O gás natural distribuído no Brasil, de origem boliviana ou fornecido pelas distribuidoras brasileiras, é um dos mais caros do universo.
Segundo as fontes, o preço cobrado em São Paulo já alcançou mais que o dobro do valor negociado nos países desenvolvidos.
É quase o triplo do preço em relação ao gás natural comercializado nas nações em desenvolvimento, como o México.
No ano passado, em São Paulo, o preço do gás natural subiu em torno de 60%, segundo as mesmas fontes. Empresas em que o combustível (gás natural) tem grande peso no custo vivem dificuldade, agravada pela queda nas encomendas em razão da crise. O parque vidreiro perde competitividade para exportar e a expansão da produção de fertilizantes está ameaçada. Tradicionais consumidores de gás natural consideram viável voltar ao uso do óleo combustível em muitos casos energético mais barato e mais poluente, conforme as pesquisas da CETESB.
O setor industrial pediu, recentemente, a intermediação do Ministério de Minas e Energia para abrir o que considera uma “caixa-preta”: a política de preços do insumo. Sem respostas, ainda, a indústria diz que a tarifa de gás no Brasil é usada para bancar parte dos US$ 174 bilhões de investimentos da estatal entre 2009 e 2013 previstos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Daí a pouca disposição do governo em intermediar negociações que visem baixar o preço do insumo.
A Petrobrás afirma que a parcela de 40% do preço do gás produzido no Brasil se refere ao custo da expansão da infraestrutura de gás natural do País e servirá para financiar investimentos da estatal. Sua correção se dá pelo IGP-M.
Os preços em importantes praças de consumo do insumo em São Paulo e no Rio de Janeiro chegam, respectivamente, a US$ 12,36 e US$ 10,30 por milhão de BTU (unidade térmica britânica que mede o poder calorífico do combustível). Esse é o preço médio pago pela indústria às distribuidoras, como a Comgás em São Paulo e a CEG, no Rio. O valor inclui a margem da distribuidora, o valor pago à estatal pela molécula (o gás) e o transporte. O valor médio recebido pela Petrobrás é de US$ 7 por milhão de BTU.
Diante da pressão de custo, setores como vidro, cerâmica, siderurgia e papel perdem competitividade e cortam a produção pela concorrência com os importados.
Em todos esses ramos, o gás representa de 20% a 30% do custo final dos produtos.
Não é só a indústria que sofre com o alto preço do gás natural. O produto chega a custar mais do que o dobro do preço do gás de botijão (GLP). Em São Paulo, o cliente de gás natural da Comgás paga R$ 65 pelo equivalente a um botijão de 13 kg de GLP, vendido, em média a R$ 31.
Ou seja, o valor do gás natural supera em 110% o do gás de cozinha (GLP), cujos preços estão congelados nas refinarias da Petrobrás desde 2002.
*Luiz Gonzaga Bertelli é Diretor dos Departamentos de Infraestrutura (DEINFRA) e
Meio Ambiente (DMA) da Fiesp
Autor: *Luiz Gonzaga Bertelli