Oferta de térmicas a gás em leilão é o dobro da capacidade do Madeira

A grande quantidade de projetos termelétricos movidos a gás natural cadastrados para o primeiro leilão de energia nova deste ano dá os primeiros sinais de que a oferta do combustível tende a se estabilizar, parte em função do pré-sal e também pelo abastecimento de Gás Natural Liquefeito (GNL). Ao todo 54 projetos foram cadastrados com um potencial de gerar mais de 11 mil megawatts de energia, o dobro da capacidade do complexo Madeira e equivalente à uma usina hidrelétrica de Belo Monte. Vários empreendimentos já têm a garantia de fornecimento do gás dada pela Petrobras.

Hoje, em reunião extraordinária, a diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) delibera sobre a aprovação do edital do chamado leilão A-3 – que indica a entrega da energia em três anos (2012). Aprovado o edital e publicado no Diário Oficial, o leilão estará confirmado para acontecer no final de agosto deste ano.

O professor da Universidade de São Paulo, Edmilson Moutinho, diz que toda essa oferta de térmicas reflete o momentâneo excesso de oferta de gás, mas também a expectativa em torno do pré-sal. “Além disso, outros mercados não estão sendo desenvolvidos o que significa que o gás do pré-sal terá mesmo que ser queimado em termelétricas “, diz Moutinho. O professor diz ainda que essa situação retrata a falta de uma política para limpar a matriz energética, usando o gás para reduzir o consumo de energia elétrica, como com a substituição de chuveiros elétricos.

A oferta de térmicas a gás natural, entretanto, traz um alívio para o governo federal que em seus leilões de energia do ano passado teve que encarar o grande número de térmicas movidas a óleo. Foram mais de três mil megawatts vendidos. Os resultados levaram a uma grande polêmica e a uma série de críticas ao governo. Afinal, o Brasil que se gaba de seu potencial hidrelétrico aceitou em sua matriz a geração termelétrica mais poluente do planeta. Neste ano, para evitar o que aconteceu no ano passado a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estabeleceu custos proibitivos que acabaram inibindo a oferta de térmicas a óleo.

O custo de combustível estabelecido foi de R$ 200 e a Petrobras chegou a dizer que não iria fornecer gás para novas térmicas a um custo tão baixo. A estatal, contudo, voltou atrás e deu garantias a novos empreendimentos, mas a empresa não quis falar sobre o assunto.

Em função da crise econômica, não existe uma grande expectativa de demanda por parte das distribuidoras para o primeiro leilão. Na semana passada, a EPE chegou a rever a expectativa e espera uma queda de 2% no consumo de energia elétrica deste ano. Além disso, essa energia é para ser entregue em 2012, quando parte do complexo do Madeira já vai entrar em operação. “Projetamos uma demanda para este leilão muito menor que esta oferta”, diz Xisto Vieira, presidente da associação de geradores termelétricos (Abraget).

Para o leilão de A-5, com entrega a partir de 2014, outros grandes projetos a gás já estão sendo estruturados, como o da GasEnergy, no Rio Grande do Sul, de mil megawatts.

Autor: Valor Econômico