Etanol e pré-sal mudam o plano do governo em energia

Petróleo e gás na camada pré-sal, etanol, eólicas, térmicas e hidroelétricas estão mudando o perfil energético do Brasil. Baseado nisso o governo federal está adotando ações para rever os modelos e as práticas de geração e exploração. Na última sexta-feira, representantes do setor apresentaram as primeiras ações, a começar pela revisão do Plano Nacional de Energia e passando por novos acordos de cooperação na América Latina, e culminando com a instituição da comissão interministerial que discutirá o marco regulatório do petróleo.

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, fez sexta-feira uma apresentação sobre o Plano de Nacional de Energia (PNE) para 2030 no Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP). Ele afirmou que o plano será revisto até o final de 2009, porque, com o aumento de utilização de fontes renováveis de energia e com as descobertas do pré-sal, as expectativas traçadas ficaram desatualizadas. De acordo com o plano atual, o petróleo, hoje responsável por 39% da matriz energética, passará a responder por 29% do total de energia utilizada no País. As descobertas do pré-sal não modificam este cenário porque a expectativa é de que o etanol mantenha-se competitivo em relação aos derivados de petróleo. Então, o que mudariam seriam as exportações brasileiras, e não o consumo interno.

Dos 130 mil MW projetados para geração em 2030, cerca de 6,5 mil MW deverão ser a partir de biomassa. Mas Tolmasquim já disse que este número foi “subestimado” e que o aumento de participação da cana-de-açúcar de 14% para 18% já está defasado e a ampliação será ainda maior.

Eólica

Diante do grande número de empresários interessados, o governo estuda lançar um leilão de energia eólica. A EPE deverá entregar dentro de 60 dias um estudo sobre a viabilidade e sobre os moldes da licitação, que teria o preço como fator determinante, já que ainda se trata da forma mais cara de energia limpa do mundo.

De acordo com Tolmasquim, o Ministério de Minas e Energia é quem decidirá sobre a efetividade do leilão, que só deverá acontecer a partir do ano que vem. “Existe uma possibilidade de ser parecido com o leilão de biomassa, mas ainda estamos estudando os modelos”, disse Tolmasquim.

De qualquer forma, ele descartou qualquer possibilidade de subsídio do governo a este tipo de energia, já que atualmente o modelo de novos projetos adotado baseia-se na concorrência. “Hoje, temos um modelo competitivo”, disse. E, mesmo que a energia eólica não possa concorrer em termos de preços com outras formas de geração, o objetivo é que ela seja auto-suficiente.

Cooperação

O Brasil vai passar a enviar 72 MW de energia para o Uruguai, nos mesmos moldes da operação já realizada com a Argentina. O país vizinho devolverá a energia nos meses em que não houver escassez, entre setembro e novembro. O acordo de permuta foi fechado entre os ministros de Minas e Energia do Brasil, Edison Lobão, e do Uruguai, Daniel Martinez.

O Uruguai já comprava 70 MW do Brasil, provenientes de termoelétricas, mais caras. Agora, com o acordo bilateral, o vizinho trocará energia hidroelétrica. O envio foi iniciado na noite de sexta-feira.

Ainda no sentido de ajudar o país vizinho a garantir o abastecimento de energia, o governo brasileiro vai permitir que o Uruguai construa uma termoelétrica a carvão no Rio Grande do Sul. Segundo, não se trata de algo “comum”, mas será “por amizade”.

Apesar do desejo do governo de construção de todas as embarcações, sondas e plataformas encomendadas pela Petrobras no interior do País, Lobão já admite a construção em países vizinhos, sendo que existem conversas adiantadas com o Chile. Ele não soube precisar qual é a capacidade de construção destes equipamentos no Chile, mas disse que “o que houver lá nós estamos prontos para discutir”.

A justificativa é a dificuldade que os estaleiros e os produtores de equipamentos estão encontrando para atender à forte demanda brasileira. O ministro disse, inclusive, que, por este motivo, algumas empresas, “inclusive a Petrobras”, estão a ponto de devolver alguns blocos que ganharam em licitações pela falta de condições de explorá-los, “porque não há equipamentos no mundo”.

Autor: DCI