A resolução de ano-novo da China: comprar mais ativos no exterior, especialmente de recursos naturais.
Soa familiar? É a mesma promessa que a China fez no ano passado e no anterior.
As fusões e aquisições chinesas no exterior somaram US$ 43,39 bilhões em 2009, segundo a Dealogic, firma que acompanha essas transações. Em 2008, o total foi de US$ 50,33 bilhões, mas apenas porque o acordo mais ambicioso da China naquele ano, a proposta da Corporação de Alumínio da China, a Chinalco, para fazer uma aliança de US$ 19,5 bilhões com a Rio Tinto, fracassou depois que a mineradora anglo-australiana optou por um acordo com a BHP Billiton.
Os resultados da febre de aquisições chinesas no exterior, que atingiu o apogeu em 2008, são impressionantes. A atividade total de fusão e aquisição de 2008 e 2009 ultrapassou toda a atividade chinesa nesse segmento dos últimos oito anos.
E não espere que as coisas se acalmem tão cedo.
“Acreditamos que essa tendência muito provavelmente vai continuar, diante do tamanho da economia chinesa em relação a outras economias da região, e da vontade das empresas chinesas de se expandir internacionalmente”, diz Ed King, diretor da divisão de F&A para a Ásia e Oceania do Morgan Stanley. A principal área de foco, acrescenta, serão os recursos naturais, que responderam por uns dois terços do total de transações fechadas pela China no exterior no ano passado.
Ferro, cobre, carvão, gás natural e outros recursos são cruciais para alimentar o crescimento da China e Pequim já deixou claro que investimentos no exterior que assegurem esses recursos serão autorizados. Os compradores não enfrentaram problemas na hora de conseguir financiamento do Banco de Desenvolvimento da China e outras estatais.
É como descreve Joseph Gallagher, diretor de F&A para a Ásia e Oceania do Credit Suisse: “A única limitação é no lado dos vendedores. Há ativos suficientes para comprar e as autoridades de regulamentação nos mercados-alvo vão permitir esses investimentos?”
Dois dos maiores acordos chineses no exterior recentemente envolveram a aquisição de minas na Austrália, mas o investimento chinês no país segue sendo uma questão politicamente sensível. Alvos de aquisição em outros países, como a Argentina, onde banqueiros dizem que petrolíferas chinesas já chegaram a cogitar a aquisição de ativos da espanhola Repsol YPF SA, podem ser ainda mais delicados.
O preço e a concorrência também podem desacelerar os esforços chineses. A recuperação das commodities tornou os ativos de recursos naturais mais caros e compradores rivais da Índia, Coreia do Sul e outros lugares mostram que não é só a China que tem dinheiro para gastar.
Alguns anteveem até a volta do investimento chinês no setor manufatureiro, como o automotivo. “Acho que eles vão analisar áreas em que podem comprar capacidade (de produção) e marca”, a última uma área em que os fabricantes chineses tradicionalmente são fracos, diz David Chin, co-diretor de banco de investimento do UBS AG para a região.
As empresas chinesas já começaram a selecionar os cacos que lhes interessam em meio aos escombros das montadoras americanas e europeias. No que pode ser uma venda histórica, a Ford Motor Co. pretende fechar um acordo definitivo para desovar sua divisão Volvo na Zhejiang Geely Holding Group Co. por uns US$ 2 bilhões neste início de ano.
Um fator importante nesses acordos é a possibilidade de adquirir um ativo estrangeiro para explorá-lo no mercado doméstico, onde o potencial de crescimento é muito mais atraente que nas maduras economias dos países desenvolvidos.
Para a Geely, diz Chin, “a motivação principal não era comprar a Volvo e conquistar o mundo, mas comprar a Volvo e conquistar o mercado chinês”. Ele e outros acreditam que há potencial para isso ocorrer em vários setores, como o de tecnologia.
O investimento chinês em empresas do setor financeiro de países ricos não foi muito bem aceito domesticamente, e poucos esperam que o país faça tão cedo mais investidas nessa direção. Mesmo assim, é possível que ocorra algum investimento seletivo no setor em 2010. Duas áreas em que é bom ficar de olho são empresas financeiras que não são bancos, como administradoras de recursos que contam com a expertise que a China não tem, e bancos em países próximos da China, como no Sudeste Asiático.
Com toda a empolgação relacionada ao investimento chinês no exterior, a atividade interna de F&A na China continua sendo uma área em que as expectativas diminuíram consideravelmente. Um dos principais motivos é o persistente efeito da decepção de março, quando o governo chinês barrou a oferta de US$ 2,4 bilhões da Coca-Cola Co. para comprar a fabricante de suco China Huiyuan Juice Group Ltd., devido a temores sobre seu impacto na concorrência interna.
Mas, além disso, num cenário de alta liquidez como o da China, as boas empresas simplesmente não precisam mais do investimento estrangeiro como antes. O renascimento das aberturas de capital nas bolsas chinesas este ano dificultou que compradores estrangeiros façam ofertas competitivas.
Qualquer empresa que tenha um lucro de US$ 10 milhões a US$ 15 milhões por ano vai tentar uma abertura de capital, explica um banqueiro, em vez de um acordo com um investidor estrangeiro. “É simplesmente difícil enxergar a possibilidade de surgirem muitos acordos substanciais”, diz ele.
Autor: The Wall Street Journal