Com a retomada da discussão no Congresso Nacional sobre projeto de lei que trata da inspeção técnica veicular, a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA) retoma também a elaboração de um projeto de reciclagem de veículos considerados fora de linha ou impróprios para circulação. A entidade já vem estudando o assunto há pelo menos cinco anos e a idéia é apresentar a proposta ao governo federal.
De acordo com o presidente da entidade, José Edison Parro, o grande problema da reciclagem de veículos é que não há empresas especializadas nesse serviço no Brasil. Dessa forma, seria necessário trazer para o país empresas interessadas em atuar na área. “Seria uma linha de desmontagem na qual há vários componentes, óleo, plástico, graxa, borracha, então isso tem que ser feito dentro de uma seqüência e uma linha de montagem. Esse é o nosso objetivo, um estudo de engenharia ligado a essa parte automotiva.”
Parro afirmou que, além dos problemas de ordem técnica, há desafios burocráticos, porque não existe uma regulamentação para o descarte dos veículos fora de linha. Com isso, eles acabam sendo levados para desmanches e depósitos, onde os restos ficam totalmente expostos. “O que queremos fazer é colocar uma ordem nesse assunto e promover essa reciclagem, principalmente em termos ambientais.
O nosso grande objetivo é fazer a reciclagem de veículos e não simplesmente destruir o veículo. Nós acreditamos que há uma série de materiais que podem ser reaproveitados.”
Segundo ele, não há dados precisos sobre o número de carros sem condições de circular, mas que continuam trafegando nas ruas. “Esse número está sendo bastante discutido. Uns falam em 20, 30% da frota, mas é um número meio duvidoso, então a inserção viria no sentido de colocar uma ordem para evitar acidentes”. Além disso, ele ressaltou que o estado passaria a arrecadar o que hoje não recebe pelos carros deixam de pagar o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).
O professor de engenharia mecânica da Universidade de São Paulo (USP) Gilmar Batalha afirmou que as próprias fábricas poderiam comprar esses carros, desmontá-los e reaproveitar as peças recicladas desses veículos na linha de produção. Outra alternativa seria as montadoras darem descontos aos proprietários desses veículos para a aquisição de carros novos. “Porque ali está energia, matéria-prima guardada e que não precisaria ser jogada fora, poderia ser reutilizada.”
Batalha sugere que a compra de um veículo passe a ser encarada como a aquisição de um serviço de mobilidade que seria usado durante um tempo determinado. Ao término desse prazo, as próprias empresas comprariam o carro para reaproveitar a matéria-prima. “A idéia é a de que a fábrica começasse a acompanhar seu produto, seu serviço de mobilidade do berço ao túmulo, garantindo um ciclo de vida, de modo que se o usuário quiser prolongar esse ciclo ele teria uma despesa a mais.”
O professor reforçou que, mesmo que o Brasil seja um país rico em matéria-prima e recursos, existe uma demanda crescente do mercado interno. Para ele, o país deveria seguir o exemplo de nações onde os recursos são mais escassos. Para isso, uma das medidas necessárias seria o fim de cemitérios de carros velhos. “Esses locais são minas de ferro e alumínio e uma fonte de valor agregado. Deixar esse material lá é dinheiro jogado fora. Na medida em que as pessoas associarem valor ao produto e começar a surgir interesse econômico isso não vai ficar jogado fora”.
Segundo Gilmar Batalha, paralelamente à implantação da reciclagem dos veículos, uma nova forma de conceber os carros teria de ser elaborada, de modo a usar a cadeia de fornecedores dispostos a trabalhar ecologicamente. “A indústria automobilística brasileira já tem autonomia para conceber seus projetos. A sociedade tem que pegar idéias ecologicamente corretas e transformar em gestão, dar empregos em vários setores”, finalizou.
Autor: EBC