O Brasil cobrará mais atenção à agrobiodiversidade e biodiversidade florestal na reunião da 9ª Conferência das Partes (COP-9) da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) da ONU, que iniciou nesta segunda-feira (19), em Bonn, na Alemanha. Dentro dessas temáticas estão assuntos polêmicos como biocombustíveis e árvores transgênicas. “O Brasil tem sido um proponente forte no fórum internacional para que esse tema da agrobiodiversidade receba mais atenção”, afirma Bráulio Dias, diretor de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente.
Segundo ele, o Brasil também quer avançar na transversalidade dos temas entre os diversos setores. “Sair daquele nicho de só ficar preocupado com biodiversidade na agenda do setor ambiental e começar a ver e mostrar para a sociedade que biodiversidade é importante, que a nossa vida depende da biodiversidade no nosso dia-a-dia”, argumenta Bráulio.
Ele afirmou ainda que a agricultura deve ser priorizada no debate, pois é o setor que mais impacta e, também, o que mais depende da biodiversidade. “Biocombustíveis e a relação entre agrobiodiversidade e mudanças climáticas estarão no centro das discussões. O governo brasileiro vai organizar um evento paralelo lá só mostrando a experiência brasileira com biocombustíveis, os avanços. Por exemplo, o Brasil não joga mais o vinhoto na água, faz reciclagem, o bagaço é reciclado para produção de energia, nós temos plantio direto, controle biológico de pragas, tem fixação biológica de nitrogênio”, afirmou.
Em relação às mudanças climáticas, Bráulio esclareceu que a discussão vai girar em torno das alterações profundas nos sistemas de plantio e nos locais de cultivo. “Em função da mudança climática vai mudar toda agricultura no mundo. Onde hoje é bom pra cultivar café não vai ser mais no futuro. A agricultura vai ter que migrar e isso vai ter impactos ambientais. Vamos precisar de recursos genéticos para desenvolver novas variedades em novas regiões, então vai ser um grande desafio com problemas e com oportunidades”, acredita.
Biodiversidade florestal é outro tema-chave, com destaque para o desmatamento ilegal e árvores transgênicas. Cada vez mais setores produtivos promovem o desenvolvimento e as plantações de árvores transgênicas para aumentar as matérias primas. Além dos debates que aconteçam em nível oficial entre os diversos governos signatários da CDB, espera-se a chegada à cidade alemã de povos indígenas, organizações e movimentos sociais de diversas partes do mundo que questionam a implantação das árvores transgênicas.
Em relação ao desmatamento ilegal, segundo Bráulio, o que o Itamaraty coloca é que não podemos só olhar a questão da ilegalidade na origem, nós temos que olhar a cadeia toda até o mercado. “Não adianta só cobrar sustentabilidade na produção e não abrir espaço nos mercados para produtos de valor agregado na região de origem que sejam sustentáveis. O produto sustentável é mais caro do que o produto não sustentável e muito mais caro do que o produto de origem ilegal. Sem ter acesso ao mercado e preços melhores não se viabiliza a produção sustentável”, acredita Bráulio.
Em cada edição da conferência é apresentado um conjunto de temas centrais. Para 2008, os temas prioritários são: (i) Agricultura e biodiversidade; (ii) Estratégia global para conservação de espécies de plantas; (iii) espécies invasoras; (iv) biodiversidade florestal; (v) medidas de incentivo; (vi) abordagem ecossistêmica; (vii) progresso na implementação do plano estratégico para atingir as metas de 2010 e das Metas de Desenvolvimento do Milênio; e (iix) recursos e mecanismos financeiros.
Além deles, a COP-9 discutirá com ênfase a implementação da repartição de benefícios; relação entre biodiversidade e mudanças climáticas; conservação de florestas; implementação de uma rede global de áreas protegidas terrestres e marinhas, entre outros.
A conferência sediada em Bonn será o último encontro das partes antes de 2010 – ano base para o qual a comunidade internacional projetou alcançar resultados significativos na redução da perda de biodiversidade. Entre 28 e 30 de maio, acontece o Segmento Ministerial ou de Alto Nível que reúne ministros da maioria dos países participantes para considerar algumas das questões políticas chave na agenda da conferência. O Segmento Ministerial é organizado e presidido pelo governo anfitrião, que também escolhe as questões a serem discutidas. As principais decisões da conferência são esperadas para esse período.
Saiba mais sobre a COP-9 da CDB
O principal instrumento internacional para a conservação da biodiversidade é a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) – um dos três acordos internacionais adotados na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio Janeiro, em 1992. A CDB não é uma convenção tradicional para a proteção das espécies; ela abrange todos os aspectos relacionados à conservação e ao uso sustentável da diversidade biológica em três níveis: habitats, espécies e genes.
Autor: Ministério do Meio Ambiente