Os sinais de recuperação da economia renovaram a confiança do investidor na infraestrutura brasileira. Depois da paralisia entre dezembro e o primeiro bimestre por causa da crise mundial, empresários começam a retomar planos para construir empreendimentos nos setores de energia elétrica, óleo e gás, saneamento e logística.
Exemplo disso é o avanço no número de consultas feitas no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e nos bancos privados. Além disso, há uma demanda forte por recursos de fundos de investimentos voltados para a área, como o Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS), gerido pela Caixa.
No caso do BNDES, o número de consultas, que indica o apetite do investidor, cresceu 16% no primeiro semestre em relação a igual período de 2008, de R$ 24,6 bilhões para R$ 28,6 bilhões. As operações fechadas avançaram 21%. “Comparada a setores ligados a exportações e máquinas e equipamentos, a infraestrutura foi menos afetada pela crise mundial. Temos observado um ingresso expressivo de consultas e pedidos de financiamentos”, afirmou o economista da área de planejamento do BNDES, Fernando Pulga.
Na avaliação dele, o setor de energia elétrica será um dos que vão encabeçar o ranking de investimentos. A expectativa é que o volume de recursos aplicados no segmento suba de cerca de R$ 17 bilhões, em 2008, para uma média de R$ 30 bilhões nos próximos quatro anos. A projeção está baseada nas licitações que serão feitas pelo governo federal a partir deste mês.
No dia 27, será realizado o leilão de energia nova para atender ao mercado consumidor a partir de 2012. Em novembro, está marcado o primeiro leilão de energia eólica do País, que atraiu o cadastramento de 441 empreendimentos no Nordeste, Sul e Sudeste do País. Se todas as usinas se qualificassem, o que não deve ocorrer, a disputa envolveria 13.341MW ou US$ 26 bilhões – considerando que cada MW instalado de eólica custa US$ 2 milhões.
Outra aposta do BNDES são as ferrovias, cujo volume de investimentos deve dobrar entre 2009 e 2012, sem incluir o Trem de Alta Velocidade (TAV) Rio-São Paulo. Só essa obra exigirá R$ 34 bilhões até 2014. “O TAV vai promover uma grande mudança no patamar de recursos aplicados no setor”, diz Pulga, destacando que os empreendimentos dos governos estaduais também vão melhorar o nível da infraestrutura brasileira.
O movimento de consultas também tem sido observado pelos bancos privados. “Nossa atividade está muito aquecida. A expectativa é fechar o ano com aumento de 40% em relação ao ano passado”, destacou o diretor de Operações Estruturadas do Santander, Jean Pierre Dupui. Ele completa que os empreendimentos voltados para a Copa do Mundo têm atraído atenção de muitos interessados, especialmente de estrangeiros que ainda não têm negócios no País. “Os números do Brasil acabam sendo um chamariz para o investidor.”
Para Denise Pavarina, diretora do BBI, banco de investimentos do Bradesco, infraestrutura será o setor que mais vai crescer e movimentar a economia brasileira nos próximos anos. Grupos investidores estão voltados para a construção de grandes hidrelétricas, como Belo Monte, no Pará, obras relacionadas à Copa do Mundo, aeroportos, portos e concessões rodoviárias.
Há uma expectativa de que o governo paulista faça ainda este ano um nova rodada de licitações de estradas. Nesse caso, o modelo a ser adotado deve ser o de Parceria Público-Privada (PPP). A disputa deve incluir trechos de rodovias nos litorais sul e norte do Estado. O processo está no âmbito do Programa de Estadual de Desestatização (PED). Em 20 dias, os trechos poderiam ser submetidos a audiência pública, informam fontes do setor.
“No fim do ano passado e começo deste ano, as incertezas e custos dos financiamentos retraíram os empreendedores. Agora eles começam a voltar, mas estão bastante cuidadosos”, observa Denise. A informação é reforçada pelo diretor de financiamento de projetos de infraestrutura do Itaú BBA, Carlos Eduardo Mellis. Ele afirma que a área de saneamento também está aquecida, com projetos de empresas estaduais como Sabesp (São Paulo) e Copasa (Minas). “Tem muita coisa para acontecer nos próximos meses no setor.”
Os executivos destacam, porém, que o maior desafio neste momento é equalizar a questão do financiamento, já que se tratam de empreendimento caros, como o da Hidrelétrica de Belo Monte, cujo investimento pode atingir R$ 30 bilhões, segundo o mercado.
De olho nesse nicho, fundos de investimentos têm se formado para financiar esses projetos. É o caso do Darby-Stratus, lançado em 2008, com R$ 387,5 milhões em projetos de infraestrutura. O primeiro empreendimento a receber recursos do fundo é a Usina Randon 2, que combina geração de energia hídrica e térmica por meio da biomassa. Atualmente, os gestores analisam cerca de 40 empreendimentos. A expectativa é que, até o fim do ano, dois novos acordos sejam fechados, diz o diretor-gerente do fundo no Brasil, Fernando Gentil. “Entre nossas prioridades, elegemos projetos de energia, saneamento, serviços ambientais, logística e concessões.”
O FI-FGTS também segue essa linha. Criado com recursos do fundo de garantia, o produto, gerido pela Caixa, destinou R$ 17 bilhões para obras de infraestrutura. Desses, R$ 11,5 bilhões já foram liberados.
Autor: Ag.Estado