A conferência climática da ONU em Bonn discute propostas para ajudar os países em desenvolvimento a construírem usinas nucleares, o que lhes permitiria emitir menos gases do efeito estufa.
A energia nuclear é uma opção polêmica dentro do mecanismo da Organização das Nações Unidas (ONU) que estimula investimentos de países ricos em energias “limpas” no exterior e lhes dá crédito pela redução doméstica dos gases do efeito estufa.
Na conferência que vai de 2 a 13 de julho, Índia, Canadá e outros propuseram mais ajuda ao desenvolvimento nuclear nos países pobres. “É uma das questões que precisam ser consideradas”, disse na quinta-feira Yvo de Boer, diretor do Secretariado de Mudança Climática da ONU, responsável pelo evento.
Também estão em discussão a adoção de um sistema que permita capturar e enterrar o dióxido de carbono emitido por usinas termoelétricas, por exemplo, e mecanismos de estímulo para o reflorestamento global.
Muitos países e ambientalistas são contra a inclusão da energia nuclear no chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL, parte do Protocolo de Kyoto, tratado climático da ONU que expira em 2012).
“A energia nuclear não é a energia do futuro”, disse Martin Hiller, da ONG WWF. “Ela não deveria estar no MDL. O MDL deveria tratar de energia renovável.”
Ele disse que a energia nuclear é perigosa demais, apesar de praticamente não emitir carbono, como os combustíveis fósseis.
A conferência de Bonn não tomará nenhuma decisão sobre mudanças no MDL. O evento é parte de uma série de negociações destinada a criar até o final de 2009 um tratado que substitua o Protocolo de Kyoto.
“Acho que a energia nuclear no MDL não será nem levada em conta pela maioria das delegações”, disse um delegado europeu.
O debate reflete a polêmica sobre a conveniência de tratar as usinas nucleares como alternativas aos combustíveis fósseis, principais “vilões” do aquecimento.
De Boer estimou que o MDL poderia canalizar até 100 bilhões de dólares por ano para os países em desenvolvimento nas próximas décadas, desde que os países industrializados aceitem reduções expressivas nas suas emissões e façam metade dos cortes no exterior.
O cálculo também se baseia no pressuposto de que os créditos por evitar emissões de gases do efeito estufa serão cotados a uma média de 10 dólares por tonelada.
Até agora, o MDL tem projetos aprovados ou sob avaliação que iriam evitar uma emissão total de 2,7 milhões de toneladas até 2012, mais ou menos o equivalente a um ano de emissões conjuntas de Japão, Alemanha e Grã-Bretanha.
Autor: Reuters