Cientistas estudam uso de asfalto para gerar energia

O calor acumulado no asfalto pode ser fonte de energia para os usos mais variados, do aquecimento de água à geração de eletricidade, dizem pesquisadores dos Estados Unidos em um estudo que será divulgado na semana que vem.

“Você põe uma rede de canos sob o asfalto e coloca água dentro deles. Se você fizer isso no estacionamento de um hotel, por exemplo, pode usar a água quente para lavagem”, afirmou um dos autores do estudo “Capturando Energia Solar de Pavimentos de Asfalto”, Rajib Mallick.

O uso da água aquecida seria o mais simples entre os possíveis. O objetivo principal dos pesquisadores, diz Mallick, é usar o calor contido na água para fazer funcionar turbinas e gerar energia elétrica.

Mallick, professor de engenharia civil e ambiental do Worcester Polytechnic Institute (WPI), em Massachusetts, e os outros três autores do trabalho argumentam que a energia pode ser mais simples de instalar do que painéis solares.

Entre as vantagens, estariam o aproveitamento de uma estrutura já existente de estradas e estacionamentos – a instalação poderia ser feita nas obras de recapeamento – e a possibilidade do uso após o anoitecer, ao contrário dos painéis, que dependem da luz para funcionar.

Mallick diz que, após terem feito os testes em laboratório, os pesquisadores estão agora fazendo um experimento em um estacionamento.

Segundo o cientista, a instalação do sistema em estradas tende a ser mais complexa do que em estacionamentos, pela instabilidade no pavimento causada pelo contínuo movimento e peso dos veículos que trafegam nas rodovias.

A idéia do estudo partiu de Michael Hullen, da empresa Novotech e um dos autores do estudo. Segundo Mallick, embora o potencial aproveitamento do asfalto na retenção do calor já tenha sido mencionado em outros estudos, ele e sua equipe não encontraram um que detalhasse o funcionamento do sistema de forma prática.

Além de Mallick e Hullen, Sankha Bhowmick e Bao-Liang Chen, também do WPI, foram co-autores no estudo, que será apresentado na próxima semana no Simpósio sobre Pavimentos de Asfaltos e o Meio Ambiente, em Zurich, na Suíça.

Custo

O sistema teria um custo entre US$ 20 e US$ 50 por metro quadrado e teria capacidade de gerar até 800 kW/h por dia durante seis meses do ano no Estado de New England, onde os cálculos foram feitos.

Regiões com maiores incidências de radiação solar como Califórnia e Arizona, no caso dos Estados Unidos, poderiam gerar ainda mais energia, pelo mesmo custo.

Mallick diz que pelo fato de ter muita radiação solar, o Brasil seria um dos grandes beneficiados do desenvolvimento comercial da tecnologia.

O cientista ressalva, porém, que “tudo foi feito numa base teórica” e que mais estudos precisarão ser feitos.

O sistema poderia ser usado para aeroportos, shoppings, hotéis e prédios comerciais, entre outros grandes consumidores de energia que poderiam atender à sua demanda sem o uso de energia elétrica.

Além de gerar energia, o sistema pode também reduzir as altas temperaturas do asfalto, aliviando o fenômeno das ilhas de calor, que resulta da substituição de plantas por concreto e outros materiais que absorvem calor.

Para tanto, Mallick e dois dos seus colegas no primeiro trabalho, elaboraram um outro estudo em que propõem usar o mesmo sistema de canos com líquidos para baixar a temperatura da superfície do asfalto e para gerar energia.

O estudo sobre a captura de energia solar foi financiado com bolsa do Massachusetts Technology Development, mas os cientistas estão em busca de mais financiamento para dar continuidades aos estudos e aperfeiçoar o modelo.

Autor: Agência Estado