Os recifes de corais correspondem a apenas um dos cinco tipos de ambientes submersos na região de Abrolhos, arquipélago localizado no litoral sul da Bahia. É o que indica uma pesquisa realizada a partir do maior levantamento oceanográfico já feito na região.
Um dos objetivos do estudo foi mapear os fundos marinhos do banco de Abrolhos. O novo mapa é resultado de mais de dois anos de pesquisas que envolveram cientistas de várias instituições brasileiras. O trabalho teve apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular.
De acordo com Paulo Sumida, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), uma das perspectivas abertas pelo estudo, a partir das novas áreas descobertas, é repensar a ampliação do Parque Nacional Marinho de Abrolhos. Ou seja, os estudos reforçam a necessidade de aumentar a área sob proteção legal.
“A ideia é finalizar a produção do mapa para que ele sirva como subsídio no manejo e no gerenciamento do parque. Muitas vezes, algumas áreas que são importantes para preservação e manutenção não estão sob proteção. Agora, temos dados que podem subsidiar decisões relacionadas a políticas públicas”, disse à Agência FAPESP .
O Parque Nacional Marinho dos Abrolhos foi o primeiro parque do gênero, criado em 1983. O arquipélago é composto por um grupo de cinco ilhas, sob proteção do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). É a única área do Atlântico Sul para onde as baleias jubarte migram.
A área do Parque Nacional corresponde a apenas 2% do banco de Abrolhos. O grupo vasculhou, aproximadamente, 46 mil quilômetros quadrados em uma área denominada de plataforma de Abrolhos.
“Juntamos alguns grupos que estavam realizando pesquisas e unimos esforços para fazer esse mapa mais detalhado. Em vez de cada um fazer o seu trabalho individualmente, optamos por atuar em conjunto, a fim de obter um resultado interessante e completo”, explicou Sumida.
Na nova geografia subaquática, a área descoberta é sete vezes maior do que a conhecida anteriormente. Foram encontrados bancos de algas calcárias, ou rodólitos, que se estendem ao longo da borda da plataforma, servindo como refúgio para corais de águas rasas.
O grupo conseguiu mapear certos ambientes menos conhecidos e alguns recifes mais profundos. “Encontramos uma área de recifes mesofóticos, que vivem em condições luminosas menos intensas e estão a uma profundidade de 20 ou 30 metros, chegando até a 80 ou 90 metros”, disse Sumida.
Outras feições inusitadas são as chamadas “buracas”, encontradas na área do banco de rodólitos a 90 metros de profundidade. “Estamos mapeando e escrevendo um artigo científico sobre as ‘buracas’. Segundo nossos levantamentos, parece não existir nada parecido no mundo”, afirmou.
Robô mergulhador
Para vasculhar a área, o grupo usou um robô mergulhador, um veículo submersível que produziu imagens com auxílio de transectos de vídeo – filmagem do fundo marinho ao longo de uma seção linear, com posterior análise em computador.
O equipamento pode captar imagens de fundo por um tempo praticamente ilimitado, eliminando os riscos para mergulhadores, como problemas de descompressão, por exemplo. Segundo Sumida, o equipamento apresenta algumas limitações, mas para as profundidades de Abrolhos os resultados foram bastante satisfatórios.
“Ele é pequeno e nas áreas com uma corrente mais intensa é mais limitado. O ideal seria um robô com uma câmara fotográfica e de vídeo com uma resolução maior. Mas ele desempenhou bem o trabalho que desejávamos”, disse.
O pesquisador da USP conta que os resultados ainda não foram publicados em revistas científicas, mas que o grupo já prepara um artigo sobre alguns dados da cadeia Vitória-Trindade, que nasce no meio do Atlântico e termina à beira da capital do Espírito Santo, formando ilhas como a de Trindade.
O grupo começa a colher frutos da pesquisa. No 9º Congresso de Ecologia do Brasil, que termina no dia 18 de setembro em São Lourenço (MG), os pesquisadores participarão de duas mesas-redondas para discutir novas descobertas no banco de Abrolhos.
De acordo com Sumida, como o arquipélago engloba uma área muito grande, há muito trabalho a ser feito. “Seria importante multiplicarmos esses estudos. Divulgar os dados científicos e expor novos ambientes – alguns completamente inusitados que não se conhecem em lugar nenhum do mundo, como as buracas – representa uma oportunidade para repensarmos novos gerenciamentos costeiros. Com os dados em mãos, conseguiremos ter voz ativa nas discussões de políticas ambientais”, destacou.
Além de Sumida, coordenam os estudos os pesquisadores Rodrigo Leão de Moura, da Conservação Internacional do Brasil, Alex Bastos, da Universidade Federal do Espírito Santo, Ronaldo Francini‐Filho, da Universidade Estadual da Paraíba, e Gilberto Menezes Amado Filho, do Jardim Botânico (RJ).
Autor: Agência FAPESP