Exploração da camada do Pré-sal, Copa do Mundo, Olimpíadas, além das obras prioritárias e estruturais para o País crescer com sustentabilidade nos próximos anos. Todos estes desafios demandam mão de obra qualificada e simbolizam um vasto campo de trabalho e de oportunidades para os nossos engenheiros.
O problema para atender esta demanda demonstra que a profissão de engenheiro foi perdendo espaço na escolha dos nossos jovens e, como se não bastasse, ainda temos cursos que deixam a desejar na formação dos Profissionais do Desenvolvimento.
Tudo isto num quadro de um modelo econômico monetarista e que serve à estabilidade, mas é claramente insuficiente para termos um desenvolvimento consistente, sustentável. Daqui a alguns meses teremos de volta um quadro a que já assistimos: gargalos da infra-estrutura, investimentos insuficientes e os monetaristas propondo elevar juros, segurar o ritmo de crescimento!
Um levantamento feito por um jornal periódico revela o quadro preocupante de escassez de profissionais de engenharia a partir da combinação entre a falta de cursos e o alto índice de abandono. Nos 589 cursos autorizados pelo Ministério da Educação, entre julho de 2008 e agosto de 2009, só 13% eram da área. Nem mesmo as novas universidades públicas têm ajudado: entre os 283 cursos ofertados pelas 12 novas federais, só 52 são de engenharia. O próprio Ministério admite a dificuldade em incentivar novos cursos.
Faltam profissionais para ensinar e o alto custo para a criação de laboratórios inibe instituições privadas, que preferem se dedicar a áreas mais simples ou em cursos que têm alto custo, mas rendem mensalidades mais caras. Engenharia é uma das únicas áreas do ensino superior em que a distribuição de vagas é quase meio a meio entre públicas e particulares. Na soma geral, 75% das graduações estão na mão de faculdades privadas.
As denominações de engenharia – civil, naval, aeronáutica, florestal, entre outras – somam 77. Desde 2002, o número de vagas disponíveis em cursos da área cresceu 40%. Parece muito, mas o patamar de partida era muito baixo. Em 1991, enquanto direito já tinha 35 mil vagas nos vestibulares, engenharia tinha 5 mil.
Hoje, todos os cursos de engenharia no País somam pouco menos de 120 mil vagas – excetuando-se ainda engenharia de alimentos e algumas outras denominações que são, na verdade, cursos de tecnologia. Isso representa pouco mais de 4% de todas as vagas de ensino superior do País.
Na Coreia do Sul, 26% de todos os formandos são engenheiros. No Japão, 19,7%. Mesmo o México, país com indicadores semelhantes aos brasileiros, hoje tem 14,3% de formandos nessa área. Na China, eles somam 40%.
Um em cada quatro engenheiros do País se formou em cursos, inadequados, apontam dados divulgados pelo mesmo Ministério da Educação. Em números absolutos, 6,3 mil dos 24,9 mil formandos da área que participaram, no ano passado, da avaliação federal estavam em cursos com notas 1 e 2, as mais baixas na escala de qualidade do Conceito Preliminar de Cursos, um indicador do MEC. Dados que ficam ainda mais dramáticos, quando vemos que empresas chegam a recrutar profissionais no exterior.
Formado em engenharia pela Escola Politécnica da USP (Poli/USP), vejo este quadro como um prenuncio de uma tragédia anunciada. Lembro-me saudoso da década de 70, época do milagre econômico. Tínhamos algo em torno de 250 cursos de engenharia, a procura por um curso era grande e a qualidade alta, pois a maioria dos cursos acompanhava o nível de excelência de cursos como o da Poli/USP, ITA, Unicamp, FEI e Mauá.
A engenharia sempre esteve intrinsecamente ligada à produção, em que o Estado era o indutor de grandes projetos. Assim, o Brasil foi palco de grandes obras de infra-estrutura, como a Ponte Rio Niterói e o Metrô; a prospecção de petróleo em águas profundas; a construção de hidroelétricas, como Itaipu, que ajudaram a forjar a mais limpa matriz energética do mundo; inovações na indústria mecânica pesada, metalúrgica, na engenharia aeronáutica e de informática, que nos garantiram um salto de competitividade; assim como, na produção de commodities agrícolas.
Por tudo isso, a excelência da engenharia brasileira tornou-se referência mundial. Entretanto, ao longo das últimas décadas, o Estado passou por um profundo processo de encolhimento, diante da ausência de investimentos em grandes projetos estruturais e estruturantes.
No papel de engenheiro politécnico, lembro o dia 11 de dezembro, em que comemoramos o Dia do Engenheiro, ressalto que para sermos capazes de tirar do papel as obras anunciadas e alavancarmos o crescimento esperado, precisamos de um ser humano capaz de realizar este trabalho com competência e qualidade: o nosso Engenheiro.
Arnaldo Jardim – Engenheiro Civil (Poli/USP) e vice-presidente da Frente Parlamentar de Infraestrutura.
Autor: Arnaldo Jardim para site Voto