O foco e o volume de dinheiro gasto no Brasil em Ciências Sociais mostra um desequilíbrio grande em relação a outras áreas de conhecimento em que há carência de profissionais, provocada, sobretudo, pela inserção do Brasil na economia global nos últimos anos.
A avaliação foi feita nesta segunda-feira (8) pelo presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Reginaldo Braga Arcuri, em painel promovido pela Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI) sobre o tema “A política de formação e capacitação de recursos humanos frente à política de desenvolvimento produtivo”.
Segundo Arcuri, o Brasil precisa investir em inovação tecnológica, tendo em vista que o país voltou a ter demanda por trabalho qualificado em alguns setores, como engenharia, que chega a ser maior que a capacidade do país em formar esses profissionais.
– À medida que as máquinas vão sendo incorporadas ao processo cotidiano de produção, o trabalhador tem que ter um nível mais especifico de qualificação, e isso acaba sendo feito pela própria indústria, dada a velocidade com que ela necessita desses trabalhadores – afirmou.
O Brasil, segundo o presidente da ABDI, tem que ser ainda mais competitivo e não apenas “detentor de riquezas naturais com mão-de-obra eventualmente barata”.
– Só vamos efetivamente responder aos desafios que o resto do mundo nos propõe se tivermos gente capacitada tanto na pesquisa básica como na operação direta de máquinas – afirmou.
Arcuri observou ainda que o Brasil “conseguiu obviamente dar um salto importante no quantitativo de anos de estudo da população”, mas que é preciso observar se as pessoas estão efetivamente absorvendo esses conhecimentos e sendo capazes de fazer com que eles se transformem em “algo útil” para o processo produtivo.
O presidente da ADBI registrou ainda que os operários são hoje “atores e partícipes” do processo de produção, com a utilização de máquinas complexas que demandam conhecimentos. Na indústria automobilística, segundo ele, já não ocorre um “mero ajuntamento passivo de peças”, mas a presença dos operários em células de produção que exigem dos trabalhadores soluções cotidianas ou semanais de como aprimorar o próprio trabalho, o que implica ter noção de processo industrial.
Após a exposição de Arcuri, Fernando Collor observou que o Brasil tem demanda em nível superior e técnico e que o país não tem mais tempo de “continuar discutindo métodos”. O processo de educação à distância, segundo ele, exige profissionais com capacidade de decodificar o que está sendo passados aos alunos.
– Os professores precisam ser qualificados e ter salário compatível com magistério- afirmou o presidente da CI.
Participantes
O painel também contou com a participação do presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho; o deputado federal Alceni Guerra (DEM-PR); e o presidente do Grupo Ultra, Pedro Wongtschowski.
Carvalho Filho, do CNPq, disse que o Brasil forma anualmente cerca de 30 mil engenheiros, número bem abaixo do verificado em países como a Rússia (190 mil), Índia (220 mil) e China (650 mil). Embora o Brasil esteja em 13º lugar na produção de conhecimento global, à frente da Holanda e da Rússia, no caso de engenharia o país ocupa a 21ª posição.
As empresas brasileiras, segundo Carvalho Pinto, “inovam pouco e diferenciam pouco” seus produtos. Em 2015, afirmou, o Brasil já terá um déficit mais significativo de engenheiros, principalmente em áreas ligadas à província petrolífera da camada pré-sal, que exigirá tecnologias ainda a serem descobertas, além do setor espacial, aeronáutico e nuclear, “que hoje já se ressente da falta de profissionais qualificados”.
Carvalho Pinto disse ainda que 11 mil doutores são formados anualmente no Brasil, mas que o país reponde por apenas 2% da produção cientifica publicada em revistas especializadas. O presidente do CNPq disse que o Brasil tem o pior desempenho em relação às patentes depositadas nos Estados Unidos, sendo também superado nesse setor pela Rússia, Índia e China.
Ex-prefeito de Pato Branco durante a implantação de um pólo tecnológico, Alceni Guerra lembrou que o município paranaense, que há alguns anos atraiu empresas de tecnologia e hoje detém um dos maiores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) no país, agora sofre dificuldades na implantação de novos empreendimentos em razão da falta de cursos técnicos e tecnológicos.
– O sistema de impostos é o mesmo, os laboratórios são os mesmos, mas falta mão-de-obra porque o Cefet [centro de ensino tecnológico], que tinha cursos técnicos, se transformou em universidade e abandonou os cursos técnicos para investir em engenharia e graduação mais sofisticada – afirmou.
Por sua vez, Pedro Wongtschowski, do Grupo Ultra, que conta hoje com 10 mil funcionários no Brasil, sugeriu que as empresas atuem em conjunto com as universidades nos cursos de formação de tecnólogos, como forma de melhorar a formação inicial dos ingressantes no mercado de trabalho e de agilizar a adequação dos currículos.
Recomendou ainda a adoção de incentivo à pesquisa concentrada em áreas estratégicas, tendo em vista que as verbas encontram-se hoje muito pulverizadas e não favorecem o estudo de temas complexos e extensos; incentivo à pesquisa conjunta entre a empresa e a academia; criação de laboratórios nacionais geridos por organizações sociais para projetos de pesquisa da área acadêmica; e incentivo à pesquisa acadêmica com entidades internacionais.
E ainda a ampliação da atuação do Ministério da Educação (MEC) por meio de instituições privadas; aumento dos programas universitários de graduação em formato cooperativo, já existentes em algumas regiões do país; fomento aos exames de certificação, o que favoreceria a preocupação constante com atualização e aprimoramento; e o desenvolvimento de cursos ligados às novas tecnologias.
As sugestões contaram com o apoio do senador Gilberto Goellner (DEM-MT), sobretudo a que propõe a extensão de programas universitários em formato cooperativo nas regiões mais afastadas do país. Já o senador Mão Santa (PSC-PI) lembrou que o ensino no Brasil antigamente era mais “organizado”.
Autor: GazetaWeb.com