A indústria naval e offshore indicou ao governo e à Petrobras que não terá como fazer no Brasil os primeiros 12 navios-sonda e plataformas semi-submersíveis de perfuração previstos para serem entregues até 2012. A encomenda integra o pacote de 40 unidades lançado, com pompa e cerimônia, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na segunda-feira.
Horas depois do anúncio, o Sinaval, entidade que reúne os estaleiros nacionais, enviou carta à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, na qual diz concordar com a colocação das primeiras doze unidades no mercado internacional.
No documento, o Sinaval condiciona a posição da entidade ao compromisso de construção das demais 28 unidades no Brasil. E acrescenta que, na hipótese de a estatal não conseguir contratar todas as 12 primeiras unidades no exterior no prazo previsto, o saldo remanescente seria incorporado ao conjunto de plataformas e sondas a ser contratado no país. A previsão da Petrobras é contratar o pacote todo, de 40 navios-sonda e plataformas, até 2017.
A Petrobras disse que não teria nada a comentar além do já anunciado, na segunda-feira, por José Sérgio Gabrielli, presidente da empresa. Segundo a assessoria da Petrobras, o assunto está em análise. Procurado pela reportagem, o presidente do Sinaval, Ariovaldo Rocha, não retornou a ligação. Na segunda, Rocha também comunicou a proposta do Sinaval a Gabrielli.
Executivos do setor avaliam que a concordância do Sinaval de “liberar” a Petrobras para construir as primeiras plataformas de perfuração no exterior, sem exigência de conteúdo nacional, deve-se à dificuldade da indústria brasileira de atender, a curto prazo, a demanda da estatal. Uma das limitações está na falta de capacidade física dos estaleiros, já que a maioria das empresas capacitadas para a obra (são cinco ou seis estaleiros) estão com carteira cheia.
Há também o problema tecnológico pois o Brasil não produz os principais equipamentos das sondas e plataformas de perfuração.
A dificuldade da Petrobras para cumprir os compromissos de perfuração até 2013-2014 aumenta se for considerado que os estaleiros estrangeiros também estão ocupados, o que diminui a oportunidade de encomendas no exterior. Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), afirma que o problema, se não for resolvido, pode atrasar o programa exploratório da Petrobras.
Uma possibilidade seria pagar mais caro para “furar” a fila e antecipar a contratação no exterior.
Fontes da indústria naval dizem que as 12 plataformas a serem construídas no exterior devem ser contratadas pelo modelo tradicional de afretamento. Por este modelo, a Petrobras convida um grupo de empresas a participar da concorrência. As empresas oferecem uma diária para alugar e operar a plataforma. Com o valor da diária, vão ao mercado e contratam um estaleiro para construir a plataforma. Na segunda-feira, Gabrielli disse que o afretamento de plataforma com capacidade de perfurar em profundidades de 2 mil a 3 mil metros de lámina d´água situa-se hoje entre US$ 400 mil a US$ 600 mil por dia.
Uma fonte disse que, segundo rumores de mercado, algumas empresas operadoras nacionais estariam com dificuldade de levantar capital para reservar espaço para a construção dos navios-sonda em estaleiros no exterior.
Esta reserva pode chegar a US$ 10 milhões por unidade, dependendo da relação do afretador com o estaleiro.
Carlos Maurício de Paula Barros, que assume hoje a presidência da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi), avalia que não haverá como fazer os primeiros navios-sonda e plataformas de perfuração no país pela dimensão da encomenda e pelo desafio tecnológico que ela impõe. Ele afirmou que não há no Brasil fabricação dos principais itens deste tipo de plataforma como motores, torres de perfuração e equipamentos de posicionamento dinâmico, que ajudam a manter a plataforma no lugar apesar de ventos e variações de maré.
“A posição mais sensata é que as encomendas das primeiras unidades sejam colocadas onde possa se dar uma resposta”, disse Barros. Uma das principais preocupações da nova diretoria da Abemi é a qualificação de recursos humanos para fazer frente ao volume de investimentos previsto para o país nos próximos anos, incluindo os programas de exploração e produção da Petrobras no pólo do pré-sal. Outra prioridade da Abemi é fortalecer empresas de pequeno e médio porte para permitir que elas participem das oportunidades de investimento que estão surgindo no país.
Autor: Valor Econômico