O aquecimento do mercado de trabalho para engenheiros trouxe de volta profissionais que se distanciaram das planilhas há anos, quando a estagnação econômica dos anos 80 e 90 imobilizou as obras e a atividade industrial em todo o país.
A metalúrgica Gerdau, por exemplo, diz precisar de mais engenheiros metalúrgicos do que há em formação no seu Estado-sede, o Rio Grande do Sul.
“Não tem crescimento econômico sem engenheiro. Com as crises do petróleo e do crédito, o Brasil viveu duas décadas péssimas”, afirma Edemar de Souza Amorim, presidente do Instituto de Engenharia.
Marcos Túlio de Melo, presidente do Confea (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia), vê dois movimentos para a revigoração.
“O primeiro ciclo veio com as commodities agrícolas, no início desta década. O segundo, com as commodities minerais e o aumento de vagas na indústria metalúrgica.”
Segundo Luiz Scavarda, professor da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica), o Brasil deve formar em 2008 32 mil engenheiros, mas esse número deveria ser superior a 60 mil.
Sem boas chances na engenharia, alguns profissionais ficaram 20 anos longe da ocupação. É o caso de Miguel Nuñez, 65, engenheiro industrial mecânico que, em 1982, saiu da sua área para ser vendedor.
“Sou exemplo da mão-de-obra reciclada da aposentadoria”, brinca ele, que, há quatro meses, voltou a atuar como engenheiro em uma concessionária de máquinas.
Mescla com jovens
Luiz Olivé, 58, formado em engenharia civil em 1976, afirma que o tempo em que atuou como empresário foi importante para assumir as responsabilidades na área de novos negócios e incorporação de uma construtora. “Você se torna uma pessoa mais completa.”
As empresas também aproveitam para misturar jovens com mais velhos, afirma Fernando Ceravolo, 54.
Ele conta ter ficado fora do mercado de engenharia por cerca de sete anos. A experiência adquirida no período é valorizada. “As empresas estão mesclando experientes com novos para formar uma cultura própria. O pessoal [jovem] está capacitado em termos de tecnologia. Quando eu estudava, fazíamos cálculo com régua.”
Com previsão de se formar em engenharia civil no final deste ano e estagiando há quatro, Paulo Aguiar, 25, aponta que, por não terem dependido de computadores no início da carreira, os mais velhos “têm raciocínio mais lógico, técnico”, o que colabora com o perfil tecnológico dos estudantes.
Autor: Folha de S.Paulo