A Marinha espera concluir até 2010 sua própria usina para transformar o concentrado de urânio em gás e assim produzir combustível nuclear na quantidade necessária para continuar desenvolvendo seu programa nuclear.
Com o fôlego renovado desde a promessa do governo federal de destinar R$ 1 bilhão para que dê continuidade ao programa, a Marinha estima construir até 2014 um laboratório onde poderá gerar energia elétrica a partir da tecnologia nuclear.
Tanto a Usexa (Usina de Hexafluoreto de Urânio, o gás UF6) quanto o Laboratório de Geração Núcleo-Elétrica (Labgene) irão funcionar no Centro Experimental de Aramar (CEA), instalação que a Marinha mantém no município de Iperó, no interior de São Paulo, a cerca de 130 quilômetros da capital paulista.
Embora já domine todo o ciclo de produção do combustível nuclear, da prospecção mineral à fabricação das pastilhas de urânio que alimentam os reatores nucleares, o Brasil segue dependente de outros países para produzir a quantidade de combustível necessária para alimentar as Usinas de Angra 1 e 2, por não conseguir produzir nem o gás UF6 nem o urânio enriquecido nos volumes necessários.
Segundo o superintendente do Programa Nuclear da Marinha, comandante Arthur Campos, a conversão do urânio em pó (yellowcake) no gás UF6 – processo que poderá ser feito na Usexa tão logo ela fique pronta – hoje é realizada no Canadá. Já o enriquecimento do urânio é feito na Europa, pela companhia
Urenco (do inglês Uranium Enrichment Services Worldwide), um consórcio formado pela Inglaterra, Alemanha e a Holanda.
Atualmente, apenas sete países realizam o enriquecimento do urânio: Estados Unidos, França, Rússia, Grã-Bretanha, Alemanha, Japão e Holanda.
Com a Usexa em funcionamento, a Marinha será capaz de produzir 40 toneladas de UF6. Pouco, mas suficiente para suas necessidades. Além disso, o conhecimento tecnológico adquirido pelos pesquisadores da força certamente servirão a outros setores, como já aconteceu no final 2005, quando as Indústrias Nucleares do Brasil (INB) comprou da Marinha e instalou em Resende (RJ) o modelo avançado de ultracentrífugas desenvolvido pelos militares em 1988 para a produção contínua de urânio enriquecido. O valor pago à Marinha é mantido em sigilo.
Para se ter uma noção do potencial energético do material obtido na Usexa, o chefe da divisão do Laboratório de Materiais Nucleares do CEA, Lauro Roberto, explica que com 24 quilos de UF6 podem ser produzidos cerca de 17 quilos de dióxido de urânio (UO2), matéria-prima para a fabricação de quase 3 mil pastilhas utilizadas como combustível nos reatores nucleares.
“A energia contida em uma só pastilha de urânio de 7 gramas, enriquecida a 3,5%, equivale a três barris de petróleo e a uma tonelada de carvão. Não significa que você vá obter toda essa energia, mas é possível ver o potencial do material”, explica Roberto.
Já o projeto do Labgene visa a construção de uma planta nuclear capaz de gerar energia elétrica. O reator que deverá ser utilizado terá cerca de 11 megawatts de potência, o que, segundo a Marinha, é suficiente para iluminar uma cidade de aproximadamente 20 mil habitantes. Sozinha, Angra 1 gera cerca de 600 megawatts.
Além de garantir que as instalações do laboratório servirão de base para um eventual projeto de desenvolvimento de um reator nuclear brasileiro, a Marinha também assegura que o Labgene servirá como um protótipo do sistema de propulsão naval, que permitirá a obtenção de parte do conhecimento necessário à possível construção de um submarino nuclear.
As empreiteiras contratadas pela Marinha preparam o terreno onde serão construídos os prédios que vão abrigar o reator e o protótipo de uma turbina. De acordo com o engenheiro civil consultor da obra Roberto Marczynski, o local foi escolhido devido a estabilidade geológica, já que seu subsolo rochoso atinge cem metros de profundidade. Além disso, o projeto dos dois prédios, interligados por uma ponte rolante e licenciados pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cenen), prevê as mesmas contenções de proteção que usadas nas Usinas de Angra dos Reis (RJ).
“A população pode estar segura”, garante o engenheiro.
Autor: Agência Brasil