Depois de quase um ano de preparação a Odebrecht lançou formalmente sua empresa na área de engenharia ambiental, batizada Foz do Brasil. A partir de hoje ela será responsável por gerir os ativos da construtora na área de saneamento urbano e tratamento de resíduos industriais. A nova empresa nasce com uma carteira de ativos que deve garantir, em 2010, uma receita de R$ 750 milhões, e exigirá investimentos de R$ 3,6 bilhões nos próximos cinco anos. Os contratos privados serão responsáveis por cerca de 40% da receita da empresa, e os outros 60% virão das serviços de saneamento para o setor público.
A construtora tinha desde 2007 uma empresa à parte para gerir seus ativos na área de saneamento, chamada Odebrecht Engenharia Ambiental, mas a divisão ganhou marca própria para acelerar a marcha das atividades do grupo no setor. O saneamento é alvo de interesse histórico da Odebrecht, que assumiu em 1994, com a francesa Lyonnaise des Eaux, a primeira concessão privada de saneamento do país, na cidade de Limeira (SP), de 276 mil habitantes. A concessão passou por problemas nos anos 90 e a Odebrecht ficou sozinha no negócio, mas deu a volta por cima e Limeira hoje é usada como vitrine no setor: o índice de perda de água é de 16%, um dos menores do Brasil – a média nacional é 40% – e as tarifas, diz a concessionária, são inferiores às cobradas pela principal concorrente no Estado, a Sabesp.
Hoje a Odebrecht tem a concessão dos serviços de saneamento em 18 municípios, alguns contratos com empresas estaduais e dez clientes na área privada, incluindo nomes como Petrobras, Dow, DuPont e o polo de Camaçari, na Bahia. A empresa fechou este ano dois dos seus maiores negócios na área privada: um contrato de 15 anos e R$ 550 milhões em investimentos para tratar os resíduos da nova unidade da fábrica de tubos metálicos Vallourec Sumitomo, em Minas Gerais, e um projeto de fornecimento de água de reuso para o polo petroquímico do ABC, em São Paulo – um projeto em parceria com a Sabesp no valor de R$ 120 milhões.
Segundo o presidente da Foz do Brasil, Fernando Santos-Reis, o plano da empresa é crescer nos próximos anos mantendo o atual equilíbrio entre as atividades no setor privado e público, mas tudo depende do ritmo da atividade econômica daqui pra frente. Um crescimento mais fraco deve estimular contratos com o setor público, que perde capacidade de investimento, ao mesmo tempo em que enfraquece o ritmo dos projetos no setor privado. Caso a economia siga num movimento mais forte, o setor privado tende a ganhar peso.
De acordo com o executivo, a Foz tem a maior ” amplitude contratual ” do setor, ou seja, participa dos mais diferentes modelos de negócios para fornecer serviços no setor, o que facilita sua entrada no mercado. A Foz tem contratos de concessão parcial e plena de água e esgoto para municípios, parcerias público-privadas (PPPs, um contrato de locação de ativos, contrato de manutenção e mais recentemente fechou seu primeiro negócio de fornecimento de água de reuso. ” Não importa a forma que o negócio vai assumir, o importante é suprir a necessidade de investimentos no setor ” , diz Santos-Reis. Segundo o executivo, no setor público a tendência da empresa é fechar parcerias com companhias estaduais de saneamento ou buscar municípios independentes – aqueles que estão fora da concessão das empresas dos Estados, a fim de evitar disputas com o poder público.
Para Fernando Santos-Reis, a participação do setor privado será essencial para garantir os investimentos bilionários necessários à universalização do saneamento básico no Brasil – principalmente ampliando o fornecimento de esgoto. ” Água não é um problema no Brasil, o grande déficit é no tratamento de esgoto ” , diz. O poder público tem sua capacidade de endividamento limitada pela lei de responsabilidade fiscal, afirma o executivo, e precisa concentrar seu esforço em atividades exclusivamente públicas, como saúde e educação. Onde pode vir dinheiro privado, como no saneamento, o mais acertado seria atrair empresas do setor.
Autor: O Globo / Valor Econômico