$ 200 bilhões, mas se se investir R$ 200 bilhões no setor não vai dar certo, porque não há profissionais para isso”, conta. “Precisa-se ter efetivamente gente treinada e capacitada, e não se tem.”
Setor privado
O mercado já se mexe para tentar minimizar o problema. “Empresas atualmente têm uma prioridade de treinar e qualificar o pessoal. Temos algumas que contratam estagiários do primeiro ano da faculdade para prepará-los para se tornarem profissionais de acordo com as necessidades da companhia”, explica Cancellara, da Abemi. “Além disso, existem programas de qualificação de profissionais já formados. É um investimento que deve ser feito”, conta. “Para o lado que não depende das empresas, é necessário que se faça uma readequação dos cursos que algumas universidades fazem, além de ampliar o número de vagas. Os governos devem também estimular programas de formação e criar novas escolas técnicas”, afirma.
Para Alonso, do Sinaenco, a questão envolve principalmente o poder público. “Uma questão desse tamanho não é resolvida pelo lado privado, é uma questão do Estado”, explica. “Não podemos exigir que uma empresa pequena faça um processo de capacitação”, conta. “O mercado privado pode ajudar, trabalhando para identificar as carências. Sabemos que precisamos de gente com capacidade para projetar metrô, temos clareza de que é necessário. As empresas podem fazer sua parte, mas não podem resolver sem ajuda do Estado”, finaliza o executivo.
Para atender à futura demanda advinda dos investimentos em infraestrutura na preparação para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, o setor da engenharia no Brasil vê um cenário caótico, inclusive de ter de importar profissionais da Europa e da Ásia. A falta de profissionais qualificados no mercado é um entrave, diz a Confederação Nacional da Indústria (CNI): até 2012 haverá 150 mil vagas não preenchidas do setor no Brasil, que em 2008 formou 48 mil profissionais – apenas 5% dos formados em curso superior no Brasil.
Autor: DCI