O rápido processo de informatização das propriedades do agronegócio brasileiro está fazendo multiplicar o número de produtoras de software especializadas no segmento. De acordo com um levantamento preliminar da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), essas empresas já somariam 181 em todo o país, das quais 64% estão concentradas na região sudeste, especialmente em São Paulo e Minas Gerais. Em segundo lugar aparece a região sul, com cerca de 25% das empresas.
Praticamente todas as necessidades do produtor rural são atendidas por estes softwares, cujo número ultrapassa os 400, no total: da administração contábil da fazenda ao gerenciamento de insumos, do manejo animal e vegetal ao controle de processos, à topografia. O computador também avançou bastante na área de fornecimento de informações para o produtor. Já existem no mercado dezenas de sites voltados para o agronegócio, que tentam orientar o agricultor ou o pecuarista no tocante a lançamentos de produtos e possibilidades comerciais.
“Depois de se mecanizar, o campo brasileiro começa, agora, a se informatizar e aparentemente de maneira irreversível”, diz a analista da área de comunicação e negócios da Embrapa Informática Agropecuária, Cássia Isabel Costa Mendes. “É um processo que está concentrado, por enquanto, nas propriedades maiores e nas mais organizadas. Mas a tendência é que seja estendido também para as fazendas de menor porte, para aquelas que são gerenciadas de forma mais familiar e tradicional e para as cooperativas”.
Segundo Cássia, mesmo com a crise, sobrou algum capital no agronegócio para tanto. E o potencial financeiro do setor, como se sabe, é enorme. De fato, a cadeia produtiva do setor já responde por 33% do PIB do país, e sob a sua rubrica estão mais de 40% das exportações. Trata-se de um dos agronegócios mais desenvolvidos do mundo.
A informatização é tida como essencial para que este gênero de produção rural – que articula profundamente a mecanização das tarefas com o transporte e o beneficiamento industrial – não veja reduzida a competitividade e perca a posição conquistada.
Mais importante empresa de pesquisa e desenvolvimento na área do agronegócio do país, a Embrapa acompanha com olhos atentos o avanço da informática no setor. Desde outubro de 2007, a divisão Embrapa Informática Agropecuária, de Campinas (SP), está desenvolvendo o “Estudo do Mercado Brasileiro de Software para o Agronegócio”, que visa identificar a oferta e as características do mercado de softwares agropecuário, mapear as principais demandas de TI dos produtores rurais, cooperativas e entidades agrícolas e, a partir do cruzamento dessas duas vertentes, descobrir quais são as lacunas do setor e traçar cenários de resolução.
A pesquisa deve estar concluída em 2010.
“Quando a pesquisa estiver concluída, vamos priorizar dentro da Embrapa ações de pesquisa e desenvolvimento para os próximos três anos, de modo a difundir a tecnologia de informação para os potenciais usuários”, explica Cássia, que é coordenadora do projeto.
De acordo com ela, a empresa tentará convencer o governo a criar linhas de financiamento para o produtor rural que quiser se informatizar (a falta de capital para investir em estrutura física é um empecilho principalmente para os pequenos produtores), se possível dentro do BNDES e dos moldes do Moderfrota, que no começo dos anos 2000 permitiu a renovação de 30% a 40% da frota agrícola brasileira, estancando o sucateamento que já se observava no setor.
“Já existe, inclusive, um pequeno programa que atua neste sentido dentro do BNDES”, justifica a analista da Embrapa. Do lado da oferta, a Embrapa pensa em acionar órgãos de financiamento na área de P&D – como a Finep, CNPq e Fapesp – para financiar pequenos produtores de softwares que demonstrem interesse em desenvolver ferramentas que atendam a demanda que está agora sendo levantada pela empresa (já há grandes players no setor, sendo observado inclusive um movimento em direção a alguma concentração). Institutos de pesquisa e universidades também poderão ser estimuladas a investir no segmento – algumas delas, hoje, já produzem softwares para o agronegócio, como a Universidade Federal de Viçosa (UFV), de Minas Gerais, aliás, uma referência no setor.
A Embrapa já classificou os mais de 400 softwares hoje disponíveis para os produtores rurais de acordo com as finalidades das ferramentas – no total, são quase 100 áreas de aplicação, sendo que a maioria dos softwares compartilha mais de uma delas. Eles foram divididos em quatro grandes áreas, quais sejam, administração e gerenciamento de propriedades agrícolas; manejo animal; cultivo vegetal; e controle de processos.
Na primeira área, 150 softwares (37%) dedicam-se à administração da fazenda propriamente dita; 137 ao gerenciamento de insumo (34%) e cerca de 100 à contabilidade (25%). Na área de manejo animal, 71 softwares (18%) operam no segmento de bovinos de corte e 63 – 15% – ao rebanho bovino de leite. No setor de cultivo vegetal, que inclui a mais do que promissora área do etanol, para a qual estão disponíveis 67 softwares (17%), o cultivo da soja tem 65 ferramentas (16%) e o milho, 59 (14,5%).
Finalmente, para a área de controle de processos já foram desenvolvidos 81 softwares, incluindo aqueles que trabalham com rastreabilidade.
“Mas há softwares também para gestão da produção, manejo ambiental, topografia, controle e análise financeira, gerenciamento de culturas específicas, zoneamento climático e econômico, cálculos, processamento e geração de imagens, entre outros”, diz Cássia. “E espaço para muito mais coisas.
Para as empresas é uma ótima oportunidade de negócios”, explica, afirmando que as principais demandas são para sistemas de automação para agricultura de precisão; análise de solo e adubação; controle de sementes; segurança alimentar; integração da cadeia de grãos e até sistemas educacionais para difundir o conhecimento tecnológico aos pequenos produtores.
O projeto da Embrapa conta com várias parcerias institucionais: Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (Softex), Instituto de Economia Agrícola do Estado de São Paulo (IEA-SP), Faculdade de Engenharia Agrícola e Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Universidade de São Paulo (USP) por meio da Rede de Inovação e Prospecção para o Agronegócio (Ripa) e Associação Brasileira de Informática Aplicada à Agropecuária e à Agroindústria (ABI-Agro). Ainda participam do projeto, as seguintes unidades da Embrapa: Transferência de Tecnologia (Brasília), Agroindústria Tropical (Fortaleza), Gado de Corte (Campo Grande), Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), Rondônia (Porto Velho) e Departamento de Tecnologia da Informação (Brasília).
Autor: Ipesi