Quem sofre com as temperaturas elevadas no atual verão no Brasil pode se consolar em saber que a situação já foi muito pior. Imagine um El Niño que simplesmente não vai embora, não dando chances para a redução do calor durante muitos séculos?
Em artigo publicado na edição desta quinta-feira (25/2) da revista Nature, pesquisadores da Universidade Yale e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos, apontam um motivo para as temperaturas elevadas de 3 milhões a 5 milhões de anos atrás, durante o início do período Plioceno.
Uma dúvida que intrigava os cientistas era como o calor se manteve durante tanto tempo, uma vez que as concentrações de dióxido de carbono eram semelhantes às atuais.
Segundo o estudo, o motivo foram os ciclones tropicais (ou furacões) mais frequentes no Pacífico, que alteraram a distribuição de água quente no Equador, levando a uma espécie de El Niño muito duradouro. O resultado foi uma temperatura média cerca de 4º C mais elevada do que a atual.
Alexey Fedorov, de Yale, e colegas combinaram um modelo de estudos de furacões com modelos climáticos para investigar a época que muitos pesquisadores consideram a mais próxima das condições que se esperam no futuro próximo com relação à emissão de gases de efeito estufa.
O grupo identificou uma relação entre furacões e a circulação nas camadas superiores do oceano. Massas de água foram aquecidas pelos ciclones à medida que se dirigiam ao Equador e, depois, subiram no Pacífico equatorial leste como parte da circulação oceânica promovida pelas correntes de ar.
De acordo com a pesquisa, ciclones tropicais eram mais frequentes no Pacífico Central, área em que atualmente há poucos furacões. E essa grande atividade provavelmente fortaleceu o aquecimento do Pacífico equatorial leste o que, por sua vez, aumentou ainda mais a frequência de furacões.
A relação entre furacões e circulação oceânica pode levar a múltiplos estados climáticos, apontam os pesquisadores. Um deles, ocorrido no início do Plioceno, foi o de condições de El Ninõ milenar. Outro estado é o atual, de um Pacífico equatorial leste mais frio.
Segundo os autores, os resultados da pesquisa reforçam o papel importante dos ciclones tropicais no clima do planeta.
O artigo Tropical cyclones and permanent El Niño in the early Pliocene epoch (Vol 463 | doi:10.1038/nature08831) de Alexey Fedorov e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.
Autor: Agência FAPESP