Engenheiro da USP diz que crianças têm mais chances de sobreviver a acidentes aéreos

Das 104 pessoas que estavam a bordo ao Airbus A330 da Afriqiyah Airways que se acidentou nesta quarta-feira (12) em Trípoli, na Líbia, apenas um menino holandês com idade em torno dos 10 anos sobreviveu. Em junho do ano passado, a única sobrevivente das 153 pessoas vítimas da queda do Airbus A310 da companhia aérea Yemenia, no Oceano Índico, foi uma garota de 14 anos.

Segundo James Waterhouse, professor do departamento de engenharia aeronáutica da USP (Universidade de São Paulo), a semelhança entre os casos não é mera coincidência: justamente por terem um porte físico menor, as crianças têm mais chance de saírem vivas em desastres aéreos.

“O tamanho e a massa das crianças é menor. Quando há uma desaceleração brutal, como nos acidentes aéreos, os esforços feitos pelos organismos das crianças também é menor. Além disso, como são menores, as crianças ficam mais distantes dos objetos do avião que podem atingi-la”, diz o pesquisador.

De acordo com Waterhouse, em acidentes de grande impacto, como os ocorridos na Líbia e no Oceano Índico, não há um local mais seguro do que outro no interior da aeronave. Contudo, em acidentes de menor impacto, os assentos traseiros são mais seguros. “Historicamente, em acidentes de impacto médio, os assentos das traseiras registram maior índice de sobreviventes. Mas em acidentes de grande impacto o lugar não faz a menor diferença”, afirma. 

Em termos numéricos, o pesquisador diz ainda não considerar a sobrevivência das crianças propriamente “um milagre”. “Em acidentes ocorridos com aeronaves numa velocidade entre 200, 300 km/h, como esse na Líbia, acontece de uma, duas ou até três pessoas sobreviverem”, diz. “Mas há outros aspectos a se considerar, como a quantidade de combustível, que aumenta ou diminui a chance de o avião pegar fogo. No acidente de hoje, por exemplo, as imagens mostram que não houve muito fogo. O avião deveria estar com pouco combustível, o que inclusive pode ter causado o acidente”, acrescenta.

Ainda de acordo com o professor, muitos estudos foram feitos e aplicados para adequar a poltrona de modo a torná-las menos perigosas aos passageiros em acidentes de impacto médio ou pequeno. “Antes, alguns acidentes que poderiam ter sobreviventes acabaram não tendo por conta das poltronas. Atualmente, as cadeiras são feitas de uma forma para que o impacto decorrente da desaceleração seja menor. Antes as poltronas eram mais rígidas. Hoje elas são mais suaves”, diz.

Mais um acidente com Airbus
Nos dois acidentes citados e em vários outros desastres aéreos ocorridos recentemente a aeronave envolvida foi fabricada pela Airbus. O modelo do acidente desta quarta-feira era um A330, o mesmo que caiu no Oceano Atlântico em junho do ano passado e matou 228 pessoas no trajeto entre Rio de Janeiro e Paris. No acidente do Oceano Índico, a aeronave era um Airbus A310, e na tragédia do voo 3054, ocorrida em julho de 2007 no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, o modelo era um A320.

Para Waterhouse, “não se sabe” se há alguma característica no Airbus que favoreça a ocorrência de acidentes. “Não existem indícios para dizer isso, nem para não dizer. As estatísticas mostram que a maioria dos grandes acidentes recentes envolveu aeronaves da Airbus, mas essas aeronaves passem pelos mesmos requisitos e ensaios do Boeing. Teoricamente ambos deveriam ter o mesmo nível de segurança”, conclui.

Autor: UOL