Falta percorrer um bom caminho ainda. Mas o carro movido a energia elétrica já é um assunto discutido abertamente nos centros de engenharia de algumas montadoras mundo afora. O único senão é saber como os projetistas do setor vão solucionar os problemas de autonomia, abastecimento e desempenho, mesmo contando com o interesse das companhias de energia, que têm estudado a questão do abastecimento a fundo. Um bom exemplo desse crescente interesse vêm da companhia de energia americana AES.
Controladora de distribuidoras e geradoras do insumo nos Estados Unidos e América Latina, a multinacional americana desenhou um programa de pesquisa e desenvolvimento sobre abastecimento de carros e motos elétricas que envolve todas suas filiais. E quem tem disputado a dianteira no assunto entre as subsidiárias é a controlada brasileira Eletropaulo, a maior distribuidora de energia da América Latina.
Max Xavier Lins, diretor de Clientes Corporativos da Eletropaulo, disse ao Valor que a empresa firmou uma parceira com a Universidade de Campinas (Unicamp) para desenvolver medidores de energia elétrica. “Estamos trabalhando nisso desde 2007”, afirma o executivo.
Segundo Xavier Lins, o medidor será responsável pelo carregamento das baterias que vão servir de combustível para movimentar motos e também automóveis. Trocando em miúdos, é quase uma bomba de combustível que ao invés de ter álcool, gasolina ou diesel, terá energia.
É justamente em como encher o tanque no futuro que reside o interesse da maior distribuidora de energia da América Latina. Mesmo ainda não possuindo um desenho comercial pronto para o medidor de energia elétrica, a companhia quer fomentar um novo uso para seus megawatts, cuja demanda no médio prazo poderá sofrer uma queda com o uso cada vez mais responsável do insumo e com o desenvolvimento de equipamentos cada vez mais econômicos.
Com investimento de R$ 800 mil, o diretor da Eletropaulo acredita que o medidor estará pronto tecnologicamente até fevereiro de 2009. E apesar de precisar de muita evolução, o executivo não esconde que o futuro dono de carro ou moto elétrica deverá usar um cartão pré ou pós-pago, que será vendido pela distribuidora ou por um parceiro, para efetuar o abastecimento.
“A segunda fase do projeto, que vai definir a estratégia de negócios do equipamento, só vai sair do papel depois de 2009”, conta, deixando a entender que há uma boa chance de os medidores já começarem a ganhar as ruas de sua área de concessão a partir de 2011. Hoje, a Eletropaulo fornece energia para 24 municípios da região metropolitana de São Paulo, incluindo a capital. São 16,3 milhões de habitantes e 5,7 milhões de unidades consumidoras.
Contudo, como não basta apenas desenvolver o medidor, é preciso testá-lo, a Eletropaulo resolveu recrutar oito lambretas para sua fase experimental. A idéia é que os oito veículos movidos a eletricidade façam serviços internos da distribuidora, como os realizados pelo pessoal do malote ou pela equipe que faz a ronda em algumas unidades operacionais da distribuidora. E a julgar pela forma de abastecimento dessas oito lambretas, dá para se imaginar como o medidor vai funcionar na prática. Segundo a companhia, esses veículos terão uma bateria semelhante à dos carros, mas que serão recarregáveis por meio de tomadas elétricas. E a autonomia individual será perto dos 50 quilômetros, levando-se em consideração uma velocidade média de 40 quilômetros por hora.
O próprio diretor da distribuidora admite que a autonomia é o grande desafio do projeto. Hoje, exemplifica, um tanque de uma moto convencional leva 8 litros e faz ao redor de 200 quilômetros. E a idéia é que o modelo elétrico tenha a mesma capacidade. “Mas para mim, uma autonomia na motocicleta de 100 quilômetros já me deixa satisfeito”, afirma Xavier Lins, descartando que o torque será um fator limitante para o modelo elétrico. “Nossos testes mostraram uma redução perto de 15%”, acrescenta.
Outra questão que também estará à mesa nesta fase do projeto diz respeito ao tempo de abastecimento. Mesmo ainda sendo cedo para fazer qualquer análise, o executivo assegura que isso é alvo dos estudos da Unicamp e também da Eletropaulo.
Agora, se existem desafios, também é verdade que a moto elétrica tem um diferencial econômico considerável. Segundo o diretor da Eletropaulo, uma moto de 125 cilindradas que rode duas horas por dia durante 22 dias úteis vai custar R$ 165,44 para ser abastecido com gasolina. Já o mesmo veículo e em iguais condições demandaria um gasto de R$ 19,25 para ser recarregado por meio do projeto de medidores de energia da distribuidora controlada pela AES.
Autor: Valor Econômico