Casas inteligentes pressupõem equipamentos eletrônicos e eletrodomésticos que, mesmo não sendo um primor em termos de QI, sejam capazes pelo menos de conversar uns com os outros.
Isto começa a se tornar possível, graças ao trabalho de um consórcio de empresas e instituições de pesquisas da Europa.
Eles construíram uma camada intermediária de software e hardware – um middleware – que permite que sensores e equipamentos de diversos fabricantes troquem dados e funcionem de forma cooperativa.
Tecnologias do futuro
A maioria das propostas de casas e edifícios inteligentes pressupõe a existência de capacidades embutidas nos aparelhos domésticos – da TV e da geladeira até os sistemas de aquecimento, iluminação e ar condicionado – que os tornem capazes de se comunicar uns com os outros, de preferência por meio de redes sem fio.
Essa interconexão permitirá uma operação em conjunto que aumente o conforto e o bem-estar dos moradores e, sobretudo, economize energia ao máximo.
Mas como aparelhos diferentes, utilizando diferentes tecnologias, fabricados por empresas diferentes, em momentos diferentes, poderiam comunicar-se uns com os outros?
Uma forma seria a de insistir em que todos os dispositivos sejam fabricados em conformidade com algum padrão acordado, nacional ou internacionalmente. Mas isso seria complexo e demorado demais, além de se aplicar somente aos aparelhos novos.
Isso também poderia sufocar a inovação tecnológica, ao impor restrições sobre tecnologias do futuro, que ainda não foram sequer imaginadas.
Internet das coisas
Uma forma muito melhor, afirmam os pesquisadores do projeto Hydra, é desenvolver uma camada de middleware, orientada para o serviço a ser prestado, e que possa ser utilizada de forma flexível pelos fabricantes.
“Isso vai ajudar os fabricantes, desenvolvedores de software e integradores de sistemas a construir aparelhos e equipamentos que possam ser ligados em rede com facilidade e flexibilidade através de serviços web, criando soluções de alto desempenho e com ótimas relações entre custo e eficiência,” explica Markus Eisenhauer, gerente do projeto.
Com a camada Hydra, todos os tipos de aparelhos, incluindo os medidores de eletricidade, água ou gás, e não apenas os aparelhos de uso interno da casa inteligente, poderão ser interconectados sem que se necessite saber o que acontece dentro deles.
Em princípio, qualquer dispositivo Hydra pode se conectar a qualquer outro, trazendo tão propalada “internet das coisas” um pouco mais próximo da realidade.
Assistência técnica remota
O middleware fornece acesso a todos os sensores e dispositivos embarcados. Com isto, um desenvolvedor de software não precisa se preocupar com os tipos de sensores que estão instalados na casa.
“Se você deseja obter um valor de temperatura, você pode simplesmente pedir ao middleware semanticamente – Eu quero a temperatura desta sala- e a camada Hydra irá interpretar o pedido e fornecer acesso aos sensores correspondentes,” explica ele.
Os aparelhos atuais podem ser adaptados para funcionar com o mesmo sistema. “Estamos distribuindo um kit de desenvolvimento onde você poderá integrar o middleware nos aparelhos,” diz Eisenhauer, “mas você pode utilizá-lo com os aparelhos já existentes e habilitá-los para o padrão Hydra, desde que eles tenham algum poder de processamento.”
A tecnologia não facilitará apenas o uso e controle dos aparelhos, mas também sua manutenção e assistência técnica. Colocando sensores dentro dos seus produtos, como máquinas de lavar ou qualquer outro eletrodoméstico, os fabricantes poderão acessá-los e diagnosticar os problemas remotamente, sem precisar de fazer uma visita ao local.
Saúde em casa
E a automação doméstica – ou domótica – é apenas um exemplo do que se pode fazer com a plataforma Hydra.
Outra aplicação importante será na área da saúde, especialmente no acompanhamento de pacientes em suas próprias casas. Os parceiros do projeto criaram uma demonstração utilizando sensores de rede de medição de peso corporal, pressão arterial, glicemia e saturação de oxigênio. Um sensor muscular é capaz até mesmo de emitir avisos de um ataque epiléptico.
“Nós temos alguns protótipos e demonstradores já em funcionamento, onde temos usado um Playstation 3 comum funcionando como uma central de controle de uma casa”, diz Eisenhauer.
“Então nós temos diferentes tipos de tecnologias – ZigBee, Bluetooth e outras – tudo coberto por nosso gerenciamento de rede dentro da plataforma Hidra,”, diz Eisenhauer. “E então, só para mostrar que também podemos usar aparelhos de prateleira, nós usamos um acessório do Wii como balança e o ligamos ao nosso PlayStation 3.”
O console PlayStation 3, que já está em muitas casas, pode facilmente executar o middleware Hydra e, segundo os engenheiros, proporcionando total privacidade aos dados dos pacientes.
“Não é um sistema de telemedicina completo, mas tem todos os ingredientes necessários de um sistema desse tipo e, nesse momento, está funcionando com hardware diverso e heterogêneo,” diz Eisenhauer.
Tecnologia agropecuária
A agropecuária também poderá se beneficiar da plataforma Hydra.
Em um experimento, porcos foram equipados com etiquetas RFID para que seus movimentos pudessem ser monitorados. “Nós podemos localizar cada porco no barracão ou fora dele, e podemos usar isso para controlar o sistema de aquecimento e ventilação. Se o galpão ficar muito lotado, a temperatura sobe e então o sistema de aquecimento reage de acordo,” explica o engenheiro.
Em outro experimento, sensores sem fio ZigBee monitoram a umidade do solo em um campo, ajudando os agricultores a decidir o melhor momento para semear as suas culturas.
Inteligência ambiente
Para Eisenhauer, a plataforma Hydra traz para mais perto da realidade um mundo de inteligência ambiente, ou computação ubíqua, onde a inteligência artificial se torna parte do nosso ambiente cotidiano.
“É um viabilizador da visão que Mark Weiser, o fundador da computação ubíqua, tinha do computador que desaparece. A plataforma Hydra é uma tecnologia que poderá fazer este sonho se tornar uma realidade,” diz ele.
Toda a plataforma Hydra está sendo desenvolvida como código aberto (open source) e está disponível no repositório SourceForge. Mais informações podem ser obtidas no site www.hydramiddleware.eu.
Autor: ICT Results