Pesquisadores da Coppe/UFRJ, no Rio de Janeiro, desenvolveram um sistema eficiente para remover mercúrio de efluentes líquidos e do petróleo.
O processo inovador já gerou dois pedidos de patente e promete reduzir o impacto ambiental da contaminação do mercúrio no ar, na água e no solo.
O sistema capta o mercúrio sem gerar resíduo tóxico, evitando o passivo ambiental produzido nos métodos tradicionais utilizados para esse fim.
Coordenado pelos pesquisadores Vera Salim e Neuman S. de Resende, do Programa de Engenharia Química da Coppe, o projeto conta com o apoio da Petrobras.
Emissões de mercúrio no ambiente
As atividades industriais e a queima de combustíveis fósseis são responsáveis pela emissão de altas taxas de mercúrio no meio ambiente.
Segundo mapeamento do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP na sigla em inglês), estima-se um aumento de 1480 toneladas emitidas em 2005 para 1850 toneladas em 2020 nos níveis mundiais de mercúrio, atingindo regiões até então pouco afetadas como alguns países da América do Sul, entre eles o Brasil.
Os pesquisadores advertem que, se nada for feito, até 2050 serão lançadas na atmosfera cerca de 8 mil toneladas de mercúrio, com acumulação de 2 a 3 mil toneladas no meio ambiente.
Entre os países com índices mais altos de mercúrio no mundo estão China, Índia e Estados Unidos. O Brasil aparece em sétimo lugar.
No encontro promovido pelo Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas, em junho deste ano, na Suécia, os pesquisadores discutiram a necessidade de elaborar uma legislação para o controle dos níveis de mercúrio no mundo. “Apesar de verificarmos um crescimento expressivo dos níveis do metal no Brasil e no mundo, há carência de dados precisos para melhor avaliarmos seus efeitos”, afirma Vera.
Remoção do mercúrio
No sistema concebido pelos pesquisadores do Laboratório de Fenômenos Interfaciais da Coppe, o mercúrio passa por uma coluna com adsorvente, um sólido à base de fosfato, que capta o mercúrio sem gerar resíduo.
A grande vantagem em relação aos métodos convencionais é que esse sistema possibilita a fixação do mercúrio na sua estrutura, evitando a recontaminação e os eventuais procedimentos de gerenciamento do material tóxico produzido.
Pelo método tradicional, ao regenerar o adsorvente o mercúrio é volatilizado e condensado, transformando-se no final do processo em mercúrio líquido, que é removido e estocado.
“Não temos dados sobre a quantidade e a forma como esse metal é armazenado. O risco de gerar um passivo ambiental é grande e os dados não são divulgados de forma transparente, o que dificulta uma avaliação precisa do índice de emissão e do risco de contaminação desse material no meio ambiente”, afirma Vera Salim.
Há cerca de oito anos a Coppe desenvolve pesquisa em processos de descontaminação de mercúrio. O processamento de petróleo, por exemplo, gera inevitavelmente resíduos tóxicos e a emissão do mercúrio na atmosfera.
Outra preocupação é o mercúrio acumulado, que é reintroduzido no meio ambiente, constituindo uma ampla cadeia de contaminação: o mercúrio é transportado pelas chuvas, levado a regiões estuárias, podendo acumular-se nos sedimentos ou no ar, por meio de fotossíntese.
Mercúrio no meio ambiente
O mercúrio está presente no meio ambiente em três formas distintas: metálico, orgânico e inorgânico.
“O mercúrio orgânico é o mais letal e pode estar presente, por exemplo, em peixes contaminados. Um rio afetado contamina peixes que, ingeridos, contaminam pessoas. As correntes atmosféricas e a migração dos pássaros também são capazes de levar o mercúrio a longas distâncias. Por essa razão, medidas regionais não são suficientes para conter a contaminação. Precisamos de decisões de alcance global, pois o mercúrio tem grande capacidade de disseminação, com transporte de longo alcance”, alerta Vera.
O mercúrio também está presente no dia-a-dia de todos, em produtos como amálgamas dentárias e lâmpadas fluorescentes que podem contaminar o meio ambiente após o seu descarte.
“É preciso ter consciência ambiental e regras para efetuar o descarte desse material. Precisamos estabelecer normas capazes de conter a disseminação do mercúrio e cumpri-las”, adverte Vera Salim.
As erupções vulcânicas também são responsáveis por emissões. Segundo a professora da Coppe, ainda é difícil medir o impacto desse fenômeno. “Não sabemos, por exemplo, quais são as consequências da erupção do vulcão na Islândia, que este ano despejou grande quantidade de fumaça e cinzas na atmosfera”.
Autor: Planeta Coppe Notícias