Em cinco anos a reciclagem de lixo aumentou dez vezes na cidade de São Paulo. Das cerca de 15 mil toneladas diárias produzidas, 130 toneladas vão para reciclagem. Em 2004, esse número era de 13 toneladas.
Mesmo assim, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) diz que há uma dificuldade em implantar o serviço. “Tudo é difícil na cidade de São Paulo. Comparativamente avançamos muito e vamos continuar avançando.”
Dos 96 distritos da cidade, 72 são atendidos pela coleta seletiva. Mesmo assim, é preciso saber em qual rua, qual dia e qual horário o caminhão passa.
Para o secretário do Verde e Meio Ambiente, Eduardo Jorge, só um trabalho de educação ambiental pode mudar essa situação. Ele diz que muito tem sido feito, como a ação dos agentes de saúde na conscientização, mas defende a responsabilização dos cidadãos.
Jorge quer, por exemplo, que cada distrito tenha sua central de reciclagem de lixo. Hoje são 15 cooperativas de catadores que fazem o trabalho.
“É preciso que cada distrito assuma a responsabilidade pelo seu próprio lixo. Senão, parece mágica: o caminhão passa e leva embora o problema lá para Perus ou para São Mateus, onde ficam os aterros”, afirmou.
Engajamento – André Vilhena, do Cempre (Compromisso Empresarial para a Reciclagem), diz que, mesmo com as ações da prefeitura, sempre será necessário o engajamento da população. “Por mais abrangente que seja o programa de coleta seletiva, se não tiver a separação do lixo na fonte, não há reciclagem.”
Consultora em gestão socioambiental, Gina Bezen Rizpah afirma que São Paulo evolui pouco na reciclagem porque não prioriza a integração de catadores ao sistema. Para ela, com uma boa campanha de conscientização, pode-se reciclar até 50% do lixo domiciliar.
Rizpah cita Londrina (PR) como referência. Lá, a prefeitura recicla 25% de todo lixo produzido pela cidade.
Professor do Departamento de Ciências do Meio Ambiente da PUC-SP, Paulo Roberto Moraes afirma que, em São Paulo, “falta cultura e estrutura” do processo de reciclagem. “Se você ligar para a prefeitura e pedir uma caçamba especial para reciclagem, eles enviam, mas a procura é muito baixa. A prefeitura tem que divulgar mais”, afirma.
Moraes diz também que, com a degradação da qualidade de vida nas grandes cidades a reciclagem de lixo acaba ficando em segundo plano.
Leis específicas – Há poucas obrigações nessa área. Uma lei estadual obriga que todos os condomínios residenciais com mais de 50 apartamentos façam a reciclagem de seu lixo, mas isso não é cumprido. Os condomínios podem até ter o contêiner da coleta seletiva, mas o trabalho de separar é do morador, que não é obrigado a fazê-lo.
Na semana passada, Kassab sancionou uma lei que obriga que os maiores geradores de lixo da cidade – shoppings, indústrias etc. – façam a coleta seletiva. A lei não abrange imóveis residenciais – só os edifícios de uso misto -, mas inova ao exigir comprovação de que o lixo é levado para uma central de triagem ou revendido para empresas de reciclagem.
Outra medida recente implantada na cidade é a exigência de que as indústrias de sete setores – lubrificantes e refrigerantes, por exemplo – recolham 50% de suas embalagens para reciclagem. Coca-Cola, Ambev, Petrobras e Shell foram multadas em R$ 250 mil por não terem apresentado um plano para cumprir a regra.
Autor: Folha Online