1,27 bilhão de litros/dia de resíduos jorram por 6.670 pontos; 1/4 dos dejetos metropolitanos acaba em cursos d'água
Parte dos habitantes da Região Metropolitana de São Paulo atendidos pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) paga a coleta e o tratamento de esgotos, mas a empresa joga tudo, in natura, nos rios e córregos, por falta de coletores, interceptores e emissários. Esses pontos de poluição são chamados pela empresa de lançamentos provisórios, mas sempre existiram.
Há 6.670 pontos, que jogam em cursos d'água 1,27 bilhão de litros/dia e deverão estar totalmente ligados aos coletores só em 2018. A Sabesp justifica-se, dizendo que 3.470 pontos foram conectados à rede nos últimos anos, baixando o despejo em 1,41 bilhão de litros/dia – anteriormente eram 10.140 pontos de poluição.
Para piorar, as seis cidades da Região Metropolitana que têm serviço próprio de água e esgoto – Santo André, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Guarulhos e Mogi das Cruzes – não conseguem tratar seus dejetos e também despejam mais de 394 milhões de litros de detritos todos os dias em rios e ribeirões.
E há ainda as 100 mil ligações clandestinas de esgotos na capital que jorram a cada 24 horas mais 500 mil litros de sujeira nesses mesmos cursos d?água. As bacias dos Rios Tietê, Pinheiros e Tamanduateí, na Grande São Paulo, recebem cerca de 26,8% de todo o esgoto metropolitano (4,32 bilhões litros/segundo), fora a sujeira que vem das ruas. E 15% da população sequer conta com os dejetos coletados.
O mapeamento dos pontos de despejo feito pela Sabesp coloca um ponto vermelho em cada um dos locais de lançamento. A quantidade é tão grande que, internamente, ganhou o nome de “mapa catapora”. “É uma vergonha que a sede da maior empresa de saneamento da América Latina esteja numa cidade que fede a esgoto”, afirma o presidente, Gesner Oliveira.
A Região Metropolitana produz todos os dias algo em torno de 50 mil litros de esgoto por segundo. Efetivamente são tratados nas cinco estações de tratamento de esgotos (ETEs) – ABC, Barueri, Parque Novo Mundo, São Miguel e Suzano – 13,5 mil litros por segundo. Entretanto, a capacidade efetiva de tratamento dessas ETEs é de 18 mil litros/segundo. “Daqui a dez anos será inaceitável passar pelas Marginais e sentir fedor. É preciso resolver o problema do esgotamento sanitário”, admite Gesner. Para tanto, uma das apostas da companhia ainda é o Projeto Tietê, para limpar os rios e coletar e tratar todo o esgoto na Grande São Paulo até 2018.
De acordo com o engenheiro Julio Cerqueira Cesar Neto, da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, são dois os motivos que impedem a utilização total da capacidade de tratamento. Primeiramente, a deficiência das canalizações que deveriam transportar os esgotos das redes coletoras para áreas de tratamento.
Faltam coletores-tronco (tubulações instaladas ao lado dos córregos), interceptadores (tubulações assentadas ao lado dos rios) e emissários. “A Sabesp, desde a fundação em 1973, até o início do Projeto Tietê, na década de 90, se preocupou em construir apenas as pontas do sistema: as redes coletoras e as estações de tratamento. Evidentemente as redes coletoras foram executadas despejando os esgotos in natura nos córregos.”
Só após a passagem pela estações o produto é devolvido, em boas condições – segundo a Sabesp -, ao meio ambiente ou destinado ao reúso. Um estudo do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas também mostra que cada R$ 1 investido em saneamento representa uma economia de R$ 4 em gastos com saúde.
Autor: O Estado de S.Paulo