Legislações mais duras sobre o uso da água e a escassez do recurso em algumas regiões estão fazendo com que mineradoras na América Latina desenvolvam tecnologias que permitam uso mais racional, além de buscarem fontes hídricas alternativas com custos mais elevados.
A oferta de água se tornou um obstáculo em muitas regiões de mineração ao redor do mundo e, na América Latina, o Chile é um problema à parte, já que muitas das operações de cobre do maior produtor mundial estão localizadas na zona desértica no norte.
O professor da Universidade do Chile Jacques Wiertz, especialista em recursos hídricos na indústria de mineração, diz que os esforços em pesquisa feitos pelas companhias do setor estão focando em engenharia e soluções técnicas que reduzem o consumo de água nas operações e elevam a reutilização.
“O uso eficiente de água e a gestão responsável dos recursos hídricos estão no centro das atenções por parte das mineradoras”, disse Wiertz em entrevista à Reuters.
“E isso é principalmente um problema de custo. Os gastos com operações como desanilização e o tratamento da água para que ela alcance padrões de qualidade exigidos pelas novas regulamentações estão crescendo”.
A maior produtora de cobre do mundo, a estatal chilena Codelco, concorda com o especialista.
“Esse é um desafio crescente para a indústria”, disse Jose Pablo Arellano, presidente-executivo da empresa.
“Nossos esforços se concentram na eficiência do uso e no tratamento dos efluentes. A Codelco já tem assegurado fornecimento de água para suas operações, mas isso não significa que não devamos colocar toda nossa atenção nessa questão”, acrescentou.
Mesmo no Brasil, país que de forma geral possui boa oferta de recursos hídricos, novas legislaçòes elevaram os custos.
“Todo dia aparecem novos projetos que definem um uso mais racional da água”, afirma Rinaldo Mancin, diretor de Assuntos Ambientais do Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração).
Ele disse que o fato de as empresas atualmente terem que pagar mais para usar água de mananciais pesa em alguns projetos.
“Algumas vezes um projeto torna-se inviável. O custo da água pode debilitar a saúde financeira de algumas operações”, afirma, acrescentando que essa situação faz com que empresas incrementem a reutilização.
Segundo ele, 90 por cento das empresas operadas pela Vale reutilizam água. “Já que já está pago, melhor reutilizar o quanto puder”.
Mas isso não evita críticas à mineradora. No mês passado a ONG brasileira Defesa da Vida incluiu a Vale em um ranking das 10 empresas que mais poluem água no Brasil. A mineradora disse que o relatório não possui base científica.
Mineração a seco: um sonho – Wiertz diz que no Chile a principal alternativa no momento é o uso de água do Oceano Pacífico, como tem feito a Antofagasta Minerals na mina Esperanza, no norte do país.
Esperanza vai utilizar cem por cento de água do mar quando começar a operar, em 2010. A empresa controladora construiu um duto de 145 quilômetros para levar a água até a mina, além de estações de desalinização.
Cerro Lindo, nova grande mina no vizinho Peru, opera exclusivamente com água do mar.
“Mas para operações localizadas longe demais do mar e em elevadas altitudes, isso não seria solução”, disse Wiertz, que está coordenando um evento a ser realizado em junho em Santiago sobre a gestão de água na mineração, o WIM2008.
“Mineração a seco continua sendo um sonho e poucas pesquisas têm sido feitas nesse sentido. Água ainda é necessária em quase todos os estágios da mineração”, disse o especialista.
Autor: Estadão Online