Nenhuma das três grandes fabricantes globais de equipamentos médicos de alta tecnologia – Philips, GE e Siemens – pensou até hoje em produzir esses aparelhos no Brasil, bem como em qualquer país da América Latina, devido ao pequeno de volume de vendas na região.
A Philips é a primeira a romper o círculo. A multinacional holandesa começará a produzir neste mês equipamentos de ressonância magnética em Minas Gerais, na unidade da VMI, uma fabricante brasileira de raio-x adquirida pela multinacional em 2007.
Essa será a primeira fábrica do gênero da Philips fora da Europa. No ano que vem, a multinacional também começará a produzir em Minas Gerais equipamentos de tomografia, que, assim como as máquinas de ressonância, nunca foram fabricados em um país latino-americano por nenhuma empresa.
O início da fabricação no país de equipamentos médicos digitais, de alta tecnologia, deve provocar mudanças no mercado. Dario Speranzini, vice-presidente de cuidados médicos da Philips para a América Latina, vai pedir ao governo brasileiro que os equipamentos de ressonância magnética e tomografia importados pelos seus concorrentes comecem a ser taxados.
Como não há até agora produtos similares produzidos localmente, as máquinas trazidas do exterior estão isentas de imposto de importação e IPI. ” Como vamos passar a fabricar os equipamentos no Brasil, o regime tributário deve mudar ” , diz Speranzini.
Em todos setores em que existe uma produção local, como eletroeletrônicos, computares, carros e mesmo aparelhos de raio-x, há alguma proteção à industria, que é maior ou menor conforme a sua importância econômica.
Por enquanto, a nacionalização da produção dos equipamentos de ressonância proporcionará um abatimento nos custos em torno de 18% devido aos descontos no pagamento de ICMS. Se o governo cobrar outros impostos sobre os equipamentos importados, a Philips ganhará muito mais competitiva sobre seus dois concorrentes.
Segundo Speranzini, a produção dos equipamentos em Minais Gerais traz uma grande vantagem logística, e não apenas tributária, já que o carregamento das máquinas de ressonância é muito complexo – além de uma campo magnético, elas possuem o gás hélio.
” Hoje, o tempo necessário entre a colocação de um pedido e a entrega do equipamento é de sete a oito meses. Com a fabricação local, poderemos entregar uma encomenda dentro de trinta dias ” , afirma Speranzini. A primeira máquina de ressonância produzida no país será entregue em novembro para uma clínica de Cuiabá.
A área médica foi eleita pela multinacional holandesa como uma das suas grandes prioridades no mundo. Dentro do novo posicionamento estratégico desenhado pela matriz em 2006, os países emergentes passaram a ter uma importância muito maior, o que explica a decisão de investir em fábricas de equipamentos médicos de alta tecnologia no Brasil.
Em 2007, as vendas globais da Philips foram de 27 bilhões de euros e, deste total, a América Latina respondeu por apenas 1,8 bilhão de euros. Na região, a divisão de cuidados com a saúde representa ainda uma fatia muito pequena, com vendas de 274,92 milhões de euros no ano passado.
Mas esse quadro deve mudar. Na recente revisão do orçamento de longo prazo, que estende-se até 2014, Speranzini afirma que o grupo reforçou ainda mais a decisão de investir na área de saúde. ” Vamos fazer mais aquisições no setor no Brasil e na América Latina ” , afirma o executivo.
Depois de comprar a VMI em 2007, a Philips adquiriu neste ano a Dixtal, fabricante brasileira de monitores de beira de leito e ventilação forçada. Nas duas aquisições e nas ampliações das fábricas, a empresa já gastou US$ 300 milhões.
Diferente dos aparelhos eletrônicos de consumo, a demanda por máquinas de ressonância magnética restringe-se a 100 ou 110 unidades por ano no Brasil. A Philips, diz Speranzini, já detém 37% de participação de mercado no país neste segmento.
Os dois modelos que a empresa está produzindo no país custam US$ 1 milhão e US$ 1,6 milhão, respectivamente. A multinacional firmou uma parceria com o banco holandês Rabobank, que oferece linhas de crédito para a aquisição das máquinas nacionais a taxas pré-fixadas com prazos de 5 a 7 anos. O banco já financia equipamentos importados, em moeda estrangeira.
Autor: Valor Econômico