Viadutos serão marca da atual gestão do Porto de Santos

A construção de viadutos, que vão permitir o tráfego simultâneo de caminhões e trens nos cruzamentos entre os dois modais existentes no Porto de Santos, é a grande marca que a atual gestão da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) deixará para o futuro. Esta é a opinião do diretor de Infra-estrutura e Execução de Obras da companhia, Paulino Moreira da Silva Vicente. 

Quatro viadutos, dois em cada margem do porto, fazem parte das obras das avenidas perimetrais, que estão sendo construídas com recursos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). 

Segundo Vicente, a superação deste problema “centenário” é que permite aos embarcadores, principalmente de commodities agrícolas, sonharem com uma maior participação do trem no transporte de suas cargas. “Se continuássemos com esse conflito não teríamos condições de projetar o crescimento do açúcar, que é a commoditie que o Porto de Santos mais exporta”, afirma. 

De acordo com ele, a participação do trem na movimentação de carga no porto hoje é de 15%, mas, com as obras, poderá chegar a 25% em 2 ou 3 anos. 

Leia a seguir a entrevista que o diretor concedeu à Carga Pesada e confira na próxima edição da revista, que circula na semana que vem, uma reportagem completa sobre o Porto de Santos, que inclui entrevistas com transportadores.

Como estão as obras das perimetrais? 

As obras da perimetral da margem direita estão em pleno andamento, inclusive o viaduto na altura da Rua João Pessoa, em formato de Y, que dá condições de eliminação do conflito rodo/ferroviário, que é um problema de 100 anos. 

O viaduto começa a operar no finalzinho de julho ou começo de agosto, a fim de atender a safra crescente de açúcar, que já tem uma movimentação superior da ordem de 30% em relação ao ano passado. E o pico será de julho a novembro. Portanto, esse viaduto está chegando na hora certa. A avenida perimetral tem duas características: segregar o trânsito da cidade do trânsito do porto e separar o caminhão do trem. Temos três quilômetros de obra de avenida concluída. 

O contorno de Outeirinhos, que é um segundo trecho importante, deve estar concluído até dezembro deste ano. É uma via que vai melhorar substancialmente os acessos rodoviários da margem direita. 

Deve estar totalmente concluído até final de dezembro de 2009. O segundo viaduto, na região da Santa, também outro cruzamento rodoferroviario muito importante, deve ser iniciado até o final de 2009, com conclusão em dezembro de 2010. As obras todas da perimetral (da margem direita) estão previstas para terminar até dezembro de 2010. 

E há também um mergulhão previsto no projeto? 

Na realidade, foi mencionado na licença de instalação. Está previsto para uma segunda etapa. Entendemos que é importantíssimo para o eliminar terceiro e último conflito rodovia/trem. Será numa segunda fase. 

E para a margem esquerda? 

Existe um projeto básico bem detalhado, discutido entre operadores, autoridades portuárias, prefeitura (de Guarujá), governo do estado. Chegou-se a um entendimento sobre o traçado. Em cima disso, estamos contratando o projeto executivo. 

Devemos ter, nos próximos 7 a 10 dias, a firma contratada. Está em curso também uma segunda licitação que diz respeito aos problemas ambientais – licitação aberta em março último e que deve estar pronta até meados do mês de julho. E uma terceira licitação também está aberta para o levantamento georreferenciado de uma faixa da Rua do Adubo que vai ser alargada por conta da implementação da avenida perimetral. Com isso, vai ser feita também nesta terceira licitação a avaliação dos imóveis que serão desapropriadas para fim da implementação da avenida. 

Fazem parte da obra (da perimetral da margem esquerda) dois viadutos em cima da Avenida Santos Dumont, eliminando conflitos do trânsito local, em Vicente de Carvalho (distrito de Guarujá), do caminhão com veículo particular. E também eliminando conflitos caminhões/trem, dando possibilidade para que a perimetral seja concebida num horizonte de 30, 50 anos, para o desenvolvimento da margem esquerda. 

Vamos soltar a licitação das obras provavelmente em final outubro, para que tenhamos a obra contratada no início do ano que vem. E o empreendimento realizado até dezembro de 2010. A obra na margem esquerda é mais simples, interfere menos na operação do dia a dia do porto. 

As obras dependem de negociação com a prefeitura de Guarujá para desapropriações? 

Já falamos com a prefeitura, com administração nova, para desafetação de área da Santos Dumont e de área da Rua do Adubo para injetar recursos do governo federal nesta obra. Em paralelo, estamos com três processos licitatórios plenamente em andamento. 

Existe um projeto para construção de ponte ou túnel ligando as duas margens? 

A autoridade portuária faz um trabalho com a Prefeitura de Santos no sentido de definição de qual obra de arte deve ser concebida. Achamos que a melhor alternativa deva ser aquela com uma visão macro da região da Baixada Santista. Onde você tenha medido os impactos que vão ser gerados principalmente dos acessos nas duas extremidades da ligação a seco. Dentro desta filosofia, entendemos que para a solução, uma ponte ou túnel na região do Saboó, interligando com a Ilha Barnabé, tenha muita lógica. 

Você tem o acesso do Saboó, próximo ao sistema Anchieta/Imigrantes, interligando com a Ilha Barbané, próximo ao sistema da Rodovia Cônego Domenico Rangoni, portanto, não impactando nos município de Santos e Guarujá. Essa obra, quer seja túnel ou ponte, deverá ser conceituada dentro de um aspecto de desenvolvimento do futuro do Porto de Santos. 

Você acha que é mais factível túnel ou ponte? 

Eu, como engenheiro civil, com 34 anos de atuação no porto, me parece que a princípio a ponte tem mais aspectos favoráveis e menos impactantes. 

Mas nós não podemos falar em prazo? 

Esse assunto ganha hoje destaque importante. O porto tem perspectivas de crescimento muito grande para os próximos anos, temos a indústria de petróleo próximo da nossa região. Acho que já está mais que na hora de fazermos projetos com visão macro da Baixada Santista. 

Levando em consideração o crescimento do porto, das indústrias que atuam na Baixada Santista, dos municípios da região, com certeza haverá um aumento de pessoas vindo para nossa região. É hora de fazer projetos e deixar discursos de lado. 

Uma reclamação constante dos transportadores é de que os motoristas são obrigados a esperar muito tempo no porto até chegarem aos terminais. E que os caminhoneiros não têm locais apropriados para esperar. 

Há 4 anos, existe um comitê de logística atuando no Porto de Santos, todas as terças-feiras, onde tem assento democraticamente todos os operadores: sindicatos, associações, prefeituras, coordenado pela Codesp. 

O grupo discute temas de relevância. São fruto deste comitê os dois pátios da região de Cubatão, que são o Pinhal Rodopark e o Ecopátio. Com isso, nós temos hoje disponibilizadas mais de 2.800 vagas estáticas que propiciam o recebimento de maneira cadenciada de caminhões na ordem de 7 mil a 8 mil caminhões/dia.

 Caminhões de diversos estados, que chegam aqui e têm instalações adequadas para receber o caminhoneiro e depois os terminais, à medida que têm disponibilidade, vão chamando. Todos os terminais, na margem direita e margem esquerda, têm estacionamentos rotativos com vagas perfeitamente definidas. Portanto, essa situação hoje no porto melhorou bastante, em relação a 4, 5 anos. Com certeza, os caminhões que estão circulando hoje estão no nível adequado das necessidades dos terminais. E você tem os pátios reguladores servindo de pulmão para estadia momentânea desses caminhões. 

Além disso, há também o problema vivido pelos caminhoneiros que moram em Santos, Cubatão e Guarujá. Eles deixam os caminhões pelas ruas e atraem a ira dos moradores. O porto tem feito algo para melhorar esta situação ou entende que não tem responsabilidade sobre isso? 

Na verdade, na margem direita, temos 1.700 vagas estáticas dentro do porto para estacionamentos rotativo de caminhões. Evidentemente que existe uma frota de caminhões dos municípios. De uma maneira geral, o caminhoneiro acaba levando o caminhão para perto de sua casa. Na verdade, dentro da área do porto, estamos com a capacidade próxima do limite. A zona de estacionamento rotativo é para quem vai operar nas próximas horas. Não é depósito para caminhão. Em nenhum porto do mundo tem, na zona de operação, grandes áreas para depósito de caminhão. 

A Cosan diz que atualmente 70% do açúcar chegam até seu terminal em Santos pela via rodoviária e 30% pelo trem. Mas, que até 2012, a intenção é que 80% cheguem por trem. Isso é possível? Como está a participação do trem e do caminhão no porto de forma geral? 

Só é factível porque estamos implementando a avenida perimetral e os dois viadutos, eliminado o conflito caminhão/trem. É porque fizemos um viaduto e vamos fazer o outro que os operadores vão dinamizar a movimentação ferroviária na margem direita com trens em maior número de vagões, diminuindo o Custo Brasil. Esse incremento que vai se verificar na margem direita só está ocorrendo por causa dos viadutos. Se continuássemos com esse conflito não teríamos condições de projetar o crescimento do açúcar, que é a commoditie que o Porto de Santos mais exporta. Essa é a grande marca que estamos deixando. 

De quanto é a participação ferroviária hoje? 

Posso te dizer que a participação ferroviária hoje é da ordem de 15%. Com as melhorias das obras perimetrais, eu diria que, em 2 a 3 anos, poderemos chegar numa participação da ferrovia em 25%.

Autor: Carga Pesada