O gigante de 154 m de comprimento, 18 de boca, 9 de altura e deslocamento de 18 mil a 23 mil toneladas tinha dois reatores nucleares e podia mergulhar até 600 metros de profundidade. Construído em 1992, foi comissionado em setembro de 1994. Pouco mais de dois anos depois, a investigação do acidente que matou seus 118 tripulantes encerrou-se com uma conclusão: a explosão de um torpedo, abastecido com um instável combustível experimental, segundo alguns especialistas, ou defeituoso, segundo outros, detonou a munição a bordo, com exceção de 22 mísseis balísticos Granit.
O Kursk, antes do acidente
O resultado derrubou a hipótese de um choque acidental com um submarino espião americano, nunca comprovada, cujo suposto sinal de SOS teria sido captado na hora do desastre. Outra tese acabou também descartada: a de que a embarcação afundou por “fogo amigo”, atingida por um míssil de um encouraçado nas manobras que participava. Fosse qual fosse o motivo, o destino dos 23 homens no compartimento 9 estava selado. Mas seus cadáveres dariam contornos reais à tragédia a bordo de um gigante inerte nas profundezas geladas do Oceano Ártico.
Aos 21 anos de idade, o tenente Dimitri Kolesnikov era o oficial mais graduado no grupo. Seguindo treinamento recebido na base Fyodor Smuglin, no porto de Murmansk, ele assumiu o comando logo após a última explosão, exatos 135 segundos depois da primeira. Gravações recuperadas dos oscilógrafos de bordo – instrumentos que mostram os movimentos do casco – indicaram terem sido cinco detonações, sendo que em algumas, vários torpedos explodiram juntos. Os fatos restantes emergiram dos escombros e das autópsias realizadas depois que mergulhadores noruegueses e ingleses retiraram os primeiros 12 dos 57 corpos recuperados.
Local do acidente
Danos na estrutura
Missão [im]possível?
Na superfície, a operação de resgate patinava num mar implacável e no caos provocado no governo russo pelo acidente. Descobriu-se, tardiamente, que não havia nenhum mini-submarino capacitado para um resgate dessa natureza. O equipamento, emprestado, demorou a chegar e o mau tempo impediu que fosse descido logo. Não bastasse, a tormenta atrasou a missão dos mergulhadores e aumentou os riscos.
Mergulhadores noruegueses em resgate
Ainda assim, havia esperança até se perceber que a escotilha de emergência do submarino se abriu para um compartimento já alagado. Um mês depois do naufrágio, o alto-comando russo abortou a missão. Resgatariam apenas corpos em áreas acessíveis. O almirante Kuroyedov, em um encontro com o presidente Putin, recebeu a incumbência de tirar o Kursk do fundo. Pressionado pelas famílias dos tripulantes – que criticavam a lentidão do resgate -, por governos vizinhos preocupados com possíveis vazamentos de radiação dos reatores e ainda por militares receosos que segredos estratégicos pudessem ser perdidos, o presidente determinou que a ação fosse feita a qualquer preço – em um ano a partir daquela data.
Tamanho do Kursk, comparado a outros meios de transporte
Faltava tirar o submarino do fundo para recuperar os outros corpos. Um desafio que envolveu empresas de offshore do Mar do Norte. O polêmico projeto foi desenvolvido pela holandesa Mammoet Transport BV, especializada em transporte pesado, auxiliada por três gigantes do setor, Heerema, Smit Tak – que fabricou a serra gigante – e Halliburton. A operação consistia em quatro fases: a separação, por meio de lâminas elétricas, da seção de proa do submarino; a perfuração de 26 pontos na estrutura dorsal do Kursk; o içamento; e o reboque submerso.
Abertura da escotilha de emergência
A escala dos equipamentos foi fora do normal. Só os dois macacos hidráulicos usados para movimentar a serra submarina mediam 13 metros cada um. Foram seis dias apenas para cravá-los na posição correta, dos dois lados do casco. A operação com a serra foi treinada várias vezes pelos mergulhadores noruegueses em outro submarino da mesma classe, o Oryol, no Porto de Murmansk. Enquanto isso, a Mammoet preparava a peça-chave do processo: uma gigantesca chata, a Giant 4, com 36 metros de altura e 114 de comprimento, foi montada em Amsterdã a partir de quatro similares menores. Ela recebeu, longitudinalmente, 24 elevadores hidráulicos de grande capacidade. Em cada um, foi passado um cabo de aço de alta resistência.
Diagrama do submarino, e local de refúgio dos sobreviventes
Após o corte, trabalho que demorou uma semana, os mergulhadores iniciaram o segundo estágio, perfurando o casco do Kursk para a fixação dos cabos. Cada um mereceu uma tensão específica em função de sua posição na estrutura, pois o que restara do submarino estava ligeiramente adernado. Esta parte do trabalho demorou mais tempo que o previsto. Foi encerrada no fim de agosto de 2001 e contribuiu para o atraso no cronograma. Com mar ruim, os mergulhadores não podiam descer.
Plano de resgate – trabalho hercúleo
Feitos os furos, aguardou-se a chegada da Giant 4. Puxada por dois rebocadores, a chata levou 12 dias para sair de Kirkeness, na Noruega, e alcançar o ponto do resgate. Um a um, os cabos de aço foram sendo descidos e afixados no Kursk. Então, pouco depois da meia noite de um domingo, exatos 14 meses depois do naufrágio, os elevadores começaram a içar, a dez metros por hora, o que restava do submarino. Às 11 horas, veio um alerta de tempestade se formando. No momento mais crítico de toda a ação, foi dada a ordem para que os rebocadores puxassem a Giant 4 com o Kursk ainda a 40 metros de profundidade. Havia risco de os cabos se partirem pela pressão. A chata e sua carga demorariam 36 horas para vencer os 120 km até o Porto de Roslyakovo.
O saldo da complexa operação foi positivo. Custou US$ 130 milhões e durou 88 dias, 24 a mais que o previsto, mas o submarino chegou suficientemente inteiro à doca para ser periciado e permitir a retirada dos corpos. Não houve vazamento de radiação dos reatores, que se desligaram automaticamente na hora do desastre. Os 22 mísseis balísticos Granit, cada um com 600 kg de TNT na ogiva, puderam ser desativados sem que fosse preciso cortar os silos onde se aninhavam – oito de cada lado e outros seis perto da torre. Como parte do programa de desativação de armas lançado em 1997 pelo Congresso dos Estados Unidos, os últimos sete mísseis do Kursk foram destruídos entre os dias 15 de outubro e 5 de novembro do ano passado, em uma operação que consumiu sete toneladas de explosivos.
Para reparar a perda, o Kremlin ofereceu para cada família US$ 20 mil e pensão vitalícia
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Autor: WET – Wreck Expedition Team