40 anos em quatro?

Mineiro de Diamantina, Juscelino Kubitschek chegou à Presidência da República em 1956 amparado pelo ambicioso Plano de Metas e a promessa de fazer o Brasil crescer “50 anos em 5” com investimentos massivos em energia e transporte. Mineira de Belo Horizonte, Dilma Rousseff quer agora aplicar o mesmo binômio para alavancar o crescimento da economia brasileira no século 21. Seu plano é o PAC 2, um compêndio de R$ 1,59 trilhão em projetos até 2014.

No setor energético, são R$ 465,5 bilhões para explorar a camada pré-sal, com reservas estimadas entre 15 e 20 bilhões de barris de petróleo, e entregar 54 usinas hidrelétricas, incluindo a conclusão de grandes obras como as de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira, e de Belo Monte, no rio Xingu. 
 
Para o transporte, há R$ 104,5 bilhões em investimentos para oito mil quilômetros de novas rodovias e o mais ousado dos projetos: a construção do trem de alta velocidade entre São Paulo e o Rio de Janeiro, orçado em R$ 34 bilhões. Dilma pretende vencer os “pontos de estrangulamento” para a economia crescer de forma sustentável.

Um plano que, se der certo, pode gerar até 2,83 milhões de empregos e dinamizar a economia onde houver um canteiro de obras e operários trabalhando. “O próximo governo vai ter de aumentar significativamente os investimentos em infraestrutura”, dizia Antônio Palocci, um dos coordenadores da campanha de Dilma, em encontros com empresários.

A afirmação decorre de uma realidade inapelável. Sede da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro, o Brasil deve passar por uma transformação inédita no transporte público. Será preciso, por exemplo, ampliar os aeroportos, hoje saturados, para acomodar uma demanda de até 159 milhões de passageiros e que pode ficar ainda maior.

“Temos um planejamento para uma alta de 8,5% ao ano. E já estamos crescendo a taxas de 20%”, relata Ronaldo Jenkins, diretor técnico do Sindicato Nacional das Empresas Aéreas. Para atender ao movimento crescente, a Infraero já lançou um plano de R$ 6,4 bilhões e as primeiras obras devem sair do papel no início de 2011. “Estamos executando várias etapas: estudos técnicos, abertura de licitação e realização de obras, como o pátio de aeronaves de Guarulhos”, disse à DINHEIRO Jaime Parreira, diretor de engenharia da Infraero. 
Não são apenas os aeroportos que dão sinais de saturação. O aumento nas importações e a elevada demanda por commodities agrícolas e minerais lançaram luz sobre a falta de capacidade dos portos, por onde escoam 96% das exportações brasileiras, de atenderem à dinâmica de uma economia aquecida.

Para reverter o quadro, o PAC 2 prevê R$ 4,8 bilhões em investimentos para os terminais portuários e aquaviários até 2014, por onde passam apenas 13% da carga transportada no País. A estimativa é elevar esse percentual para 29% até 2022, com ganhos de produtividade para as exportações brasileiras.

“Podemos ter uma redução de 15% no custo do frete na soja produzida em Mato Grosso”, explica Fernando Fialho, diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Com mais e melhores estradas, portos e aeroportos, o Brasil comportaria maiores taxas de crescimento. Poderia ainda corrigir uma deficiência histórica da economia brasileira: a falta de competitividade em relação a outras economias de seu porte.

Essa tarefa passa pela simplificação do labirinto tributário brasileiro. “Sempre que se pergunta a ranking de competitividade do Banco Mundial, o Brasil está em 58ª posição entre as 139 nações avaliadas. Em relação ao peso da carga tributária, porém, o País despenca para a última colocação.

Remover os tributos sobre investimentos seria um bom começo. Desde 2003, os recursos alocados no setor de infraestrutura saltaram de R$ 58,2 bilhões para os atuais R$ 121,9 bilhões ao ano. Embora marquem um notável avanço para os padrões brasileiros, ainda é pouco para um País que pretende crescer na casa de 6%. Estima-se que para que a economia se expanda sem atolar nos gargalos estruturais, seriam necessários pelo menos R$ 161 bilhões.

Ao contrário de JK, porém, Dilma assumirá o governo com o caminho rumo ao crescimento. A indústria naval, por exemplo, renasceu das cinzas com 240 encomendas avaliadas em R$ 10,4 bilhões nos últimos cinco anos. Decadente há décadas, a malha ferroviária ressurge com três mil quilômetros de trilhos em construção. “O Brasil está num caminho que o colocará numa situação de privilégio no contexto mundial”, resume Osvaldo Kacef, diretor de desenvolvimento econômico da Comissão Econômica da América Latina (Cepal).

Autor: Isto É Dinheiro