Cometa tem aminoácido

Dos aminoácidos codificados pelo código genético, ou seja, que integram as proteínas dos seres vivos, a glicina (C2H5NO2) é o menor e um dos mais abundantes. Agora, esse fundamento da vida acaba de ser descoberto em um cometa. 

Cientistas da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, encontraram a presença da molécula em amostras do cometa Wild 2 obtidas pela sonda Stardust. 

“É a primeira vez que um aminoácido é encontrado em um cometa. Esta descoberta apoia a teoria de que alguns dos ingredientes básicos da vida se formaram no espaço e chegaram à Terra há muito tempo por meio de impactos de meteoritos ou de cometas”, disse Jamie Elsila, do Centro de Voo 
Espacial Goddard, da Nasa. 

A descoberta foi apresentada em reunião da Sociedade Norte-Americana de Química, no dia 16, em Washington, e estará em artigo a ser publicado em breve pela revista Meteoritics and Planetary Science. 

“Encontrar glicina em um cometa apoia a ideia de que os blocos básicos da vida são prevalentes no espaço e reforça o argumento de que a vida no Universo pode ser mais comum do que rara”, disse Carl Pilcher, diretor do Instituto de Astrobiologia da Nasa, que financiou o estudo. 

Proteínas são as moléculas fundamentais da vida, usadas nas mais variadas estruturas, de enzimas a fios de cabelo. São os catalisadores que aceleram ou regulam reações químicas no organismo. De forma similar às letras do alfabeto, que podem ser arrumadas em combinações sem fim para formar palavras, a vida usa 20 tipos de aminoácidos para construir milhões de proteínas diferentes. 

A Stardust passou pelo denso gás e pela poeira que envolve o núcleo gelado do cometa Wild 2 em janeiro de 2004. Um novo material esponjoso chamado de aerogel, no exterior da sonda, recolheu em minúsculas câmaras amostras do gás e da poeira do cometa. 

A coleta foi armazenada em uma cápsula que se destacou da sonda e caiu de paraquedas na Terra em janeiro de 2006. Desde então, grupos de cientistas em diversos países têm analisado as amostras em busca dos segredos da formação dos cometas e da história do Sistema Solar. 

“À medida que as moléculas de gás passaram pelo aerogel, algumas ficaram presas na folha de alumínio que recobre os lados das câmaras que contêm o aerogel. Passamos os últimos dois anos testando e desenvolvendo equipamentos de modo a torná-los acurados e sensíveis o suficiente para analisar amostras tão pequenas”, disse Elsila. 

Os pesquisadores empregaram análise isotópica na folha de alumínio para verificar se a glicina não poderia ter ido parar ali por conta de contaminação durante a montagem da sonda.
A molécula encontrada é diferente da glicina terrestre e tende a ter mais átomos de carbono 13, que é 
mais pesado do que o mais comum carbono 12. 

Mais informações: http://stardustnext.jpl.nasa.gov e http://astrobiology.gsfc.nasa.gov/analytical.

Autor: Agência FAPESP