Ferroanel: vozes discordantes

Nos últimos dias, intensificou-se o debate sobre a acessibilidade dos portos para o transporte de cargas, para exportação ou importação. É cada vez maior o coro que afirma que o futuro do maior porto do Hemisfério Sul, com projeção de movimentação de 200 milhões de toneladas, está comprometido caso não se invista mais em ferrovias e em hidrovias, no Estado e no País. 

O ministro dos Portos, Pedro Brito, em recente passagem pela capital paulista, disse que doravante se tem como preocupação número um os acessos terrestres ao Porto de Santos. “Por falta de acessos terrestres, o Porto de Santos pode entrar em colapso”.

Uma das soluções, para o representante do Governo Federal, é o ferroanel. Pedro Brito informa que o interesse do governo é começar já no próximo ano as obras do ferroanel, principalmente o tramo sul, que vai atender ao cais santista. “Juntamente com o governo do Estado”, esclarece.

No entanto, o secretário de Transportes do Estado de São Paulo, Mauro Arce, em contato com a reportagem do PortoGente, explicou que ainda não tem nada formalizado entre os governos para a realização do sistema ferroviário que deverá ser construído em torno da capital paulista.

“Temos conversado bastante. No caso do trecho norte tem já um entendimento com o Ministério dos Transportes, inclusive o secretário executivo, o Paulo Sérgio, é quem conversou com a gente para que no projeto do rodoanel norte a gente considere a possibilidade de passar junto o ferroanel norte”.

Apesar disso, Arce deixa claro que são processos em andamento, que ainda não têm uma definição final e, mais importante, não tem um cronograma. “Se o ministro colocou isso eu acho que é importante que no ano que vem vamos ter um avanço nessa linha”.

Mas o tramo norte do ferroanel a que o secretário estadual se refere não é o melhor para o Porto de Santos, segundo o presidente do Conselho de Autoridade Portuária (CAP) do Porto de Santos, Sérgio Aquino.

“Nós agora, na discussão do ferroanel, estamos colocando as coisas de volta nos trilhos, porque se voltarmos anos atrás vamos nos lembrar que o Estado de São Paulo, a região (Baixada Santista) e nós lá no CAP debatemos várias vezes a necessidade e importância estratégica do tramo sul do ferroanel. E o Governo Federal insistiu e terminou colocando no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) o ferroanel tramo norte, que não tem nenhuma posição estratégica [para o Porto de Santos]”.

Aquino dá um valor decisivo ao ferronael com relação ao complexo portuário santista, dizendo que se o sistema viário não for melhorado o porto começará a perder cargas.

Já o engenheiro naval Frederico Augusto Herane Karg afirma categoricamente que o ferroanel não é importante para o Porto de Santos. O principal problema hoje, segundo ele, é a falta de oferta de transporte ferroviário para atender à demanda que chega e sai do Porto de Santos. “O anel ferroviário já existe, é uma questão de ser utilizado plenamente”.

O engenheiro, que atua na área de logística ferroviária, diz que tratar o ferroanel como solução para o Porto de Santos não se sustenta na realidade. E explica: “basta analisar a origem da carga e a rota que ela faz hoje, ela não atravessa a cidade de São Paulo”.

Faz mais sentido, ainda segundo Karg, melhorar as condições de segmentação dentro do Porto, dentro do próprio sítio portuário, como melhorar o traçado e que “o trem chegue inteiro ao seu local de carregamento e descarregamento, porque hoje você traz pedaços do trem, e não ele inteiro. Você tem, ainda, muitos locais no porto que não descarregam direito os vagões, porque a capacidade de descarga é pequena”.

Autor: Porto Gente