Pela segunda vez em novembro, o governo chinês informou que provocou uma tempestade de neve em Pequim, ao bombardear nuvens com iodeto de prata para aliviar uma longa seca. Essa forma de geoengenharia existe há algum tempo: como escrevemos em nosso novo livro, “SuperFreakonomics”, cientistas da General Electric, entre os quais Bernard Vonnegut, realizaram uma iniciativa de bombardeio de nuvens na década de 1940 (o irmão mais moço de Vonnegut, Kurt, era o relações-públicas do projeto).
A mais recente tempestade em Pequim foi a mais forte nevasca que a cidade já viu em mais de 50 anos. Além da confusão que essas tempestades provocam, também há consequências inesperadas: por exemplo, o cloro usado para livrar as ruas da neve depois da tempestade pode causar danos ambientais e talvez até estruturais.
Qual é a reação apropriada para essa notícia?
Provavelmente depende de sua perspectiva – sobre política, meio ambiente e a natureza humana. Uma pessoa deve simplesmente atribuir as tempestades de neve artificialmente induzidas pelos chineses como sendo simplesmente chinesas? Ou devemos pensar nesses exercícios de geoengenharia em pequena escala como potenciais ameaças para o equilíbrio geopolítico do mundo? Não é difícil imaginar a dificuldade que poderia surgir se a neve e a chuva oficiais se tornarem comuns: basta um país assolado pela seca declarar guerra a seu vizinho por “roubar” sua chuva.
Em nosso livro, analisamos vários esquemas de geoengenharia que os cientistas estão considerando para resfriar a Terra se o aquecimento global se tornar perigoso. Seja aumentando a refletividade das nuvens oceânicas ou imitando o efeito dos grandes vulcões, borrifando dióxido de enxofre na estratosfera para diminuir a radiação solar, os círculos ambientalistas ainda precisam se habituar a essas ideias.
Muitos ambientalistas que argumentam que a intensa redução do carbono é a única solução para o aquecimento global parecem pensar que um número grande demais de cidadãos do mundo (incluindo alguns líderes políticos) são propositalmente ignorantes, negando a realidade do aquecimento global.
Mas, como concluímos em “SuperFreakonomics”, os que argumentam a favor da redução do carbono como única maneira de enfrentar o aquecimento global podem ser propositalmente ignorantes a sua maneira, e essas tempestades de neve chinesas demonstram por quê: não existe qualquer esquema regulatório para impedir que uma pessoa lance dióxido de enxofre na atmosfera.
Por isso, enquanto os ambientalistas podem achar a própria noção de geoengenharia repugnante, a geoengenharia já está conosco e provavelmente será utilizada, quer gostemos quer não.
Isso levanta a questão da governança. Enquanto alguns ativistas ambientais podem esperar que a geoengenharia seja apenas ficção-científica, que não vai nem deve entrar em jogo (como alguém pode ter esperado o mesmo das armas atômicas), os fatos não sustentam essa visão. Líderes governamentais vão se reunir em Copenhague em dezembro para discutir a redução coletiva do carbono. Está ficando cada vez mais claro que eles também deveriam determinar possíveis regulamentações para a geoengenharia coletiva, sejam esquemas em pequena escala como as tempestades de Pequim ou ideias em grande escala que abordam o aquecimento global.
Autor: Freakonomics