Lockheed U-2 é muito mais que um belo par de asas

Há 50 anos, Francis Gary Powers foi atingido sobre a União Soviética em seu Lockheed U-2. O lendário avião espião teve vida mais longa que seu sucessor e ainda está voando hoje. 

O U-2 foi, e é, um dos aviões mais perigosos e difíceis de pilotar. Ele sobreviveu ao SR-71 Blackbird, um dos aviões mais legais já produzidos, devido a sua simplicidade, capacidade de altitude e custo de operação relativamente baixo. Os pilotos chamavam-o de Dragon Lady. Eles sabiam como lidar com a variação de pressão por voar naquela altitude. Ainda é usado no Afeganistão e no Iraque, operando em uma base no Golfo Pérsico. Somente a viagem dos EUA até a base dura 12 horas. 

A consequência de um avião leve o bastante para voar acima de 21.000 metros é que ele se torna quase impossível de controlar. E a 20 km do solo, a atmosfera é tão rarefeita que a diferença entre a falta e o excesso de potência para sustentação – voar tão rápido a ponto de perder o controle e iniciar um mergulho sem chances de recuperação – é uma linha tênue, que faz o menor erro ou até mesmo a turbulência, algo tão mortal quanto um míssil. 

A passagem seguinte é um trecho de uma excelente narrativa sobre a dificuldade e o romance de voar com esse avião, retirada do New York Times:

… conforme haviam me dito antes dos meus voos de treinamento. “pousar o U-2 é como jogar bilhar. Não é como você bate, mas sim como você planeja sua tacada”. Ou então, como disse meu antigo comandante, “Todos nós passamos por um momento em que um pequeno movimento equivocado pode nos matar”.

… os riscos valeram a pena? Absolutamente… e tiveram valor pessoal também. Nunca esquecerei da adrenalina ao pousar um planador movido a jato de milhões de dólares usando um traje espacial. E sempre lembrarei da paz de estar sozinho em um canto quieto do espaço, sem contato do rádio durante horas.

O reconhecimento aéreo sobreviverá ao U-2, mas ele sempre estará em um canto do coração daqueles que viram a curvatura da Terra, as estrelas perto o bastante para tocá-las, daqueles que sabem que cumpriram sua missão com a Dragon Lady.”

Crédito das fotos: foto de abertura – Lockheed Martin/Flickr. Gary Powers: Associated Press. Demais fotos: Max Whittaker para o New York Times.

Autor: Jalopnik