As faixas exclusivas para motocicletas não correspondem à solução do problema maior, falta do transporte público suficiente e de boa qualidade. O estabelecimento de motofaixas faz parte de estratégia para combater o altíssimo risco de vida contemporâneo dos motociclistas e neutralizar de forma pontual a guerra entre motoristas e motociclistas, estabelecendo um muro da vergonha, em vez de confraternizá-los. Elas são respostas aos graves problemas do trânsito urbano brasileiro da atualidade, observado sob ótica restrita.
Afinal, qual é o verdadeiro problema? Baixa capacidade dos transportes públicos a gerar baixo índice de mobilidade sustentável: o número de viagens diárias efetuadas por cidadão, sem poluir muito, sem gastar muita energia e sob risco reduzido. Desta forma, políticas ideais correspondem a aumentar a capacidade do transporte público com base em ônibus que circulem em vias expressas, bilhetagem rápida, maior rede de sistemas de metrô nas metrópoles e incentivo ao estacionamento integrado de automóveis, motocicletas e bicicletas ao transporte coletivo.
Contudo, o Brasil optou errado quanto às soluções ao transporte urbano. A falta do artigo 56 no Código de Trânsito Brasileiro, que proibiria a prática dos famigerados corredores de motocicletas entre os carros. Incentivos à aquisição de motocicletas através de financiamentos populares. Radares que fotografam de frente sarcásticos sorrisos em vez de placas. Pedágios livres para motocicletas. Ações que tornam excessivo o uso da motocicleta. Ações que aumentam o índice de mobilidade e diminuem o espaço ocupado por automóveis nas vias, cuja maioria circula com baixa taxa de ocupação,, geralmente somente um ocupante. Porém, a troca do carro pela motocicleta, relega a segurança. Basta simples leitura das funestas estatísticas deste motorodoviarismo desenfreado.
Capacetes de baixa qualidade ou muito desgastados têm sido utilizados. A folga na cabeça é fator gerador de maior transmissibilidade de energia de impactos para a caixa craniana. Faz concussão virar contusão hemorrágica, prenunciando morte.
Outro erro do estabelecimento das motofaixas é a redução da largura das faixas de tráfego para os outros veículos. A capacidade das faixas de tráfego é diretamente proporcional à velocidade veicular, onde redução de 30 cm na largura de uma faixa de tráfego tende a acarretar perda de 15% na capacidade. Temos esta folga? A política voltada ao transporte individual dá maior aprovação, deixa todos felizes em suas motocicletas e automóveis, apesar de parados em congestionamentos monstruosos, enquanto falam nos celulares. O vultoso e necessário recurso para os transportes públicos é solução para a ampla gama de mazelas urbanas. E é muito menor do que o valor equivalente à perda energética em veículos parados, de horas de trabalho e até de nossos entes queridos nas selvas de pedra que se transformaram os outrora locais de desejo de moradia por quem fugia do campo.
Creso de Franco Peixoto
é engenheiro civil, mestre em Transportes e professor de Engenharia Civil do Centro Universitário da FEI (Fundação Educacional Inaciana).
Autor: Creso de Franco Peixoto