A usina nuclear Angra 3, no Rio, será abastecida com combustível nuclear – urânio enriquecido a cerca de 3% – fabricado no Brasil, segundo anunciou, ontem, o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura, durante o Simpósio Anual da Seção Latino-Americana da American Nuclear Society. Atualmente, o urânio que supre a necessidade das usinas Angra 1 e Angra 2 é enriquecido em países da Europa.
Altino Ventura confirmou que o Brasil está se capacitando para poder fornecer o combustível, que, a princípio, será produzido em uma fábrica localizada em Resende.
A mineradora Galvani será a primeira empresa privada a produzir urânio no Brasil. A empresa ganhou licitação para se associar à Indústrias Nucleares do Brasil (INB) para atuar na mina de Santa Quitéria, no Ceará. O investimento de US$ 377 milhões permitirá a produção de 240 mil toneladas de fosfato (usado na produção de fertilizantes) e 1.500 toneladas de urânio por ano, a partir de 2014. A parceria com o setor privado faz parte da estratégia da estatal para garantir o abastecimento das usinas de Angra 1, 2 e 3.
Os planos de ampliar a atuação brasileira na cadeia do urânio não se restringem apenas à parte produtiva. O presidente da INB, Alfredo Tranjan Filho, disse que o país pretende iniciar, a partir de 2015, o enriquecimento e a reconversão de urânio, que atualmente, é feita no exterior.
Tranjan Filho sinalizou que a associação com o setor privado será mantida nos projetos futuros de exploração de urânio. Atualmente, a INB produz 400 toneladas/ano de urânio na mina de Caetité (BA), que são destinados para as usinas de Angra 1 – cujo consumo é de 170 toneladas a cada 14 meses – e Angra 2 – consumo de 270 toneladas no mesmo período. A INB tem planos de dobrar a produção em Caetité. Além de Angra 3, está prevista a entrada de quatro a oito unidades nucleares até 2030.
Atualmente, o país, que tem 30% do território explorado, tem 309 mil toneladas de urânio confirmadas, além de estimativas de 150 mil toneladas em outras jazidas. O INB afirma, porém, que existem indícios de mais 800 mil toneladas.
Potencial hidrelétrico
O secretário Altino Ventura lembrou que o Brasil tem o maior terceiro potencial hidrelétrico do mundo com 260 mil Megawatts, sendo que desse total, apenas 27% são aproveitados.
Ele afirmou também que o Plano Nacional de Energia para 2030 prevê o aproveitamento de 180 mil Megawatts, sendo que os demais 80 mil Megawatts estão em terras indígenas ou reservas florestais; e que os 180 mil Megawatts estarão esgotados em 2030. Uma das soluções, portanto, na sua avaliação, será a utilização da geração não hidráulica, como termelétricas.
– Logo, heverá uma inserção estratégica de geração nuclear no país – afirmou.
Autor: Jornal do Brasil