Passados seis meses desde o estouro da crise financeira internacional, os empresários da construção civil ainda estão pessimistas. Sondagem realizada em fevereiro pelo Sindicato da Construção (Sinduscon-SP) e FGV Projetos com 214 empresários do setor revela maior preocupação quanto ao desempenho das empresas e ao crescimento da economia do País. Em relação ao mesmo mês do ano passado, a nota foi 30% mais baixa no primeiro caso e quase 60% no segundo.
A construção civil é uma das áreas mais sensíveis às mudanças de humor na economia. Quando a crise se aprofundou, em setembro do ano passado, esse foi um dos primeiros setores a demitir, mesmo após dois anos de crescimento forte. O que chama a atenção nessa sondagem é uma melhora – ainda que tímida – na forma como as empresas enxergam suas dificuldades financeiras. Há pessimismo, mas a tendência é de alívio, segundo o Sinduscon. Isso porque as margens de lucro melhoraram – graças à queda nos preços de insumos básicos, como o aço – e ao efeito das medidas de expansão do crédito, adotadas pelo governo desde o ano passado.
As avaliações foram feitas antes do anúncio do pacote habitacional do governo federal, que prometeu a entrega de 1 milhão de moradias até 2010 e a redução no valor das prestações do financiamento. As medidas devem servir como um alento para o mercado imobiliário.
No último trimestre, o setor – que havia esgotado boa parte do seu caixa com uma compra desmedida de terrenos – praticamente parou. Foram lançados 14.505 unidades na região metropolitana de São Paulo, o maior mercado do País, segundo levantamento do Sinduscon-SP. Isso é metade do mesmo período do ano anterior. Em janeiro, sem perspectivas de melhora, as empresas colocaram na praça apenas 456 lançamentos, quase duas vezes e meia menos que no mesmo mês de 2008.
É esperado que o drama se repita em fevereiro. “Houve um choque de expectativas com a falta de crédito, que criou um ambiente de paralisação geral”, afirma o vice-presidente imobiliário do Sinduscon, Odair Senra. “Esse pacote vai trazer perspectiva, que é o que está faltando no mercado.”
Boa parte das empresas colocou o pé no freio não apenas por falta de compradores, mas também por falta de caixa. Elas preferiram reservar o capital para terminar projetos já iniciados. Algumas, sem alternativa, foram obrigadas a se desfazer de terrenos para levantar mais dinheiro.
Em dezembro, na tentativa de evitar o pânico no setor, o governo lançou uma linha de R$ 3 bilhões para capital de giro. Até o fim de fevereiro, a Caixa Econômica Federal havia analisado pedidos de financiamento num volume de R$ 2,6 bilhões. Mas até agora nada foi liberado, segundo o Sinduscon. “Vontade de emprestar eles têm. Mas há muito rigor e burocracia na liberação”, diz Senra.
Autor: Agência Estado