Durante muitos anos, poucos metais provocaram maiores bocejos nos executivos da mineração que o lítio, um elemento leve há muito tempo associado principalmente a medicamentos que estabilizam o humor.
De repente, os bocejos estão sendo substituídos por sorrisos. Conforme se espalha a consciência de que o lítio é um ingrediente crucial para carros híbridos e elétricos, começa uma caçada global por novas reservas do metal.
A Toyota Tsusho, fornecedora de materiais para a grande montadora japonesa, anunciou uma joint venture em janeiro com a mineradora australiana Orocobre para desenvolver um projeto de lítio de US$ 100 milhões na Argentina. O negócio só saiu dias depois que a Magna International, fabricante canadense de peças para automóveis que está ajudando a desenvolver uma versão elétrica do Ford Focus, anunciou investimentos de US$ 10 milhões em uma pequena firma de lítio canadense que também tem projetos na Argentina.
Esses foram os últimos de uma série de acordos e projetos anunciados no último ano, refletindo uma nova urgência entre as empresas para garantir o futuro suprimento do metal.
“Existe uma grande mudança a caminho”, disse James D. Calaway, presidente da Orocobre. “Estamos potencialmente na vanguarda de um aumento muito significativo na demanda por lítio para o emergente setor de transporte elétrico.”
Calaway acrescentou, porém, que é difícil prever o momento exato de um aumento na oferta e demanda de lítio, sobretudo porque os carros elétricos ainda não decolaram de maneira significativa.
Cerca de 60 mineradoras iniciaram estudos de factibilidade na Argentina, na Sérvia e em Nevada (EUA), que poderão levar a mais de US$ 1 bilhão em novos projetos de lítio nos próximos anos, enquanto dezenas de projetos menores estão sendo propostos em China, Finlândia, México e Canadá.
As empresas competem por financiamento para construção, e o futuro da maioria dos projetos dependerá da aprovação popular aos carros elétricos. Essa é uma questão em aberto, pois as baterias ainda são caras, as estações de recarga precisam ser desenvolvidas, e o gosto dos consumidores por carros que dependem de paradas regulares em tomadas elétricas ainda não foi testado.
“A coisa está se movendo tão depressa”, disse Edward R. Anderson, presidente do TRU Group, consultoria especializada na indústria de lítio. “Há muitas pessoas investindo nisso, e muitas vão perder dinheiro.”
Enquanto isso, os quatro maiores produtores atuais, que fazem mineração ou coleta de lítio em Chile, Argentina e Austrália, dizem que pretendem expandir antigos projetos conforme a demanda exigir.
Na Bolívia, que tem quase a metade das reservas mundiais, o governo de esquerda está construindo uma usina piloto e fazendo perfurações prospectivas. O fato de a Bolívia ser um país remoto e instável, muitas vezes hostil aos investimentos estrangeiros, ajudou a reforçar o interesse pela produção de lítio nos vizinhos Argentina e Chile, na Austrália e nos EUA. Várias empresas canadenses e americanas fazem alegações sobre as perspectivas de produção no Estado americano de Nevada, mas poucos analistas preveem uma produção em grande escala ali.
Enquanto a maioria dos especialistas duvida que quantidades significativas de lítio possam ser produzidas nos EUA, eles afirmam que suprimentos adequados estarão disponíveis em outras fontes além da Bolívia durante muitos anos e salientam que o maior produtor, o Chile, é um aliado americano confiável.
A maior parte do mercado de lítio atende a diversas aplicações industriais. Cerca de um quarto de todo o lítio produzido é usado para armazenamento de energia, em objetos como telefones celulares, computadores portáteis e câmeras digitais.
Essa proporção deverá aumentar acentuadamente se os carros movidos a bateria decolarem. As baterias de íons de lítio são o tipo preferido para veículos elétricos e híbridos porque contêm mais energia com menos peso que outros materiais e porque perdem sua carga mais lentamente. Elas armazenam cerca de três vezes mais energia por peso que uma bateria de níquel-hidreto metálico.
O lítio é encontrado em quantidades de traço em muitos lugares, mas é produzido comercialmente sobretudo por dois métodos. Um é através da mineração e processamento, que é relativamente caro e produz o metal principalmente para a fabricação de vidro, cerâmica e tubos de televisão.
O método mais econômico e importante é através da evaporação de salmoura que contém lítio, principalmente nas planícies salgadas em áreas da América do Sul e do oeste da China.
Os reservatórios de lítio se formaram durante milhões de anos em bacias em planaltos, depois que os rios e as fontes quentes lavaram as rochas e dissolveram seus minerais. Os produtores perfuram poços nas planícies salgadas e bombeiam a salmoura para lagos de evaporação. Com a remoção da água, o conteúdo de lítio na salmoura aumenta até um nível em que pode ser recolhido e enviado para processamento em uma usina química.
Pelos padrões dos booms tradicionais de ouro e cobre, o aumento de interesse pelo lítio ainda é discreto entre as grandes mineradoras. Mas várias grandes fabricantes de carros prometem comercializar veículos elétricos em todo o mundo nos próximos anos, e a procura deverá aumentar.
“Acreditamos que a demanda está destinada a aumentar drasticamente”, disse um recente relatório da consultoria de investimentos Byron Capital Markets.
Autor: The New York Times