As cotações mais altas de matérias-primas e metais devem dar um empurrão aos lucros das maiores siderúrgicas e mineradoras do mundo, ao mesmo tempo em que levam grandes consumidores de aço a aumentar as previsões de custos para este ano.
Os resultados do quarto trimestre e anuais a ser divulgados esta semana por ArcelorMittal, a maior siderúrgica do mundo, BHP Billiton, Vale SA e Rio Tinto PLC, as três maiores mineradoras, devem mostrar os benefícios desses preços mais altos.
Setores que utilizam bastante aço, como o automobilístico, o de equipamentos e o de eletrodomésticos, já se preparam para os custos mais altos. Esses custos maiores podem no final ser repassados aos consumidores. A Ford Motor Co. e a Whirlpool Corp. afirmam que o custo da matéria-prima vai subir.
“Acho que vamos começar a ver as commodities se movimentando na direção errada nos próximos meses”, disse Lewis Booth, diretor financeiro da Ford, a participantes do Salão do Automóvel de Detroit no mês passado.
Nos últimos meses, a demanda por minerais e metais cresceu por causa da contínua força da economia chinesa e da lenta recuperação dos Estados Unidos e, em menor grau, da Europa.
O resultado é que a cotação do aço subiu entre 10% e 30% no quarto trimestre e até o fim de janeiro, a depender do mercado e da localização.
A cotação do aço deve continuar subindo, porque uma quantidade razoável de capacidade de produção foi eliminada em 2009, fazendo com que haja uma relação baixa de oferta para demanda.
Como o preço dos ingredientes para produzir aço — minério de ferro e carvão — estão subindo, as cotações à vista do ferro e do coque devem subir entre 30% e 40% em 2010, uma tendência positiva para a Rio Tinto, a BHP e a Vale. Os preços dos contratos anuais entre mineradoras e siderúrgicas estão em negociação, mas a expectativa é de que subam até 40%. A expectativa é que se chegue a um contrato em abril.
A maioria dos grandes bancos já elevou as avaliações para as ações das grandes mineradoras com base na alta dos metais e dos minérios. “Se você é produtor de minério de ferro, deve ficar bem confortável este ano”, diz Gavin Wood, analista da Nomura International PLC.
A BHP emitiu no mês passado a previsão mais otimista para as commodities desde o início da crise e o minério de ferro foi um elemento importante dessa perspectiva mais positiva. “Durante o trimestre de dezembro, vimos uma forte recuperação do preço impulsionada pela demanda na China e recuperação dos estoques nos países desenvolvidos”, afirmou a empresa a investidores em seu último relatório, em janeiro.
A maioria das siderúrgicas deve repassar o custo mais alto do ferro e do carvão para os fabricantes de bens duráveis, como eletrodomésticos e automóveis. Algumas siderúrgicas — principalmente a ArcelorMittal, a U.S. Steel e as russas — detêm jazidas próprias de minério de ferro e carvão. As minas de ferro da ArcelorMittal podem fornecer cerca de metade da sua demanda, enquanto suas minas de carvão correspondem a 15% da demanda.
O resultado disso é que seus custos devem cair quando comparados aos de outras siderúrgicas que precisam comprar mais ferro e carvão, mas venderão o aço produzido ao mesmo preço, aumentando a margem de lucro. “O futuro parece que ficou mais positivo para a ArcelorMittal. Ela vai ganhar uma margem extra”, diz Thorsten Zimmermann, analista de metais do HSBC Bank PLC.
A ArcelorMittal deve voltar ao lucro no quarto trimestre de 2009, com os analistas prevendo em média lucro de US$ 0,40 por ação. Um ano atrás, a empresa divulgou prejuízo de US$ 2,63 bilhões no quarto trimestre de 2008.
Grandes compradores de aço ainda não entraram em pânico porque normalmente compram em contratos de longo prazo que mantêm os preços estáveis. “Nos grandes mercados, como Europa e América do Norte, temos acordos numa certa amplitude, então acho que nosso aço é relativamente previsível, pelo menos nos grandes mercados”, diz Jeff Fettig, diretor-presidente da Whirlpool. “No mercados emergentes a discussão está sempre em aberto.”
A fabricante de máquinas Cummins Inc. está tentando mitigar os custos maiores. “Acho que os custos nos mercados de metal serão desfavoráveis para nós, mas em matéria-prima as pessoas têm compensado isso com engenharia de valor, busca de fontes mais baratas e negociações contínuas”, disse o diretor financeiro Pat Ward a investidores no início do mês.
Autor: Wall Street Journal