Não faz muito tempo que São Paulo tinha “apenas” 3,5 milhões de habitantes e menos de 100 mil carros pelas ruas. O ano era 1958. O prefeito, Adhemar de Barros. A bossa nova era novidade, o Brasil acabava de ganhar sua primeira Copa e as (poucas) TVs não tinham cor. Graças ao levantamento de uma empresa de aerofotogrametria, o Estado apresenta, na véspera do 456º aniversário da cidade, imagens aéreas de pontos importantes do município separadas por um hiato de 50 anos – as mais recentes são de 2008.
“As diferenças são impressionantes”, comenta o arquiteto e historiador Benedito Lima de Toledo, da Universidade de São Paulo (USP) e autor de, entre outros livros, São Paulo: Três Cidades em um Século. “Nas fotos antigas percebemos, por exemplo, uma escassa ocupação demográfica a oeste do Rio Pinheiros e ao norte do Rio Tietê. Os rios eram um limite físico.”
Cinquenta anos depois, com uma população três vezes maior – e, diga-se, diversas obras de infraestrutura urbana implementadas ao longo das décadas – a realidade é um bocado diferente. E caótica. São mais de 6 milhões de carros pelas ruas que, quando chove muito, costumam alagar.
Mas paulistano que é paulistano ama e tem orgulho de sua cidade. Por isso, ainda que desordenado, o crescimento precisa ser reconhecido. As imagens desta página e da C3 mostram a evolução de alguns pontos da metrópole que faz aniversário amanhã.
Berrini: região valorizada por urbanização recente
Até os anos 1960, a região onde hoje se encontra a Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, no Brooklin, era pantanosa. Várzea do Rio Pinheiros, a área ficou conhecida como “dreno do Brooklin”. Em 1975, três arquitetos – Carlos Bratke, Roberto Bratke e Francisco Collet – se instalaram no local e começaram a bolar projetos para a avenida, incluindo a drenagem do terreno.
“Era um bairro desvalorizado, não valia nada. Com as melhorias, começou ali uma urbanização acentuada, principalmente no início da década de 1980”, comenta o engenheiro civil Geraldo Borghetti, ex-secretário municipal de Vias Públicas e coautor do livro Avenidas 1950-2000: 50 Anos de Planejamento da Cidade de São Paulo. “Em geral é assim que acontece em São Paulo: a iniciativa da urbanização é particular e, na sequência, vem acompanhada por investimentos estruturais do poder público.”
A partir dos anos 1990, a região da Berrini se consolidou como um dos mais importantes polos comerciais paulistanos. Trinta e cinco anos depois, o escritório do arquiteto Carlos Bratke continua ocupando um endereço da avenida que não parou de progredir economicamente. Ele deve ver o sucesso da janela.
A favela que surgiu onde só havia mato
“Com o crescimento da cidade, observamos dois fenômenos ocorrendo ao mesmo tempo: a verticalização das áreas mais valorizadas, com a construção de grandes prédios, e a ocupação das regiões mais periféricas, principalmente pela população de baixa renda”, analisa o geógrafo Diamantino Alves Pereira, da Universidade de São Paulo (USP).
Segunda maior favela de São Paulo, Paraisópolis ocupa uma área equivalente a 97 campos de futebol, incrustada no – atualmente verticalizado – bairro do Morumbi. A região começou a ser ocupada, timidamente, nos anos 1940. Em 1970, já tinha 200 mil habitantes, em geral migrantes que vinham para São Paulo em busca de emprego. Hoje em dia, 80 mil pessoas vivem nas quase 18 mil casas de alvenaria do bairro – mais do que muita cidade do interior.
Autor: O Estado de S.Paulo