Muitos transformadores de plástico já deixaram de produzir e resolveram importar produtos já acabados da China, por conta dos aumentos do preço da resina termoplástica brasileira. A Mueller, que estima transformar 22 mil toneladas de plástico este ano, não chegou a tanto, mas já sente que a sua carteira de clientes, recheada de multinacionais, tem preferido comprar produtos já prontos no mercado externo. A falta de competitividade do setor trouxe mais um reflexo do poder mercadológico dos baratos produtos chineses.
A dificuldade de repassar os preços aos clientes tem sido um dos maiores problemas, segundo a Mueller. A companhia, que é fornecedora das principais montadoras, como General Motors (GM), Volkswagen, Ford, Fiat, com linhas de painéis, pára-choques, reservatórios de água e óleo, entre outros produtos, conseguiu repassar os aumentos registrados até o mês de maio, mas não consegue visualizar o que irá fazer com os novos reajustes. “Essa situação cria um ônus muito grande para as empresas.
Para não repassar recorremos aos bancos, ao capital da empresa e estamos diminuindo nossos lucros” , afirma Ricardo Max Jacob, presidente da companhia. A empresa conta hoje com três unidades industriais – uma em São Paulo e duas em Minas Gerais
A companhia reclama, ainda, da falta de negociação entre a segunda e a terceira geração da indústria petroquímica.
Segundo Jacob, o aumento que vem “de cima para baixo” impede o diálogo.
“Outra coisa que me chama a atenção é a razão da matéria-prima brasileira ser mais cara”, afirma o empresário, lembrando que o País é um grande produtor de petróleo. “A indústria do plástico está perdendo muito com essa situação”, diz Jacob.
“Várias empresas do setor já pararam de produzir e estão importando os produtos acabados para conseguir lucrar”, afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), Merheg Cachum.
Ameaça oriental
A tendência, segundo o Cachum, é que a China conquiste um espaço ainda maior dentro do mercado brasileiro com seus produtos. É exatamente esse o temor da terceira geração da indústria petroquímica, que reclama de estar trabalhando com uma margem de lucro reduzida e de ter muita dificuldade para repassar o aumento dos preços das resinas para os seus clientes. A situação deverá piorar de acordo com as empresas, já que novos reajustes das resinas termoplásticas deverão ocorrer já na primeira semana de agosto.
Para o presidente da Abiplast, os preços das matérias-primas no Brasil estão mais caros do que os praticados no mercado externo. “O mercado internacional, principalmente a China, está colocando produtos acabados mais baratos aqui”, afirma .
Segundo levantamento feito pela Abiplast, em abril, a tonelada do polietileno no mercado interno custava US$ 2.544, enquanto na Ásia e Estados Unidos valia US$ 1.760 e US$ 1.616 (preços sem frete incluso). De acordo com a entidade, o preço do polipropileno no mercado doméstico já aumentou quase 46% nos últimos 12 meses. Já o polietileno de alta densidade, mais de 45%. Procuradas, tanto a Quattor, quanto a Braskem não se manifestaram.
Sobrevivência
A indústria do plástico almeja preços das resinas plásticas no Brasil, “no mínimo”, iguais aos praticados no mercado internacional, como “única maneira de ter competitividade”. E quer reduzir a alíquota de importação, hoje de 14%.
Mesmo com a alíquota paga, a cadeia plástica já aumentou os seus negócios com o exterior. As importações brasileiras de resinas termoplásticas cresceram 60,7% no primeiro semestre deste ano sobre os mesmos meses de 2007 e chegaram a 521,7 mil toneladas, de acordo com dados divulgados pela Associação Brasileira da Indústria Química.
Para o presidente da Abiplast, caso a terceira geração importe toda a sua matéria-prima, as produtoras das resinas começarão a perder dinheiro. “A questão é que não queremos nos transformar em importadores. Sempre compramos da indústria nacional”, afirma Cachum.
Governo
A Abiplast, no final do mês passado, reuniu-se com o ministro do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio Exterior, Miguel Jorge, para um realinhamento da carga tributária da cadeia produtiva. Após o encontro, indústrias do setor ameaçaram deixar o País e “migrar seus investimentos para outros países” caso as reivindicações não fossem acatadas pelo governo federal.
Autor: DCI
