Como acompanhar e prever o processo de degradação de estruturas marítimas? Para responder, a empresa PhDSoft desenvolveu o software C4D, capaz de mapear em 4D – além dos 3 eixos da modelagem tridimensional, acrescenta-se a dimensão do tempo – plataformas e navios, detectar sinais de corrosão, ou mesmo aqueles pontos que possivelmente exigirão reparos em certo tempo, antecipando a necessidade de reparos. O programa, elaborado para a área de segurança marítima, logo teve sua utilização ampliada para o setor de petróleo.
E até o final de 2010, com recursos do edital Rio Inovação, da FAPERJ, ganha mais um campo de atuação: as usinas nucleares. É nesse sentido que os especialistas da empresa agora trabalham, desenvolvendo as modificações necessárias para que o software possa dar conta das especificidades de mais esse setor.
Capaz de visualizar a estrutura de plataformas off-shore, acompanhar o histórico dos reparos realizados ao longo do tempo e fazer projeções de degradação com base nas medições efetuadas, a nova versão do C4D é mais leve, e pode ser usada em praticamente qualquer computador. “Nosso software é capaz de mapear e prever a necessidade de reparos em plataformas ou em grandes estruturas de exploração de petróleo”, explica Duperron Marangon, engenheiro naval pela USP e mestre em Engenharia Oceânica pela Coppe/UFRJ, e diretor-presidente da PhDsoft.
Professor de engenharia naval e oceânica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na década de 1990, ele foi, na época, contratado pela companhia Vale do Rio Doce para calcular o volume de aço necessário para prolongar a vida útil de um de seus navios. Como resultado, Marangon e equipe acabaram criando a versão original do programa e abrindo a empresa PhDSoft. Segundo Marangon, o C4D é o primeiro software do gênero no mundo.
Ele explica que para antecipar-se à necessidade de reparos em grandes estruturas, como as de um navio, por exemplo, é necessário saber sua idade. Isso permite fazer os cálculos necessários para avaliar o processo de degradação em determinado tempo. “Numa plataforma off-shore, ou mesmo em navios que naveguem por rotas diferentes, podemos calcular a deterioração do casco, já que os materiais empregados se comportam, em média, de forma previsível”, diz. Mas quando se trata de tanques de FPSOs (Floating Production Storage and Offloading) – os grandes navios convertidos em plataformas e empregados pela indústria petrolífera para a exploração e armazenamento de petróleo ou gás natural, quando os locais de produção estão distantes da costa – isso fica bem mais complicado, uma vez que eles geralmente são resultado da reforma de outros navios para mudança do perfil de operação. “Com isso, perdem-se as referências de idade das peças e se tem um conjunto de materiais de diferentes origens, que apresenta diferentes níveis de degradação em pontos diversos de uma mesma embarcação”, esclarece.
É aí que entra o C4D, que conseguiu reunir em sua nova versão cálculos demorados e trabalhosos que anteriormente tinham que ser feitos pelos engenheiros. “Esse foi o nosso ganho, conseguimos fazer projeções para navios FPSOs”, entusiasma-se Marangon. Esse salto no programa levou a outro. “Como tudo o que envolve tecnologia, a tendência é que o uso em larga escala transcenda a aplicação original para outros setores que também sejam afetados pela corrosão, como os parques industriais. Ou para instalações nucleares, como estamos fazendo agora”, fala.
No caso das usinas nucleares, tem sido mais uma questão da adaptação do programa. E é exatamente nisso que os especialistas da empresa estão trabalhando. “Sempre que se pensa em segurança numa usina nuclear, imaginamos pontos críticos, como os reatores e equipamentos, cuja operação envolve risco, mas nos esquecemos das próprias estruturas que os abrigam, expostas ao tempo e à degradação decorrente. Ou da deterioração de tubulações”, exemplifica Marangon. O programa, que até então não incluía cálculos ou projeções para concreto, passará a fazê-lo. “Agora estamos coletando dados para mais essa adaptação. Nesse caso, inúmeras variantes estão sendo acrescentadas ao software”, diz.
A inclusão do setor nuclear como uma nova aplicação do software C4D, para Marangon, tem amplas justificativas. Até porque, como ele avalia, para crescer, a economia fluminense precisa expandir sua oferta energética. “Ainda se trata de um assunto polêmico, sobre o qual pairam certos estigmas. Mas num estado, como o Rio de Janeiro, que já conta com as usinas nucleares de Angra dos Reis – hoje com capacidade produtiva equivalente a metade da energia elétrica consumida no estado –, o mais viável é estender a vida útil dessas usinas”, fala, apontando os exemplos bem-sucedidos da França e Estados Unidos no uso desse tipo de energia. “Também precisamos reduzir o risco de acidentes nucleares e os índices de poluição, tendo em vista que a energia termonuclear é considerada uma fonte limpa e menos impactante em termos de aquecimento global. E se otimizarmos as estruturas existentes, conseqüentemente reduziremos os custos de manutenção e também os custos de produção de energia”, acrescenta.
O projeto, uma vez concluído, poderá contar com o apoio da Epri (Eletric Power Research Institute), organização mundial independente, que realiza pesquisas e, principalmente, elabora e fiscaliza normas de segurança para usinas de energia. “Executivos da entidade ficaram muito entusiasmados com o novo uso dessa tecnologia e afirmaram que centenas de usinas espalhadas pelo mundo se beneficiariam com seu uso. Eles até se prontificaram em nos apresentar aos responsáveis pela manutenção das plantas depois que o projeto estivesse implantado no Brasil”, diz Marangon.
O executivo da PhDSoft anima-se ainda mais por saber que grande parte do que estão projetando para aplicação nas instalações nucleares também poderá ser utilizado nas grandes estruturas de concreto de pontes e outras construções do gênero. Para isso, a adaptação do software deve estar concluída até o final de 2010. Enquanto isso, prosseguem os contatos informais com a Eletronuclear. A PhDSoft já opera com empresas na Europa e Estados Unidos, além de ser a única firma brasileira a participar da Australasian Oil &Gas. Para Duperron Marangon, a empresa, que vem se firmando no exterior, também se mostra cada vez mais carioca. “O Rio de Janeiro vem expandindo sua vocação em três áreas: na indústria naval, no petróleo e no setor nuclear. Já atuamos em duas delas, e até o final do ano que vem, estaremos trabalhando nos três setores”, conclui.
Autor: Assessoria de Comunicação FAPERJ